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Motoristas chegam a ficar 72 horas para descarregar laranja na indústria e produtores tem mais prejuízo

26/09/2011
24/09/2011
Fonte: Jornal Impacto



Paciência, muita paciência é o que os motoristas de caminhão que fazem o transporte de laranja das propriedades rurais até a indústria precisam ter. A espera para descarregar a fruta demora dias e a situação na atual safra piorou. Com o aumento da produção e regras que privilegiam alguns, os caminhoneiros reclamam da demora, da falta de infraestrutura e de higiene.

Para o presidente da Associtrus (Associação Brasileira de Citricultores), Flávio Viegas, essa é apenas a ponta do iceberg, uma decorrência de atitudes da indústria que vêm prejudicando citricultores e causando perdas ao setor.

A indústria dá preferência aos caminhões que vêm de seus próprios pomares ou dos pomares dos amigos. O produtor tem prejuízo enorme, falam até em 80 horas na fila, a fruta perde qualidade, perde peso. Outra perda é com o frete, que não é igual ao pago pelo caminhão da indústria, o produtor está pagando mais. Outro problema é em conseguir turmas boas e esse pessoal não tem rendimento de colheita, o pessoal para, enche as caixas e o caminhão não volta. Além disso, há queda da fruta no chão, fruta de boa qualidade, detalha Flávio Viegas.

O engenheiro agrônomo e encarregado da Casa da Agricultura de Bebedouro, Walkmar Brasil de Souza Pinto, diz que a safra deste ano é maior que dos anos anteriores, pois o clima ajudou, houve chuva na época da florada e a renovação de pomares por adensamento (número maior de plantas por hectare).

Na década de 90 eram 160 a 200 plantas por hectare, hoje a média é 400 a 500 plantas por hectare. O que tínhamos por alqueire hoje temos por hectare e isso dá uma produtividade maior. O produtor que colher menos que 40 toneladas por hectare, o que representa cerca de mil caixas, vai ficar no prejuízo, explica.

Walkmar comenta que muitos produtores ao renovarem o pomar fizeram o plantio de variedades precoces de laranja como a Hamlin, Westin e a Valência Americana, frutas colhidas de junho a agosto. Colhendo a fruta deste período, o produtor recebe mais cedo, está sujeito a menos praga, menos perda também, pois plantas mais tardias serão colhidas de outubro a janeiro e há o risco de maiores doenças e pragas, pode pegar período de seca intensa, com a falta de chuva ocorre a queda da fruta. As variedades precoces são muito produtivas, dão entre mil, mil e quinhentas a duas mil caixas por hectare, enfatiza o engenheiro.

Para Walkmar, com a verticalização as indústrias que hoje possuem 49% da produção de laranja estão colhendo suas frutas em detrimento da dos produtores. O engenheiro fala que as variedades precoces são menos resistentes, o que significa que precisam ser colhidas assim que amadurecem, diferente das outras que podem ser colhidas após cinco meses de amadurecimento. Estamos tendo muita perda e haverá mais, ressalta o agrônomo, lembrando que a laranja perde nutrientes após muito tempo de colheita.

O citricultor Leandro Lian também reclama da atitude da indústria que privilegia a carga vinda de seus pomares. A média de espera a partir de terça-feira é de 48h, já houve caso de 72h de espera para descarregar, isso prejudica, pois a laranja perde peso em cima do caminhão. Outro agravante é que o caminhão serve de bim (depósito estático) para a indústria. Essa história de super safra é artifício da indústria para baixar o preço, a safra é maior no máximo 10%, mas haverá quebra com a falta de chuva, reforça o produtor.

O preço mínimo da caixa de laranja estipulado pelo governo é de R$ 10,00, na opinião do agrônomo Walkmar esse se tornou o preço máximo. Já o presidente da Associtrus diz que apenas uma empresa vem pagando este preço. A indústria ficou de adiantar R$ 0,50 em eventual participação. Tenho a informação que a compra vem sendo da seguinte forma: quem está comprando é o mercadista, que adquire a R$ 9,00, R$ 9,50 e está repassando à indústria a R$ 10,00, R$ 11,00. Há uma série de mecanismos para burlar os acordos e prejudicar o produtor, lamenta Flávio Viegas.

Viegas espera que haja alguma alteração com a mudança do Ministro da Agricultura, agora Mendes Ribeiro (PMDB). Não conheço este ministro, mas li uma entrevista dele e fiquei impressionado com algumas posições, a primeira impressão é bastante positiva. A esperança é que realmente modifique o ministério, o que notamos é que não só no ministério da Agricultura, mas em outros ministérios também, e na Secretaria de Agricultura, o que prevalece é a indústria, frisa.

Os caminhoneiros

No pátio de uma indústria de Bebedouro, havia espera para descarregar desde a 1h da madrugada de quarta-feira (21). Ricardo Francisco Julio viajou 300 km e não tinha expectativa de quando ia conseguir entrar na fábrica para completar o ciclo de sua jornada. Seu caminhão estava na fila dos terceirizados, caminhoneiros que trabalham por conta própria fazendo o transporte para produtores. Assim como ele, outros caminhoneiros estavam na mesma situação, a carga de laranja deveria ficar por longas horas acomodada na carroceria sob a lona de proteção. Em sua opinião, a situação tem piorado nos últimos anos.

Para os caminhoneiros que trabalham para a indústria, a fila é outra, menor e com tempo de espera reduzido. Renato Matias chegou às 17h de quarta-feira e acreditava que descarregaria em até 24h. Os caminhoneiros explicam que, de acordo com o sindicato da categoria, o tempo de espera deve ser de até 5h, mas normalmente ficam 24h no aguardo, considerado por eles dentro do padrão, o que significa que poderão carregar novamente e voltar à maratona de espera.

A partir da vigésima quinta hora devem receber a estadia de R$ 1,00 por hora/tonelada, infelizmente nem sempre é assim. O caminhoneiro Ricardo lembra que no porto de Santos, há organização e o pagamento de R$ 0,70 por hora/tonelada quando a espera ultrapassa às 24h previstas.

José Olimpio também viajou 300 km até chegar a Bebedouro e disse que, além da espera na fila, quando entram para descarregar ficam de 3h a 4h. A fila é organizada pelos próprios caminhoneiros, no pátio da empresa não existe senha ou qualquer tipo de controle para que a ordem de chegada seja obedecida. É preciso contar com a boa vontade de cada um.

Edison Braz Cordisco veio de Cravinhos, chegou às 14h da quarta-feira e acreditava que só iria descarregar na sexta-feira. Esta safra está mais demorada, principalmente para os terceirizados, conta o caminhoneiro, que na semana passada ficou 70h na fila, chegou na segunda e foi embora na sexta-feira.

Carlos de Paula possui dois caminhões e teve o mesmo problema que Edison, esperou por 72h com um dos veículos para completar o trabalho de entrega da laranja na indústria, com o outro foram 60h. Esta semana, Carlos chegou aos cinco minutos de segunda-feira (19), descarregou por volta das 16h de quarta, foram cerca de 40h de espera. Se houvesse fila única não haveria tanta demora, há fila preferencial. À noite, na maioria das vezes, só descarregam as frutas deles, reclama o motorista contando que dentro da fábrica a sobra de laranjas que ficam na carroceria deve ser retirada por eles, não há funcionário da empresa para ajudar no serviço.

Outros problemas são apontados pelos caminhoneiros, o pátio da empresa é muito mal iluminado, apenas um poste de energia elétrica. As condições de higiene são precárias, de acordo com eles, os serviços do restaurante foram terceirizados pela indústria e não há fiscalização com relação à qualidade. O banheiro além de sujo fica ao lado da cozinha, obrigando-os a sentir o mau cheiro dos sanitários enquanto comem. A água também apresenta problemas. Se você tirar um copo de água vai ver a cor que apresenta, além do gosto estranho, conta Carlos.

Diante dos problemas, os caminhoneiros novamente falam sobre a necessidade de senha, de uma organização que garanta seu lugar na fila, o que os deixaria tranquilos para sair do pátio a procura de melhores acomodações para o banho e as refeições.

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