26/05/2010 Terra Magazine
H? pouco mais de 20 anos, costumava ver a
cidade de It?polis, em S?o Paulo, com olhos esperan?osos. Trabalhando na ?rea
comercial de uma empresa de adubos, eu podia ter certeza de cumprir as metas de
vendas para a cultura na regi?o. Na ?poca, a cidade tinha o t?tulo de maior
produtora de laranja do mundo.
Na semana passada, visitando a cidade,
distante 365 km da capital, a coluna constatou, com tristeza, pontos que as
estat?sticas escondem, mas seus habitantes n?o.
O estado ainda participa
com quase 80% da produ??o nacional de citros. It?polis ainda ? uma grande
produtora. Em 2008, o IBGE, em Produ??o Agr?cola Municipal, apontou uma ?rea
colhida de 26.000 hectares de laranja no munic?pio, superada apenas por Rio
Real, na Bahia. A produ??o, 469.000 toneladas da fruta, ficou abaixo da cidade
baiana e de Agua? (SP) e Casa Branca (SP). At? a?, nenhum desastre fora a perda
do t?tulo honroso. A produtividade - quantidade produzida por hectare -, no
entanto, perdeu para 15 munic?pios.
Muitos "causos" contam para tal
virada. Pre?os, estiagem, avan?o da cana-de-a?car, pragas e doen?as, como o
"greening", doen?a de origem bacteriana e sem controle eficaz at? agora. Nada,
enfim, que agricultores n?o saibam enfrentar. Mas n?o ? s?.
Em It?polis,
e outras cidades do universo citricultor de S?o Paulo, as lavouras se originaram
e assim permaneceram por um bom tempo, de pequenos produtores, 70% deles donos
de pomares menores do que 50 hectares.
? justamente esse o quadro que
est? sendo destru?do. Assim como a cultura, gradativamente, vai se deslocando
para outras regi?es - Bahia, norte do Paran?, Tri?ngulo Mineiro - o citricultor
tradicional, outrora s?lido, vai se desmanchando no ar.
De propriet?rios
a arrendat?rios das grandes empresas esmagadoras; do cultivo de pomares ao
plantio de cana, ainda como arrendat?rios; e se nem isso, passam a encarar as
olericultura e horticultura. Frut?feras e apicultura, tamb?m valem.
Mais
do que os per?odos de clima adverso e os altos custos de aduba??o e controle
fitossanit?rio, obst?culos sempre vencidos, a impossibilidade de um com?rcio
justo para a sua produ??o ? que os est? deslocando da sobreviv?ncia.
Assunto que j? foi tratado aqui, de forma desesperan?ada, quando se
exp?s que as concentra??o e verticaliza??o, em m?os de quatro grandes grupos
industriais - Cutrale, Citrosuco (Fischer), Citrovita (Votorantim) e Louis
Dreyfus - impunham pre?os e cl?usulas contratuais que esgoelavam o citricultor.
E otimista, quando se via avan?arem investiga?es que poderiam comprovar a
exist?ncia de um cartel no setor. O processo na Justi?a, com documentos
apreendidos pela Pol?cia Federal, em 2006, ainda n?o foi a julgamento.
Mas tudo pode piorar. Para as empresas ainda ? muito baixo o grau da
concentra??o do setor. Em um processo que caracteriza a fase atual do
capitalismo brasileiro, querem mais, e Citrosuco e Citrovita pleiteiam ao CADE,
Conselho Administrativo de Defesa Econ?mica, a sua fus?o. O esmagamento, no
sentido industrial e humano, seria comandado n?o mais por quatro grandes grupos,
mas tr?s.
Para a advogada da Citrovita, Giani Nunes de Ara?jo,
mencionada em mat?ria de Juliano Basile, no "Valor", de 21/05, as empresas
"querem reduzir custos, ganhar efici?ncia e ser mais competitivas no mercado
mundial". Muito justo, mas talvez por esquecimento nada foi dito sobre
transferir algo desse ganho para o citricultor.
A nova empresa
resultante da fus?o se tornar? l?der mundial na produ??o de suco de laranja.
T?tulo que It?polis n?o tem mais.
Rui Daher ? administrador de empresas,
consultor da Biocampo Desenvolvimento Agr?cola.
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