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23/09/2010
Texto de Raquel de Queiroz

Revista O Cruzeiro, 11 de janeiro de 1947

N?o sei se voc?s t?m meditado como devem no funcionamento do complexo maquinismo pol?tico que se chama governo democr?tico, ou governo do povo. Em pol?tica a gente se desabitua de tomar as palavras no seu sentido imediato.

No entanto, talvez n?o exista, mais do que esta, express?o nenhuma nas l?nguas vivas que deva ser tomada no seu sentido mais literal: governo do povo. Porque, numa democracia, o ato de votar representa o ato de FAZER O GOVERNO.

Pelo voto n?o se serve a um amigo, n?o se combate um inimigo, n?o se presta ato de obedi?ncia a um chefe, n?o se satisfaz uma simpatia. Pelo voto a gente escolhe, de maneira definitiva e irrecorr?vel, o indiv?duo ou grupo de indiv?duos que nos v?o governar por determinado prazo de tempo.

Escolhem-se pelo voto aqueles que v?o modificar as leis velhas e fazer leis novas - e qu?o profundamente nos interessa essa manufatura de leis! A lei nos pode dar e nos pode tirar tudo, at? o ar que se respira e a luz que nos alumia, at? os sete palmos de terra da derradeira moradia.

Escolhemos igualmente pelo voto aqueles que nos v?o cobrar impostos e, pior ainda, aqueles que ir?o estipular a quantidade desses impostos. Vejam como ? grave a escolha desses ?cobradores?. Uma vez l? em cima podem nos arrastar ? pen?ria, nos chupar a ?ltima gota de sangue do corpo, nos arrancar o ?ltimo vint?m do bolso.

E, por falar em dinheiro, pelo voto escolhem-se n?o s? aqueles que v?o receber guardar e gerir a fazenda p?blica, mas tamb?m se escolhem aqueles que v?o ?fabricar? o dinheiro. Esta ? uma das miss?es mais delicadas que os votantes confiam aos seus escolhidos.

Pois, se a fun??o emissora cai em m?os desonestas, ? o mesmo que ficar o pa?s entregue a uma quadrilha de fals?rios. Eles desandam a emitir sem conta nem limite, o dinheiro se multiplica tanto que vira papel sujo, e o que ontem valia mil, hoje n?o vale mais zero.

N?o preciso explicar muito este cap?tulo, j? que n?s ainda nadamos em plena infla??o e sabemos ? custa da nossa fome o que ? ter moedeiros falsos no poder.

Escolhem-se nas elei?es aqueles que t?m direito de demitir e nomear funcion?rios, e presidir a exist?ncia de todo o organismo burocr?tico.

E, circunst?ncia mais grave e digna de todo o interesse: d?-se aos representantes do povo que exercem o poder executivo o comando de todas as for?as armadas: o ex?rcito, a marinha, a avia??o, as pol?cias.

E assim, amigos, quando voc?s forem levianamente levar um voto para o Sr. Fulaninho que lhes f?z um favor, ou para o Sr. Sicrano que tem tanta vontade de ser governador, coitadinho, ou para Beltrano que ? t?o am?vel, parou o autom?vel, lhes deu uma carona e depois solicitou o seu sufr?gio - lembrem-se de que n?o v?o proporcionar a esses sujeitos um simples emprego bem remunerado.

V?o lhes entregar um poder enorme e temeroso, v?o faz?-los reis; v?o lhes dar soldados para eles comandarem - e soldados s?o homens cuja principal virtude ? a cega obedi?ncia ?s ordens dos chefes que lhe d? o povo. Votando, fazemos dos votados nossos representantes leg?timos, passando-lhes procura??o para agirem em nosso lugar, como se n?s pr?prios fossem.

Entregamos a esses homens tanques, metralhadoras, canh?es, granadas, avi?es, submarinos, navios de guerra - e a flor da nossa mocidade, a eles presa por um juramento de fidelidade. E tudo isso pode se virar contra n?s e nos destruir, como o monstro Frankenstein se virou contra o seu amo e criador.

Votem irm?os, votem. Mas pensem bem antes. Votar n?o ? assunto indiferente, ? quest?o pessoal, e quanto! Escolham com calma, pesem e me?am os candidatos, com muito mais paci?ncia e desconfian?a do que se estivessem escolhendo uma noiva.

Porque, afinal, a mulher quando ? ruim, d?-se uma surra, devolve-se ao pai, pede-se desquite. E o governo, quando ? ruim, ele ? que nos d? a surra, ele ? que nos p?e na rua, tira o ?ltimo peda?o de p?o da boca dos nossos filhos e nos faz apodrecer na cadeia. E quando a gente n?o se conforma, nos intitula de revoltoso e d? cabo de n?s a ferro e fogo.

E agora um conselho final, que pode parecer um mau conselho, mas no fundo ? muito honesto. Meu amigo e leitor, se voc? estiver comprometido a votar com algu?m, se sofrer press?o de algum poderoso para sufragar este ou aquele candidato, n?o se preocupe. N?o se prenda infantilmente a uma promessa arrancada ? sua pobreza, ? sua depend?ncia ou ? sua timidez. Lembre-se de que o voto ? secreto.

Se o obrigam a prometer, prometa. Se tiver medo de dizer n?o, diga sim. O crime n?o ? seu, mas de quem tenta violar a sua livre escolha. Se, do lado de fora da se??o eleitoral, voc? depende e tem medo, n?o se esque?a de que DENTRO DA CABINE INDEVASS?VEL VOC? ? UM HOMEM LIVRE. Falte com a palavra dada ? for?a, e escute apenas a sua consci?ncia. ?Palavras o vento leva, mas a consci?ncia n?o muda nunca, acompanha a gente at? o inferno?.

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