2.000.000 de pés serão arrancados, devido ao Greening.

25/10/2008
Normativa deve acelerar a queda de dois milhões de pés de laranja

Três milhões de pés de laranja levaram quatro anos para serem derrubados em São Paulo desde o surgimento do greening em meio ao maior pomar do mundo. Com a Instrução Normativa (IN) de número 53 editada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), as outras duas milhões de árvores que exibem os sintomas da doença no Estado devem ser cortadas em uma velocidade até 75% maior. O cálculo é do gerente científico do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), Juliano Ayres. 'Antes demorávamos até mais de dois meses para arrancar uma árvore quando o problema era avistado, hoje a gente espera gastar menos de 30 dias'.

O que pode aumentar também é a queda de árvores sadias. A nova IN prevê ainda que se 28% de um lote da plantação acusar contaminação, todo ele deve ser derrubado, regra que para o produtor José Osvaldo Junqueira Franco, soa mais como prejuízo, a combate à praga propriamente dito. Segundo ele, 90% das amostradas analisadas podem estar sadias, com apenas algum tipo de deficiência nutritiva. Em um lote podem ser cultivadas até mais de três mil plantas. 'Você corre o risco de ter que erradicar 90 pés perfeitos para eliminar apenas dez doentes'.

Estão estipuladas ainda quatro inspeções anuais a serem realizadas pelo produtor, ao contrário das duas antes exigidas, além de multas de até R$ 5 mil, caso a fiscalização aviste um pé de laranja contaminado. 'E somos nós quem arcamos com todos os custos. Eliminar um talhão inteiro se nem metade dele está contaminada não faz sentido', protesta Junqueira, que cultiva 50 mil pés de laranja na região de bebedouro, e já cortou 9 que apresentavam indícios de contaminação.

Gilberto Tozatti, consultor do Grupo de Consultores em Citrus (GCONCI), calcula que de cada árvore se colhe pelo menos duas caixas da fruta em um único ano. Com uma caixa cotada em média a US$ 4, chegamos a uma perda estimada em pelo menos US$ 16 milhões caso sejam exterminadas dois milhões de pés, isso sem contar as árvores sadias que podem ir parar no chão, se um lote acusar contaminação superior àquela determinada pela normativa.

A Coordenadoria de Defesa Agropecuária, órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, é responsável pela fiscalização do cumprimento da IN. Antes, os técnicos da Defesa faziam uma inspeção amostral com coleta inicial. Uma vez emitido o laudo com resultado positivo, o produtor era notificado e orientado a erradicar a árvore contaminada, o que demandava até três meses de processo. Geyza Pala Ruiz, engenheira agrônoma da CDA e gerente do programa de combate ao greening, argumenta que as novas normas culminam em um fiscalização mais eficiente, pois elimina algumas fases que atrasavam a derrubada da planta. 'A legislação vai nos permitir ter uma ação mais rápida. E o produtor consciente deve cortar a árvore ao menor sinal de contaminação'.

São Paulo é o principal produtor nacional de laranja e dono do maior pomar do mundo, com quase 700 mil hectares cultivados com cerca de 200 milhões de pés. Em 2007, a produção alcançou 368,2 milhões de caixas, cada uma delas com 40,8 quilos. Nesse mesmo ano a produção foi 5% maior que em 2006, e o preço médio pago ao produtor subiu 10,49%. As exportações de suco da fruta paulista totalizaram US$ 2,35 bilhões no ano passado - volume que representa mais de 90% das exportações da bebida brasileira.

A doença, que é a principal de citros em todo o mundo, afeta hoje 195 municípios paulistas, de acordo com a Coordenadoria de Defesa Agropecuária da Secretaria (CDA), e já avançou até os Estados de Minas Gerais e Paraná. Em março de 2004, quando de seu surgimento, a doença atingia apenas 29% das propriedades da região de Araraquara. Dados de um ano atrás indicam que mais de 80% delas já têm greening, além de outras espalhadas pelo Estado. A bactéria causadora da doença é transmitida por um inseto, Diaphorina Citri, de uma planta a outra. Os principais sintomas são ramos amarelados e deformação de frutos, que culminam com a morte total da árvore.

Juliano Ayres defende que a IN 53 é fundamental para enfrentar a principal doença da citricultura mundial, eliminando a planta e o inseto. 'Agora só é necessário colher amostras de 10% das plantas, antes 100% delas deviam ser analisadas, isso agiliza o combate à praga'. Quanto ao percentual estipulado de 28% de contaminação para que um lote seja devastado por completo, ele diz que o número é baseado em pesquisas recentes de institutos renomados. O Fundecitros levantou que em abril o índice de contaminação das 200 milhões de árvores do Estado era de: 0,58%, número que o pesquisador acredita estar agora em 1%. 18,57% dos 100 mil lotes paulistas de laranja têm pelo menos uma planta infectada.

Gilmara Botelho
Gazeta Mercantil