Saída para citricultura exige ação de produtores, industriais e do Governo

19/07/2009

Três ases do estudo da citricultura brasileira se deparam nesta terça-feira, dia 7, num debate importante sobre esta atividade na Comissão de Agricultura da Câmara Federal, em Brasília. Orlando Passos, um baiano professor da Faculdade de Agronomia de Cruz das Almas - UFBA – e referência nordestina na questão citrícola, o citricultor, ex-industrial da área e presidente da Associação Brasileira de Citricultura – Associtros/SP, Flávio Viegas, de São Paulo, e o engenheiro agrônomo sergipano José Trindade.

O convite a Trindade foi feito pelo deputado federal Jerônimo Reis, DEM-SE. “O convidei porque sei das altas competências e do teor de seriedade e de envolvimento de José Trindade para com esta questão”, justifica Jerônimo.

Com 40 anos de formação acadêmica, Trindade é um dos maiores pesquisadores da problemática da citricultura sergipana e brasileira, além de ser um produtor que toca com eficácia duas propriedades rurais modelos no Estado. Ele tem 68 anos e recebe com alegria o convite do evento que acontece às 14h30. Crítico ativo do modelo de produção de laranja em Sergipe, o que dirá Trindade neste encontro?

“Deve dizer a absoluta verdade, nada mais que isso. Não criticar por criticar para atender interesses politiqueiros, mas apontar as ações equivocadas para que as mesmas possam ser corrigidas. E o que seria a absoluta verdade? É a de que o setor é importante, mas vive aviltado por falta de ações mais efetivas, como apoio creditício e sobretudo de pesquisa, que deve vir dos Governos, uma vez que a citricultura tem enorme significado em Sergipe e no Brasil na geração de renda, emprego e riqueza. Mas não isento os produtores de culpa”, diz ele. Veja a seguir entrevista que Trindade concedeu ao Cinformonline.

Cinformonline - Como é que o senhor recebe o convite da Câmara Federal para a Audiência Pública na Comissão de Agricultura?

José Trindade - Com orgulho e satisfação do reconhecimento da Câmera Federal, por perceber que tenho mérito para falar sobre um assunto tão complexo que é a crise da citricultura brasileira, e em especial a de Sergipe. Fico agradecido também ao deputado Jerônimo Reis por minha indicação. 

Cinformonline - Qual a importância dos dois demais participantes, Orlando Passos e Flávio Viegas?

JT - O Dr. Orlando Passos é um profundo conhecedor da citricultura no Brasil e no mundo, sendo assim um dos ícones da citricultura brasileira. Ele foi o grande responsável por respaldar o desenvolvimento tecnológico da citricultura da Bahia e Sergipe nas décadas de 70 e 80, participando da instalação da Estação Experimental de Boquim através do apoio do IPEAL–MA. O Dr. Flávio Viegas, o atual presidente da Asscocitros/SP, é um técnico com vasto conhecimento nos setores da produção e da indústria.

Cinformonline - A uma plateia realmente interessada na problemática da citricultura, um palestrante sério e comprometido deve dizer o que?

JT – Deve dizer a absoluta verdade, nada mais que isso. Não criticar por criticar para atender interesses politiqueiros, mas apontar as ações equivocadas para que as mesmas possam ser corrigidas. E o que seria a absoluta verdade? É a de que o setor é importante, mas vive aviltado por falta de ações mais efetivas, como apoio creditício e sobretudo de pesquisa, que deve vir dos Governos, uma vez que a citricultura tem enorme significado em Sergipe e no Brasil na geração de renda, emprego e riqueza. Mas eu não isento os produtores de culpa.

CINFORM - Uma classe produtora, um setor empresarial e um Governo comprometidos que ouvissem este relato deveria agir de que forma?

JT – Deveriam agir no sentido de uma maior interação tripartite. Como assim? Classe produtora se compenetrando de que ela tem sua falha, e se fazer mais profissional, classista e cooperativista; o setor empresarial de sucos estabelecendo relações mais ativas no crédito e nos preços aos produtores, e Governo assumindo a sua responsabilidade de provedor de financiamento mais subsidiado e de tecnologia. Sobretudo nesta parte, a da tecnologia, está o nosso maior embargo, a nossa maior carência. Direi muito destas três coisas em minha participação.

Cinformonline - Se o senhor tivesse 20 anos, necessidade de abrir caminhos existenciais pelo trabalho, sonho e capital começaria hoje na atividade citrícola?

JT - Com certeza. A minha vida está umbilicalmente ligada à citricultura, seja como engenheiro agrônomo, seja como produtor. Não consigo me ver dissociado desta área, desta atividade. E no mais, o Brasil e em especial o Estado de Sergipe, reúnem condições de solo e clima favoráveis para se fazer uma citricultura competitiva no mercado mundial. É por isso que luto, é com isso que sonho.

Cinformonline - Remunera o quê vender à indústria uma tonelada de laranja por R$ 100?

JT - Não remunera nada. Ajuda, sim, a crescer o endividamento do citricultor, que já é elevado.

Fonte:Cinform