Citricultores: criminosos ou vitimas

11/10/2011
Recentemente um pequeno produtor que para tentar sobreviver com os baixos preços recebidos pela laranja, transporta e entrega sua produção, desesperado com as dificuldades criadas pela indústria, trancou e abandonou o seu caminhão numa das rampas de descarga da fabrica e voltou para seu sitio disposto a entregar sua produção em outra fábrica a preço mais baixo.

Ao tomarmos conhecimento do fato orientamos o produtor a rever sua posição e voltar a entregar a fruta para a empresa contratante e denunciar qualquer abuso pois sabemos que as esmagadoras estão, intencionalmente, desrespeitando e provocando os produtores para que eles caiam nesta armadilha, um dos expedientes para levar o produtor ao desespero e tomar decisões insensatas como a descrita acima e dar motivo para que sejam acionados e através deste ardil a indústria quer “provar” a existência de concorrência e se safar da condenação por formação de cartel.

A maioria dos casos de descumprimento de contrato são causados pela impossibilidade econômica de cumprir o contrato, assim o produtor desesperado, pressionado pelas dividas, e sem encontrar guarida no sistema judiciário, que tem sistematicamente dado ganho de causa para a indústria, e tem julgado os casos contra os produtores com uma celeridade inusitada para a nossa justiça, age insensatamente e procura a outra empresa do cartel que espertamente se propõe a receber a fruta do “concorrente”. Isto explica as ações contra pequenos produtores, sem condições financeiras para se defenderem e sem recursos para indenizar as industrias, pois o que eles buscam na realidade é através destas ações , de um maneira maquiavélica, inverter os papeis, os algozes passam a vitimas e as vitimas a criminosos!!

Recentemente fomos contatados por um outro produtor que em virtude da quebra de produção na safra passada devido a fatores climáticos, estava sendo acionado pela indústria que se negava a aceitar a complementação da entrega nesta safra e cobrava uma multa contratual de R$ 150 mil!

Nesta safra em virtude da recuperação da produção e dos preços mais altos dos contratos realizados na safra passada, as esmagadoras estão, a pretexto da “enorme superprodução” retardando as colheitas e provocando enormes prejuízos aos produtores levando-os a cair na armadilha do descumprimento de contrato, muitas vezes aceitando preços mais baixos na esperança de evitar a perda total de sua produção.

Ao retardar as colheitas e dar preferencia às frutas de pomares próprios e de alguns produtores privilegiados, os demais produtores incorrem em perda de produção em decorrência da queda e perda de peso da fruta, dos maiores custos de colheita e frete que custam em media R$4,00 e que podem ser aumentado em mais de 50% em função da queda de produtividade dos colhedores e dos transportadores, que tendo sua produção limitada pelas cotas da indústria exigem, muito justamente, o pagamento da perda de produtividade.

Os dados da Secretaria da Agricultura demonstrando que nesta safra, apesar do crescimento da produção de quase 18% o numero de pessoas empregadas no setor foi reduzido em 30%, comprovando que a indústria não está liberando as colheitas dos produtores independentes. É hora da SDE, que investiga o cartel, vir constatar a continuidade da atuação predatória das empresas investigadas.


Fonte: Flávio Viegas
Presidente da Associtrus