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Usinas e trens em uma cidade de caminhos fechados

08/11/2011
Por: Rubens Cunha
Fonte: Jornal Impacto de Bebedouro

Meus olhos de menino achavam os céus bebedourenses azuis demais e nossa paisagem era de origem amarela dos laranjais. Talvez por isso plantem, em excesso nos dias de hoje, canaviais até a beira dos rios e do asfalto. Talvez por isso ateiem fogo na plantação, para que a fuligem manche o azul do céu e a fumaça prejudique os olhos do menino.

As usinas chegaram para destruir a paisagem, os sonhos e a diversidade. Se o falar poético é melancólico, o falar sociológico é mais duro: a volta dos senhores do engenho só produz concentração de renda, coronelismo político, perda de identidade e volta ao passado da monocultura como modelo de desenvolvimento.

Parafraseando Carlos Drummond de Andrade: ?Eu também sou filho dos laranjais, e tenho os olhos vacilantes quando saio do vermelho do fogo em busca de dias claros?.

Todo esse processo que nos leva a substituir a laranja pela cana é um grande engano de custo futuro muito alto. É um fechamento do caminho; e não haverá outra chance e nem uma terceira via que nos redima desse futuro imposto como progresso. Há uma sensação de perda, como se o tempo parasse; a cidade não avança nem recua, fica como no mesmo lugar, na condição de paralítica.

Centenas de pequenos e médios produtores mortos pelo meio do caminho. Ficamos agora esperando um grande trem de cinco locomotivas e sessenta vagões que transportem combustível e açúcar, que apite em um enorme terminal de embarque, mas que não transportarão melhores dias a ninguém, a não ser para aqueles poucos conhecidos. Conhecidos empresários que financiam campanhas políticas, aparecem sempre sorridentes nos jornais e são os filantropos de plantão. Mais atores do que pessoas. Acham que a vida é feita por gente que põe o traseiro em qualquer cadeira ou pega o microfone para falar alto de coisas que não entende.

As fortunas, infelizmente, compram tudo: falsos amigos, políticos oportunistas e ideias da moda. Como temos um complexo infantil da Casa Grande e Senzala, muitos bajulam e adoram os novos senhores de engenhos, mesmo recebendo só migalhas por isso.

A cidade e as pessoas estão ficando mais pobres. Será difícil, muito difícil, convencer alguém que perdemos ?o pulo do gato? ou ?o trem da história? quando destruímos a indústria da laranja. Perdemos o foco. Abandonamos nossa história na beira da estrada.

Esse processo precisa de uma discussão séria e estratégica. Quantos virão participar? Enquanto isso, vamos lutar para que nossa cidade não se transforme ?em um batalhão de velhos? contadores de estórias extraordinárias de um passado glorioso e de rapazes e meninas que vão estudar fora e nunca mais voltam. Como já disse o poeta citado: ?O tempo não pára no porto, não apita na curva e não espera ninguém.?.

O artigo é dedicado ao velho amigo Issa Lian.

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