- Quinta-Feira 18 de Abril de 2024
  acesse abaixo +
   Editorial +


Cartel, concentração, verticalização, subfaturamento, desemprego e .....

06/01/2011

O verdadeiro retrato da citricultura brasileira é muito menos “colorido” do que o apresentado em mais um trabalho encomendado pelas esmagadoras. Elas contrataram a mesma equipe de cientistas da USP que tem elaborado outros trabalhos, cujo objetivo tem sido justificar o processo de cartelização, concentração, verticalização, desemprego, desestabilização da economia dos municípios citrícolas e da economia do país, ao exportar o suco de laranja abaixo de seu custo de produção.

Como já relatamos em artigos anteriores, a situação que os citricultores independentes vivem hoje foi planejada no início da década de 90, quando os 5 “Cs” se uniram para inviabilizar a Frutesp, assediando seus fornecedores e clientes, pois a política comercial da empresa, pertencente a uma cooperativa de citricultores, obrigava-os a compartilhar com os citricultores a renda do setor. Essa política foi tão eficaz, que o Brasil assumiu a liderança mundial no mercado de suco de laranja.

A partir da venda da Frutesp, os 5 “Cs” assinaram um contrato definindo como o mercado e os citricultores seriam divididos. Os produtores que recebiam, em valores atualizados, o equivalente a US$ 5,16 por caixa de laranja na árvore, passaram a receber US$ 2,57 na árvore e ainda foram obrigados a assumir os encargos e riscos da contratação do pessoal de colheita e o transporte da fruta até a indústria.

Isso representou uma redução adicional de seus rendimentos, que a partir de então, se mantiveram consistentemente abaixo do custo de produção, tendo como conseqüência uma enorme transferência de renda dos citricultores para a indústria.

Os citricultores, sem renda e com custos crescentes, se descapitalizaram e se endividaram, enquanto a indústria, capitalizada pela renda tomada dos citricultores, punha em prática o seu plano de concentração e verticalização, que, segundo o então presidente da Abecitrus, deixaria a citricultura nas mãos da indústria e de 200 produtores amigos. Dessa forma, os pomares acima de 100 ha, que correspondiam a cerca de 8% do parque citrícola em meados da década de 80, passaram a controlar cerca de 57% do parque citrícola em 2009! Hoje 120 pomares detêm 47% do parque citrícola paulista!

O processo de concentração impôs uma mudança no modelo de produção, até então baseado em pequenos e médios produtores que residiam nos municípios citricolas, tinham renda, dinamizavam o comércio, geravam empregos em todos os níveis, desde o trabalhador braçal até os mais preparados profissionais de todas as áreas. Havia condições para desenvolvimento de serviços de alta qualidade em todas as áreas. Os novos municípios citrícolas não desfrutam de nenhum destes benefícios, ao contrário, queixam-se do ônus de ter que abrigar e prestar serviços, durante o período de colheita, aos trabalhadores temporários trazidos de outras regiões ou estados.

Cerca de 20 mil citricultores foram expulsos do setor, 170 mil empregos desapareceram, a economia dos municípios perdeu dinamismo, sem que se observasse nenhum ganho para a sociedade, nem para o consumidor. O argumento usado para a concentração do setor e a consequente expulsão dos citricultores independentes seria a sua baixa produtividade. O quadro abaixo, onde estão listados os principais produtores mundiais de laranja, demonstra que o Brasil somente perde em produtividade para os EUA e Israel, onde a irrigação é usada intensamente com alto custo econômico, social e ambiental.

Clique e veja a tabela

Os cientistas da USP tentam justificar os baixos preços praticados pela indústria através de planilhas incompletas, pouco detalhadas e utilizando índices de produtividade que poucos dos novos pomares, mesmo os mais adensados, atingem. Um aumento da produtividade média em níveis acima de 40 t/ha, que dificilmente seria tecnicamente viável em todas as áreas citrícolas, implicaria na renovação adicional de pelo menos 50% do parque, o que corresponderia a um investimento de US$ 2 bilhões, sem considerar o custo da terra, e exigiria preços remuneradores ao longo dos 15 anos da vida útil do pomar, para assegurar o retorno do investimento.

O custo de produção de um pomar com 600 plantas por ha e uma produtividade média de 1000 cx por ha foi calculado em R$15,7 por caixa de 40,8 kg em uma planilha aberta que está à disposição dos cientistas para críticas desde 2005.

Com esse preço da laranja e adotando-se uma taxa de câmbio de R$1,7 por dólar, um rendimento industrial de 238 cx/t e um custo industrial de US$374,97/t , o custo da tonelada de suco concentrado FOB Santos seria da ordem de US$2600,00 e a indústria vem registrando, há anos, suas exportações na faixa dos US$1100,00. Nesse nível de preços a matéria-prima estaria sendo remunerada a R$ 5,18 por caixa, abaixo do custo direto de produção dos “altamente produtivos e eficientes pomares da indústria” que, segundo o trabalho, está em R$7,26 por caixa. Qual a explicação para um negócio que gera um prejuízo de US$1500,00 por tonelada exportada? De onde vêm os recursos para os investimentos bilionários feitos pela indústria nas duas últimas décadas? Realmente, precisamos reconhecer a competência de uma indústria que cresce gerando prejuízo e desemprego e continua sendo apoiada e protegida por vários setores e autoridades de nosso país.


<<Voltar << Anterior


Indique esta notícia
Seu nome:
Seu e-mail:
Nome Amigo:
E-mail Amigo:
 
  publicidade +
" target="_blank" rel="noopener noreferrer">
 

Associtrus - Todos os direitos reservados ©2023

Desenvolvido pela Williarts Internet
Acessos do dia: 379
Total: 3.917.821
rajatoto rajatoto2 rajatoto3 rajatoto4 https://bakeryrahmat.com/ https://serverluarvip.com/ https://pn-kuningan.go.id/gacor898/ https://pn-bangko.go.id/sipp/pgsoft/ https://sejarah.undip.ac.id/lama/wp-content/uploads/