Celso Ming,

O presidente da Fran?a, Nicolas Sarkozy, est? defendendo a ado??o de um novo padr?o para medir o desempenho da economia. Em vez de comparar tudo com o Produto Interno Bruto (PIB), que corresponde ? renda nacional, quer que prevale?a o conceito de Felicidade Interna Bruta (FIB).

A ideia ? incorporar aos padr?es produtivos valores de vida, como tempo de lazer, qualidade ambiental, desfrute de valores culturais, transporte confort?vel e aposentadoria saud?vel.

Conceituar e medir tudo isso n?o ? f?cil porque pressup?e a ado??o de valores nem sempre aceitos universalmente, como liberdade, harmonia com a natureza, respeito ?s ideias e ? religi?o dos outros e coisas assim.

O primeiro a sugerir o conceito de FIB, em 1972, foi Jigme Singye Wangchuck (veja foto), ent?o rei do But?o, territ?rio incrustado na long?nqua cordilheira do Himalaia, com 600 mil habitantes, o equivalente ? cidade paulista de S?o Jos? dos Campos.

Para o rei Jigme, hoje com 53 anos, o pa?s n?o deve apenas perseguir prosperidade. Essa prosperidade, dizia, tem de ser partilhada, tem de considerar a preserva??o das tradi?es do povo, que dever? contar com um governo justo, moderno e responsivo.

? uma atitude que tem a ver com as tradi?es budistas que encontraram repercuss?o nos ocidentais cansados de correr atr?s de riquezas vazias. Em 2006, o rei Jigme abdicou em nome de seu filho, hoje com 29 anos.

Embora o But?o continue apresentando uma das rendas per capita mais baixas do Planeta, de US$ 1,9 mil, a expectativa de vida entre 1984 e 2005 cresceu de 47 para 66 anos, o que n?o deixa de ser um indicador de melhora da qualidade de vida.

De 1972 para c?, antrop?logos, soci?logos, religiosos, fil?sofos, pol?ticos e economistas t?m debatido a aplica??o do princ?pio, formas de medi-lo e que peso dar a cada item. Aparentemente, os resultados n?o s?o grande coisa. Sem ter conhecido a proposta do rei Jigme, o economista brit?nico E. F. Schumacher sugeriu algo nessa linha no livro Small is Beautiful, contra o agigantamento das corpora?es ocidentais.

Na edi??o de ontem, o Wall Street Journal sugeriu que a proposta de Sarkozy tem a ver com o fato de que a Fran?a ficou para tr?s no processo de crescimento econ?mico e que agora tenta compensar o baixo desempenho com valores supostamente mais importantes - como o coelho deve ter dito ? tartaruga na competi??o entre a bicharada: "Cheguei depois, mas cheguei descansado e, portanto, mais feliz."

Os franceses parecem apostar na ideia de que trabalhar menos ? ind?cio de felicidade e talvez por isso venham tentando implantar a jornada de 35 horas semanais. O Wall Street lembra que o economista Edward Prescott j? se perguntou "por que os americanos trabalham mais do que os europeus", e a resposta foi que os europeus est?o pendurados nas vantagens garantidas pelo Estado do bem-estar social. ? o sistema que d? a sensa??o de que n?o vale a pena trabalhar mais, pois o governo leva quase tudo em impostos. Mas a cr?tica tem um ran?o ideol?gico. Baseia-se na ideia de que o sistema neoliberal ? melhor do que a social-democracia.

O fato ? que n?o faz sentido defender a economia e a pol?tica de crescimento econ?mico se o aumento de riqueza n?o puder ser partilhado e desfrutado pela popula??o.

celso.ming@grupoestado.com.br

O Estado de S Paulo 30/9/2009