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Indstria e produtores de laranja: condenados ao entendimento

21/09/2009

A citricultura segue amargando um momento complicado. As dificuldades crescentes dos ?ltimos tr?s ou quatro anos sequer tiveram liga??o direta com a crise econ?mica internacional, por um simples motivo: a crise no setor j? era suficientemente s?ria e foi apenas agravada por fatores como a maior queda de demanda internacional e fortalecimento do real. Os pontos centrais que afetam a produ??o de laranja, o processamento e a exporta??o de suco continuam os mesmos do per?odo pr?-crise. Por um lado, a queda nas vendas externas encolheu o mercado, derrubou os pre?os e o faturamento do setor caiu mais de 25%. Por outro, persiste o desentendimento entre produtores independentes e ind?stria, principalmente por falta de um modelo regulador dos pre?os pagos pela laranja. Em meio a esse panorama desalentador ainda existe a greening, a praga mais devastadora vista nos pomares nas ?ltimas d?cadas. E, para piorar, uma profunda desconfian?a entre as partes.

Est? claro, portanto, que produtores e ind?stria t?m dois problemas grav?ssimos em comum, que poder?amos chamar de ?inimigos externos?: a queda da demanda e a greening. Se o combate ? praga j? cria in?meras dificuldades e exige investimentos, disciplina e tecnologia, enfrentar o mercado recessivo e inst?vel e abrir novos mercados ? uma tarefa cont?nua e ?rdua, que depende da din?mica da produ??o, de planejamento das safras e, principalmente, de entendimento na cadeia produtiva. ? a ?nica forma de o setor n?o depender das cat?strofes que dizimaram os laranjais da Fl?rida, como aconteceu algumas vezes nesta d?cada, para ter seu produto valorizado no exterior.

Em fevereiro de 2005 ? j? se v?o quatro anos e meio -, a Tribuna mostrava neste espa?o editorial as vantagens que o segmento citr?cola teria caso adotasse uma agenda comum, objetiva e positiva. A ideia era tirar do centro das discuss?es o assunto dos pre?os da laranja, trazendo para o setor mecanismo semelhante ao da produ??o de cana, com pagamento equilibrado para os produtores e a cria??o de um sistema no qual quando um lado lucrava, todos lucravam, da mesma forma que em ?poca de recess?o seria preciso dividir os preju?zos. Na ?poca, Abecitrus, que representava a ind?stria, e Associtrus, pelo lado dos produtores, tinham contencioso t?o alto e relacionamento t?o ruim que n?o foi poss?vel se entenderem. Ao contr?rio, a situa??o deteriorou conforme a crise de mercado se agravava, a ponto de n?o haver mais condi?es de di?logo.

Agora, a possibilidade de uma solu??o de consenso reaparece com a entrada em cena da CitrusBR, a associa??o dos exportadores de suco que, na pr?tica, substitui a Abecitrus. Em entrevista publicada nesta edi??o, Christian Lohbauer, o qualificado e experiente presidente da CitrusBR, reconhece as cicatrizes que ficaram pelo caminho, as mazelas de lado a lado, mas abre uma porta para o entendimento. Prop?e a discuss?o de um relacionamento nos moldes do existente na cadeia produtiva da cana. Lohbauer ? bem claro: a ind?stria s? n?o aceita pre?o m?nimo, mas tem que admitir que ? preciso trabalhar com um modelo de pre?o para a laranja, o que n?o ocorre hoje em dia.

Superado este ponto, uma agenda comum e positiva poderia incluir ainda metas j? sugeridas nos raros encontros entre representantes das ind?strias e produtores nos ?ltimos anos, mas nunca levadas adiante: organiza??o e disponibiliza??o de informa?es corretas, a?es de desenvolvimento do mercado interno, uma vez que hoje 98% da produ??o de suco ? exportada, e uma maior participa??o do setor produtivo nas decis?es do Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura), um ?rg?o com participa??o direta nas pesquisas que levam ao combate das principais doen?as e aumento de produtividade agr?cola dos pomares do Estado.

Se a op??o neste momento dif?cil for mesmo pela harmonia e pelo equil?brio, produtores e ind?stria v?o se descobrir parceiros e n?o inimigos dentro da mesma cadeia produtiva. E que est?o condenados ao entendimento. Para a economia de nossa regi?o e para o bem de um setor t?o importante no contexto do agroneg?cio nacional, seria a melhor not?cia poss?vel.

Tribuna Impressa- 20/9/2009


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