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Prisão por cartel para empresário

23/09/2011
Por Juliano Basile
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O governo quer aumentar a pena para os empresrios e dirigentes de empresas que participam de cartis. O objetivo equipar-los a pessoas que cometem furtos qualificados. Hoje, a pena de dois a cinco anos de priso ou pagamento de multa. Pelo projeto que ser enviado ao Congresso, a punio seria de dois a oito anos de priso, acrescida necessariamente de multa. Ou seja, alm de ir para a priso, o empresrio vai sentir a punio no bolso.

Hoje, h 250 pessoas respondendo a processos por formao de cartel. Mas a Secretaria de Direito Econmico do Ministrio da Justia pretende ampliar esse nmero. A equipe do secretrio Vincius Carvalho vai analisar 600 casos de cartis internacionais para verificar a existncia de eventuais implicaes no mercado brasileiro.

Executivo envolvido em cartel ter pena maior

Por Juliano Basile | De Braslia

Vincius Carvalho, da SDE: "Punies atuais no so suficientes para dissuadir executivos de participar de cartis"


O governo quer aumentar a pena para os empresrios que participam de cartis. O objetivo o de equipar-los a pessoas que cometem furtos qualificados. Hoje, a pena de dois a cinco anos de priso ou pagamento de multa. Pelo projeto que ser enviado ao Congresso para alterar a Lei n 8.137, que trata de crimes contra a ordem econmica, a punio vai passar de dois a oito anos de priso, acrescida necessariamente de multa. Com isso, alm de ir para a cadeia, o empresrio tambm vai sentir a punio no bolso.

A medida deve atingir centenas de executivos. Atualmente, h 250 pessoas, entre donos e diretores de empresas, respondendo a processos por formao de cartel no Brasil. Mas a Secretaria de Direito Econmico (SDE) do Ministrio da Justia pretende ampliar significativamente esse nmero.

A equipe do secretrio Vincius Carvalho vai analisar 600 casos de cartis internacionais para verificar um por um quais incluram o Brasil para vender os seus produtos a preos mais elevados. O objetivo proteger o consumidor brasileiro de acordos que so feitos no exterior e atingem o Brasil. A SDE j instaurou processos contra supostos cartis de fabricantes de produtos plsticos para carros e celulares e tambm para investigar acordos mundiais para a fixao de preos de telas de LCD que levaram a sucessivos aumentos nos valores que os consumidores pagaram s televises de tela plana.

"A poltica industrial do governo de proteo das empresas nacionais, mas devemos proteger tambm os consumidores brasileiros", defendeu Carvalho.

Em entrevista ao Valor, o secretrio informou que vai iniciar uma articulao com o Conselho Administrativo de Defesa Econmica (Cade) e o Ministrio Pblico para que as empresas condenadas por cartel tambm sofram aes de reparao de danos aos consumidores. Essa articulao j tem data para ocorrer: na primeira semana de outubro, na prxima edio da Estratgia Nacional de Combate aos Cartis (Enacc), um encontro entre autoridades para definir metas contra empresas que fazem acordos anticompetitivos no mercado.

Pela reparao, alm de as empresas pagarem as multas do Cade, que vo de 1% a 30% do faturamento, elas tero de pagar o equivalente ao que conseguiram a mais no mercado por fora do cartel. Estimativas feitas pela SDE com base em estudos da Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico (OCDE) indicam que a reparao pode chegar a valores equivalentes a 15% das vendas das empresas.

A seguir os principais trechos da entrevista.

Valor: Por que aumentar a pena de executivos que participam de cartis?

Vincius Carvalho: Ns verificamos que as punies atuais no so suficientes para dissuadir os executivos de participar de cartis. H casos em que eles calculam at o valor de uma possvel punio. Os empresrios verificam que os lucros do cartel podem compensar eventuais multas. Ao fim, concluem que vale a pena continuar com prticas anticompetitivas e ilegais.

Valor: As penas atuais so muito baixas?

Carvalho: Hoje, se um grupo de ladres pula o muro de uma casa e leva um botijo de gs, eles esto sujeitos pena de dois a oito anos de priso por furto qualificado. Mas se vrias empresas fazem um cartel no setor de gs de cozinha (gs liquefeito de petrleo) - e temos casos nesse setor -, elas retiram o equivalente a bem mais de um botijo de vrios consumidores, causando um prejuzo muito maior, e a pena de dois a cinco anos ou multa. Claramente, h um problema de desproporcionalidade nas penas.

Valor: Quando aceitam entrar num cartel, os executivos no consideram o risco de serem punidos?

Carvalho: Tivemos acessos a estudos que mostram que companhias internacionais fazem seguros para que seus diretores continuem com o cartel. Com isso, as empresas procuram anular as sanes econmicas que os rgos antitruste impem. Outro problema que o dinheiro do cartel fica no cofre das empresas. Ele no precisa ser lavado. Isso torna o crime ainda mais grave.

Valor: Esse dinheiro no deveria ser utilizado como reparao s pessoas e empresas que sofreram danos por causa do cartel?

Carvalho: Sim. A dissuaso dos cartis passa pelas penas e pela reparao de danos. H um conjunto de agentes que pode entrar com ao para obter essa reparao. So o Ministrio Pblico, as associaes, os prprios consumidores que foram lesados, alm do Cade e da SDE. A reparao tem o efeito de fazer Justia redistributiva e de desencorajar os ilcitos. Nos Estados Unidos, h uma forte cultura sobre isso e, na Europa, h guias sobre aes de reparao.

Valor: E no Brasil? O que pode ser feito para termos mais aes de reparao?

Carvalho: Ns queremos incentivar essas aes e pretendemos discuti-las com o Judicirio e com o Ministrio Pblico de Defesa do Consumidor. No podemos deixar que essas aes fiquem espera dos consumidores. Esse ser um dos principais debates na Enacc: reunir os rgos e definir uma nova forma de atuao. O grande desafio criar uma estratgia para que essas aes sejam propostas sem diminuir a importncia das decises do Cade, que j pune os cartis.

Valor: Como isso pode ser feito?

Carvalho: Ns vamos propor que, na ao de reparao pelos danos do cartel, a empresa leniente (que entregou provas do crime em troca de reduo de pena) seja cobrada pela fatia equivalente ao prejuzo que causou. J as demais empresas, que no colaboraram com as investigaes, sero cobradas pelo dobro do prejuzo.

Valor: E o prejuzo do cidado comum?

Carvalho: Uma parte ser reparada pela deciso do Cade, que aplica multa s empresas e reverte o dinheiro em projetos de benefcio aos consumidores. A outra pode ser reparada por meio de ao civil pblica.

Valor: De quanto seria essa reparao?

Carvalho: A OCDE tem um estudo indicando que os cartis em licitaes resultam em 10% a 20% de sobrepreo. Ento, a mdia a de que um cartel resulta em 15% de prejuzo aos consumidores. Ou seja, se uma empresa vendeu R$ 100 milhes, sob a organizao de um cartel, o prejuzo dos consumidores pode ser de R$ 15 milhes. Mas, isso ter de ser calculado caso a caso.

Valor: O que pode ser feito quando o consumidor brasileiro prejudicado por cartis que so organizados fora do Brasil?

Carvalho: Aqui, precisamos ter um olho no microscpio e outro no telescpio. O microscpio so os cartis formados no Brasil. O Cade j condenou vrios no setor de combustveis. O telescpio so os cartis internacionais. A poltica do governo federal de proteo ao mercado interno. Ns concordamos com essa poltica e tambm nos preocupamos com a proteo do bem-estar da populao. Quando protegemos a indstria nacional tambm devemos proteger os consumidores brasileiros.

Valor: Como identificar no Brasil um cartel internacional?

Carvalho: Ns dependemos de acordos de lenincia e de informaes sobre esses cartis. Estamos adquirindo um estudo com 600 casos de cartis internacionais e vamos verificar um por um para identificar quais atingiram o Brasil. J analisamos cem casos e devemos abrir mais processos at o fim do ano. O ideal seria que as empresas que participam desses cartis nos procurassem para assinar acordos de lenincia. J fizemos 23 acordos desse tipo, desde 2003, e gostaramos de assinar mais.

Valor: Outros pases tambm elevaram as punies contra os cartis?

Carvalho: Na ltima dcada, 43 pases aumentaram a pena para quem participa de cartel. Nos Estados Unidos, por exemplo, a pena aumentou de trs para dez anos de priso. E as multas tambm cresceram. Nos anos 1990, os rgos antitruste norte-americanos aplicaram US$ 1,6 bilho em punies. Nos anos 2000, houve um salto para US$ 4,2 bilhes. No Brasil, precisamos investir na capacidade de detectar cartis e puni-los de maneira mais rigoros

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