Agricultores de China, Índia e Brasil ganham com fim de cartel de potássio



26/08/2013

Por Rajendra Jadhav e Lucy Hornby

MUMBAI/PEQUIM, 31 Jul (Reuters) - Agricultores da China, Índia e Brasil serão os grandes beneficiários do fim de um dos dois grandes cartéis globais da indústria de potássio, ingrediente de fertilizantes fundamentais para importantes países produtores de alimentos do mundo.

A saída da russa Uralkali da joint venture Belarus Potash Company (BPC), anunciada na terça-feira, abre caminho para os consumidores exigirem reduções de preços de potássio substanciais, na avaliação de representantes do setor.

China e Índia respondem por cerca de 30 por cento da demanda global de potássio, e tinham sido forçados a engolir os altos preços por uma década em um mercado dominado pela BPC, integrada pela Uralkali, e pela Canpotex, da América do Norte.

Assim como Índia e China, o Brasil é um grande importador de potássio, comprando no exterior cerca de 90 por cento do insumo para a produção de fertilizante.

A Uralkali terminou a sua joint venture com Belaruskali na terça-feira, citando um impasse sobre as vendas e disse que iria exportar por meio sua trading com sede na Suíça.

Companhias estatais chinesas realizaram reuniões de emergência na quarta-feira para discutir o assunto, que vem à tona antes de negociações do contrato deste ano esperadas para o próximo mês.

"Isso vai acabar afetando preço... isso fortalece a nossa mão na próxima rodada de negociações de preços", disse Xuan Kong, diretor de relações com investidores da Sinofert, o maior distribuidor de fertilizante da China.

Os preços do potássio podem cair em até 25 por cento este ano, disse a Uralkali na terça-feira, para cerca de 300 dólares por tonelada, em função do aumento da competição.

A empresa russa agora planeja aumentar a produção em uma tentativa de aumentar as vendas para a Índia, o Brasil e a China.

"(Uralkali) jogou uma bomba dizendo que os preços vão cair para 300 dólares por tonelada", disse um alto executivo de uma empresa de fertilizantes indiana, recusando-se a ser identificado.

Índia, China e Brasil estão entre os maiores produtores de grãos do mundo, e entre os maiores produtores de cana e oleaginosas.

A Índia tem de importar todo o potássio que consome, enquanto a China importa cerca de metade de suas necessidades anuais de 10-11 milhões de toneladas.

O foco da Uralkali em volumes deixará aos proprietários da Canpotex --Potash, Mosaic e Agrium Inc--, da América do Norte, com pouca escolha, segundo fontes ouvidas pela Reuters.

A BPC e a Canpotex, responsáveis por quase 70 por cento das vendas globais de potássio, não tinham escrúpulos em desligar unidades quando os compradores endureciam as negociações.

Os preços do potássio subiram seis vezes, de 2003 a 2008, sendo negociados acima de 1.000 dólares por tonelada em certo momento, em relação aos custos de produção de cerca de 60 dólares por tonelada para a Uralkali.

A China tem pago cerca de 400 dólares por tonelada pelo produto enviado por mar em 2013 e cerca de 350 dólares por tonelada pelo potássio transportado por ferrovia, que é o método de transporte habitual para Uralkali.

BRASIL NA EXPECTATIVA

O Brasil, que importa cerca de 90 por cento de sua demanda de potássio --um dos três insumos utilizados na formulação NPK (sigla em inglês para nitrogênio, fósforo e potássio)-- está na expectativa sobre o que ocorrerá com os preços globais.

Com o Brasil se preparando para cultivar uma área recorde com soja na próxima temporada, a perspectiva é de demanda crescente pelo insumo.

Para Carlos Florence, diretor-executivo da Associação dos Misturadores de Adubos do Brasil (AMA-Brasil), se ocorrer uma redução no preço global, os agricultores brasileiros devem ser beneficiados.

"Tudo isso é muita especulação... É possível que eles venham a disputar o mercado, antes tinha um fornecedor só (de potássio) e agora tem dois... É possível que isso reduza o preço do potássio no mercado internacional. O quanto isso vai acontecer, é cedo para falar", declarou ele à Reuters, admitindo que o movimento externo deve ter repercussão no Brasil.

Na opinião de Florence, a afirmação da empresa russa sobre uma queda nos preços por aumento de competição entre vendedores tem, no momento, mais um efeito psicológico no mercado, uma vez que os grandes importadores estão relativamente bem abastecidos.

A China, por exemplo, disse ele, só precisará realizar grandes compras mais para frente neste ano.

As vendas de fertilizantes no Brasil atingiram volume recorde de 12,15 milhões de toneladas no primeiro semestre deste ano, segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda).

As vendas de fertilizantes potássicos tiveram alta de 2,8 por cento nos primeiros seis meses do ano, passando para 1,9 milhão de toneladas.

(Reportagem adicional de Roberto Samora, em São Paulo; Sonali Paul, em Melbourne; Niluksi Koswanage, em Kuala Lumpur; Jo Winterbottom, em Nova Délhi; Tradução e edição de Gustavo Bonato)