31/01/2011
A Companhia Nacional de ABASTECIMENTO (Conab), em trabalho realizado em parceria com a Secretaria da Agricultura do estado de São Paulo, publicou, no dia 21/1/2011, os números finais da safra 2009/10 ( colhida a partir de julho de 2010) e a primeira estimativa da safra 2010/11 ( que será colhida a partir de julho 2011). O trabalho é o resultado de uma longa tratativa iniciada em outubro de 2003, quando o Ministro Roberto Rodrigues incluiu a laranja no programa Geosafras, mas devido a dificuldades técnicas, burocráticas, jurídicas e políticas o projeto só foi viabilizado em 2010.

A metodologia de levantamento das informações foi modificada: em lugar do método subjetivo até então utilizado, este levantamento baseou-se em desenho de amostra probabilística estratificada das unidades de produção agropecuária, tendo por referência o Levantamento Censitário de Unidades de Produção Agropecuária 2007/08 (Projeto LUPA). A estratificação seguiu o critério de segmentação, segundo a dimensão do parque laranjeiro, medido em hectares (ha). A população alvo foi repartida em segmentos de tamanho de 6 hectares e ordenada na forma decrescente. Nos estratos superiores a 300 ha foi realizado o censo, onde se concentram produtores com pomares acima de 100 mil pés de laranja e nos demais estratos houve sorteio aleatório.

São inegáveis os avanços obtidos com a parceria entre as instituições do Estado de São Paulo e o Ministério da Agricultura, entre os quais devemos destacar, além da metodologia, a maior visibilidade dada ao trabalho, o caráter de informação nacional, o comprometimento de publicar revisões trimestrais da estimativa, entre outros.

Porém o trabalho ainda apresenta alguns problemas, que atribuímos à falta de colaboração e inclusive de boicote da indústria, que reluta em tratar de forma transparente as informações fundamentais da nossa cadeia produtiva.

Temos notícia de que apenas uma das quatro empresas processadoras de citros forneceu as informações solicitadas de todos os seus pomares e outra forneceu as informações de apenas alguns dos seus pomares. Alguns dos grandes citricultores também se negaram a colaborar. Como conseqüência, as estimativas apresentam um Coeficiente de Variação (CV) muito alto, como se vê no quadro apresentado no documento publicado no site do IEA- Instituto de Economia Agrícola http:// www.iea.sp.gov.br/out/laranja.pdf

Como se pode ver, na estimativa da safra passada, cuja média foi calculada em 322 milhões de caixas, o CV de 13,5% coloca a safra em um intervalo que vai de um mínimo de 279 milhões de caixas até um máximo de 366 milhões de caixas o que é inaceitável, pois provoca uma enorme incerteza no mercado.

Outros fatores que interferem na interpretação dos dados são: a utilização de critérios diferentes dos utilizados nos EUA, que têm uma maior tradição na estimativa de safra de laranja, a inclusão de pomares não comerciais no parque citrícola, a inclusão das perdas na produção e o uso de uma designação diferente da utilizada atualmente para as safras, como indicamos acima.

Como exemplo das distorções e de seu impacto no mercado, podemos citar o relatório sobre a citricultura no Brasil, publicado pelo USDA em dezembro de 2010, que informa para a safra passada uma produção de 273 milhões de caixas , próxima do limite inferior da estimativa. Para a próxima safra o numero publicado é de 315 milhões de caixas, contra a previsão de 353 milhões de caixas publicadas no relatório, o que pode causar um impacto muito grande nos preços, afetando principalmente o citricultor.

As indústrias, através da manipulação dos dados, aumentam seu poder de mercado sobre os citricultores, o que nos leva a cobrar das nossas autoridades estaduais e federais a exigência de total acesso às informações dos grandes citricultores e principalmente das indústrias. Sabemos que as indústrias que atuam na Flórida são obrigadas a tratar com total transparência, não só os dados relativos à estimativa de safra, mas todos os dados de produção, estoques, preços, entre outros e que são publicados semanalmente na internet.

Flávio Viegas