Folha de S?o Paulo

K?TIA ABREU

Os produtores de alimentos e a milit?ncia ambientalista n?o s?o incompat?veis e podem ser for?as solid?rias se desfeitas as desconfian?as

S?o Paulo, segunda-feira, 19 de outubro de 2009

OS PRODUTORES de alimentos e a milit?ncia ambientalista n?o s?o incompat?veis e podem ser for?as solid?rias se forem desfeitas, ponto a ponto, as desconfian?as que nos separam.
Considero perfeitamente poss?vel que os dois lados firmem compromisso essencial de preserva??o dos recursos naturais sem preju?zos ? seguran?a alimentar do pa?s. De minha parte, insisto na proposta: que o primeiro de todos os compromissos seja o "desmatamento zero nas florestas".
Defendo a puni??o severa para quem desmatar floresta nativa na Amaz?nia e na mata atl?ntica. Acredito que o Brasil pode assumir esse compromisso radical em dezembro, na c?pula do meio ambiente de Copenhague, que se reunir? para definir o novo acordo que substituir? o Protocolo de Kyoto.
Para a agropecu?ria brasileira, comprometida com a quest?o ambiental e interessada no financiamento da redu??o das emiss?es de CO2, o governo brasileiro n?o tem que hesitar ou precaver-se. N?o. Va mos mesmo para o desmatamento zero, sem arreglo. O pa?s disp?e de terras, em processo de produ??o e com reservas para a expans?o poss?vel, suficientes para manter o abastecimento interno e exportar.
O que falta, e disso est? ciente a opini?o p?blica internacional -como se viu em Nova York, no m?s de setembro, na rodada de manifesta?es de chefes de Estado que participaram da abertura da Assembleia da ONU-, ? o estabelecimento de compensa?es aos produtores pela preserva??o das ?reas de cobertura florestal sob sua responsabilidade.
Esse apelo justo e amplamente reconhecido ? devido a quem paga um pre?o alto deixando de explorar suas propriedades, enquanto outros obt?m lucros e poder emitindo gases, especialmente o CO2, causadores do efeito estufa que amea?a o equil?brio do planeta.
No plano interno, ? preciso consolidar as ?reas atuais de produ??o -um direito l?quido e certo, pois foram incorporadas ao uso da agropecu?ria antes que fossem estabelecidas as atuais rest ri?es. N?o h? sentido nas den?ncias demag?gicas e vagas que amea?am a produ??o de trigo, arroz, milho, carne e frutas.
Em 40 anos, o peso do pre?o dos alimentos no or?amento das fam?lias brasileiras caiu de 48% para 18% e pode cair ainda mais, chegando brevemente a apenas 12%, dependendo da melhoria das condi?es de transporte (estradas, ferrovias e portos) e da desonera??o dos impostos na cadeia de alimentos.
At? mesmo quest?es aparentemente pol?micas -como as chamadas APPs (?reas de preserva??o permanente) das margens de rios, encostas e topos de morro ou ?reas sens?veis, que devem ser reflorestadas- podem ser resolvidas mediante a arbitragem insuspeita e precisa da ci?ncia, cujos crit?rios e instrumentos (mapas pedol?gicos e levantamentos altim?tricos, entre outros) prescindem de opini?es apaixonadas ou leigas e podem ser aplicados regionalmente por legisla??o estadual.
Regras claras, realistas e permanentes, que reconhe?am os avan?os de produ??o e de produtivid ade conquistados pela agricultura e que j? n?o podem regredir, sob pena de aumento no pre?o dos alimentos e de queda das exporta?es, s?o essenciais ao entendimento. Vamos reconhecer e reparar nossos erros com humildade e racionalidade.
A quem mais do que ? agropecu?ria as mudan?as clim?ticas afetam decisivamente a ponto de levar ? inviabilidade? Seriam os agricultores suicidas? Ou, por acaso, h? setor econ?mico -ou qualquer outra atividade produtiva- que mais dependa da ?gua e da terra do que a agropecu?ria? Seria justo com o Brasil importar alimentos de pa?ses que n?o t?m leis ambientais claras e que j? dizimaram todas as suas florestas?

K?TIA ABREU ? senadora da Rep?blica pelo DEM-TO e presidente da CNA (Confedera??o da Agricultura e Pecu?ria do Brasil).