10/08/2008
A sa?da ? diversificar e n?o jogar tudo na agricultura. O que depende, por sua vez, de c?mbio melhor, juros menores
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A MAIS inquietante li??o do fracasso de Genebra foi a revela??o de como s?o poucos os interessados na genu?na liberaliza??o do com?rcio agr?cola. O segundo ensinamento ? que as dificuldades ser?o ainda maiores em ?mbito bilateral ou regional, n?o existindo alternativa satisfat?ria para f?rum de 153 pa?ses como a OMC (Organiza??o Mundial do Com?rcio).
A soma dessas duas parcelas ? que economias como a brasileira, cujas vantagens comparativas se concentram em pequeno n?mero de produtos agr?colas, ter?o op?es cada vez mais limitadas para sua estrat?gia comercial.
Nada ilustra melhor essas verdades do que o impasse respons?vel pelo fiasco final. De um lado, os EUA, cuja posi??o s? pode ser qualificada de c?nica: querem manter o dobro dos subs?dios efetivamente utilizados e, ao mesmo tempo, obrigar os asi?ticos a abrirem os mercados para produ??o subvencionada e desleal, que liquidar? a agricultura interna.
Do outro lado, a ?ndia e a China.
Tomam carona na abertura dos demais a suas manufaturas e seus servi?os para serem os campe?es mundiais do crescimento. Nem por isso abrem o mercado agr?cola at? para "aliados" como o Brasil, que j? se abriram ? ind?stria chinesa e aos servi?os indianos e n?o usam subs?dios.
Os europeus, que nunca tiveram interesse sincero pelo ?xito de uma negocia??o concentrada na agricultura, vertem l?grimas de crocodilo para disfar?ar a satisfa??o de terem deixado a outros a culpa pela ruptura.
As ?ltimas tr?s leis agr?colas americanas fizeram com que os EUA passassem de advogados da abertura agr?cola a praticantes do pior tipo de subs?dio, o ligado ao volume da produ??o. Com isso, na pr?tica, todas as economias avan?adas -EUA, Europa, Jap?o, Cor?ia do Sul, Noruega, Su??a- militam contra a liberaliza??o.
Como nenhuma negocia??o triunfa sem o impulso de um pa?s hegem?nico, ? duvidoso que essa muralha de defesa deixe passar algo de significativo.
Ainda mais quando, do lado dos subdesenvolvidos, a press?o ?, no m?nimo, amb?gua. Ser? talvez exagero o apoio de cem pa?ses alegado pelo ministro do Com?rcio da ?ndia para a prote??o da agricultura dom?stica. N?o andar? longe disso, por?m, pois, at? na Am?rica Latina, o M?xico, os caribenhos, a Venezuela pouco t?m a ganhar com as exporta?es agr?colas.
O que sobra ? um punhado de gente: Brasil, Austr?lia, Nova Zel?ndia, alguns latino-americanos.
At? a Argentina, antes campe? da causa, est? hoje empenhada em n?o p?r em risco sua "reindustrializa??o". ? muito pouco para resultado ambicioso.
Tentar o bilateral ou o regional tampouco resolve. Amarrado numa uni?o aduaneira com a Argentina, o Brasil ter? o mesmo problema que teve em Genebra para flexibilizar concess?es industriais. Ainda que o consiga, a experi?ncia do acordo de livre com?rcio da Austr?lia com os Estados Unidos mostra que ser?o exclu?dos os produtos do nosso interesse: a?car, ?lcool, suco de laranja, carnes.
A sa?da ? diversificar e n?o jogar tudo na agricultura. O que depende, por sua vez, de c?mbio melhor e de condi?es macroecon?micas para melhorar a capacidade de oferta: juros e impostos menores, redu??o dos custos de transa??o, melhoria da infra-estrutura de servi?os. Sem isso, n?o existe, a curto prazo, alternativa para as negocia?es da Organiza??o Mundial do Com?rcio.
RUBENS RICUPERO , 71, diretor da Faculdade de Economia da Faap e do Instituto Fernand Braudel de S?o Paulo, foi secret?rio-geral da Unctad (Confer?ncia das Na?es Unidas sobre Com?rcio e Desenvolvimento) e ministro da Fazenda (governo Itamar Franco). Escreve quinzenalmente, aos domingos, nesta coluna.
