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Produtores endividados e associaes

16/09/2009

Mauro de Rezende Lopes

O individualismo no meio rural tem sido um problema na agricultura brasileira. Impede a forma??o de associa?es, cons?rcios e condom?nios agr?rios, cooperativas para obter a redu??o de pre?os de insumos e para a venda de produtos. Isso ? t?o ?bvio que dispensa coment?rios. Endividados, os produtores n?o t?m acesso a cr?dito. Mas, associados, ? poss?vel levantar recursos para comprar insumos com desconto. Melhor: podem vender em grupo, formando lotes maiores e ganhando um pouco mais.

Para entendermos bem o que passa na "cabe?a" dos produtores nas comunidades do agroneg?cio, conduzimos uma pesquisa com cerca de 150 produtores e dirigentes dos elos das cadeias do agroneg?cio, por meio da aplica??o de um question?rio para identificar os fatores que facilitam e os que dificultam as associa?es e parcerias entre produtores.

No question?rio, pedimos que os entrevistados dessem uma nota de 1 a 10 - 1, para a import?ncia menor desses fatores, e 10, para a import?ncia maior. Os entrevistados deram notas de acordo com a percep??o que tinham desses fatores dentro das comunidades onde viviam. Participaram da pesquisa dirigentes do agroneg?cio de v?rios Estados do Pa?s.

Os resultados sobre os fatores que facilitam a associa??o de neg?cios nas comunidades do agro brasileiro (com as respectivas m?dias das notas entre par?ntesis) indicam que os membros da comunidade de neg?cios: n?o t?m dificuldade de encontrar parceiros (8,04); n?o t?m comportamento individualista ou isolacionista e se associam frequentemente (7,89); t?m a capacidade de antever um novo neg?cio que exigir? esfor?o, mas ? poss?vel alinh?-lo com as suas habilidades (7,93); t?m poder de influ?ncia sobre a comunidade de neg?cios na regi?o (7,52); n?o s? percebem oportunidades, mas tamb?m agem para aproveit?-las (8,11); n?o est?o na "?rea de conforto" ou "n?o ligam o piloto autom?tico" (8,30); e ouvem outros empres?rios e parceiros com a mente aberta (8,07). Al?m de surpreenderem por aspectos tais como o que dizem aos potenciais parceiros - "se voc? iniciar um neg?cio, quero que me inclua" (7,67) - e por manterem sempre na mem?ria as vezes em que foram bem-sucedidos nas parcerias (7,56).

Os fatores mais importantes que dificultam o associativismo, dentro das caracter?sticas dos membros das comunidades do agro brasileiro, foram: n?o t?m condi??o de fazer uma an?lise de riscos competente no projeto (8,19); n?o acreditam que um bom projeto viabilize recursos, acham que o recurso ? que faz o projeto, e n?o o projeto que faz o recurso (7,85); receiam o risco de falta de uniformidade de pontos de vista entre os parceiros (7,07); n?o buscam novas oportunidades de neg?cios; est?o ? vontade com o empreendimento atual (7,05); acreditam que n?o t?m seguran?a financeira para um novo neg?cio; e n?o valorizam rela?es empresariais, mas sim rela?es com o governo, na ideia de que s? o "governo salva" (7,56).

A conclus?o a que se chega ? de que ? preciso trabalhar esses fatores. Identific?-los ? importante para saber por onde come?ar o trabalho de prepara??o dos produtores para arranjos societ?rios entre seus pares. O associativismo de resultado j? est? aparecendo no meio rural.

H? neste meio v?rios grupos de produtores endividados que se associaram para criar uma pequena cooperativa e obter redu??o de custos. Existem pelo menos tr?s no Estado de Goi?s e mais alguns nos Estados do Sul. H? um grupo muito bem-sucedido em Goi?s, em que os produtores endividados se associaram. Os l?deres levaram cerca de quatro anos para convencer os vizinhos de tr?s cidades pr?ximas a trabalharem construtivamente suas diferen?as. O come?o foi bastante dif?cil. Hoje, uma pequena cooperativa soma 14 n?cleos de 2 a 3 produtores e seus s?cios que compram em conjunto. O grupo logrou obter redu?es da ordem de 5% a 12% nos pre?os dos fertilizantes e defensivos. Com o tempo, conseguiram redu?es muito elevadas, depois de a cooperativa se associar a uma grande cooperativa. As redu?es de pre?os atingiram 15% em defensivos e 20% em fertilizantes.

Em viagem ao interior, vimos que os produtores est?o mudando sua maneira de pensar. Alguns depoimentos demonstram isso: "O que podemos fazer juntos que ? melhor do que separados?"; "A minha prosperidade depende da prosperidade do meu vizinho"; e "O meu problema est? da porteira da fazenda para fora: eu tenho que me associar." As coisas est?o mudando.

*Mauro de Rezende Lopes
? pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia, da FGV
E-mail: mrlopes@fgv.br


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