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Pequenos desistem e saem da citricultura

16/11/2011
16 de novembro de 2011 | 3h 06
LEANDRO COSTA - O Estado de S.Paulo

Endividados, pouco competitivos e atraídos pela cana, detentores de pequenos pomares já não predominam na atividade.

Após 40 anos produzindo laranja em Itápolis (SP), maior município citrícola do País, Valdir Butarello, que preside a associação de citricultores, desistiu. Quando a colheita acabar, vai erradicar o pomar de 35 mil árvores e arrendar a área para a cana. "Dois anos atrás eu dizia para ninguém ir para a cana. Mas, no fim, é sair ou quebrar", lamenta. O caso de Butarello ilustra o que tem ocorrido na maioria das regiões citrícolas paulistas.

Endividados e descrentes com a melhoria do ambiente de negócios, muitos produtores, sobretudo pequenos e médios, têm deixado a atividade. A principal razão, apontam, é o baixo preço pago pela caixa de laranja. Para eles, na última década, raras foram as ocasiões em que os valores cobriram custos de produção. "Ano retrasado estava R$ 5; ano passado, R$ 15 e agora R$ 10. E o custo só sobe. Quem aguenta?", diz Butarello.

Sem patrimônio. "O citricultor paga para produzir há tempos. Ele veio queimando o patrimônio acumulado nas décadas áureas da laranja e agora não tem mais como continuar", diz o agrônomo da Casa de Agricultura de Bebedouro, Walkmar Brasil de Souza Pinto, que atua na citricultura há 40 anos. Ele conta que entre 1991 e 2011 a área de laranja na região de Bebedouro caiu de 45 mil para 17 mil hectares. "A perspectiva é a de que em dois anos mais 2 mil hectares sejam erradicados."

O ex-citricultor João Francisco Junqueira Franco faz parte das estatísticas. Sua família chegou a ter 150 mil pés de laranja em duas propriedades em Colina, vizinho a Bebedouro. No início dos anos 90, com dívidas, a família vendeu uma das fazendas. Com um pouco de fôlego, seguiram na citricultura por teimosia. "Citricultor não tem sangue, mas suco nas veias", diz. O problema de preços persistiu, até que três anos atrás o valor não pagou nem a colheita. "Emprestei dinheiro no banco para colher e depois erradicamos o pomar. Hoje estamos mais tranquilos, com 829 hectares de cana."

O mesmo relata Butarello. Segundo ele, em Itápolis, onde há dez anos só havia laranja, hoje os pomares ocupam metade da área - 35 mil hectares. Os restantes 35 mil são canaviais, que abastecem dez usinas na região.

O 2.º Levantamento da Safra de Laranja 2011/2012 da Conab, de agosto, confirma a situação: "A área plantada no Estado vem sofrendo reduções consecutivas e mudando o perfil do produtor. Os pomares menores perdem espaço e acabam absorvidos pela cana".

Além disso, o pequeno produtor tem cada vez mais dificuldade em adotar práticas culturais adequadas, sobretudo no combate ao greening. "A citricultura, tradicionalmente composta de pequenos produtores, está mudando o perfil", diz o relatório. Já no primeiro levantamento de safra, de março, detectou-se que a erradicação dos pomares - provocada também pelo greening, doença que aumenta o custo de manutenção do pomar, aliado à descapitalização do produtor - ocorreu, em 69% dos casos, em propriedades menores, com até 48 hectares.

Em 17% delas, em pomares de 48 a 120 hectares; 8% em unidades com pomares de 120 a 300 hectares e 6% em pomares acima de 300 hectares.

"Como ocorre com toda commodity, para obter sucesso com a laranja é preciso ter eficiência. E nesse sentido escala faz diferença", diz o consultor Frederico Fonseca Lopes, da Markestrat. Ele avalia que quem quiser prosseguir tendo a indústria como comprador terá de investir em grandes áreas.

Custo alto. "Sem escala o custo é alto. Não se consegue laranja barata em área pequena. Não dá para concorrer com quem tem um pomar de 5 mil hectares e consegue negociar melhor a compra de insumos", diz Lopes, que também é produtor e no próximo ano vai ampliar em 100 hectares a área, hoje em 50 hectares. Para ele, o mercado in natura pode ser a saída para os pequenos. "É um mercado com totais condições de absorver a produção deste grupo." Entretanto, ele diz que é preciso adaptar a propriedade para produzir laranja com valor agregado. "Até aí o produtor precisa ser eficiente."

Teoria que na prática não é tão fácil, acredita o agrônomo Walkmar Pinto, "pelo menos no curto prazo". "Não é da noite para o dia que se vai passar a vender mais laranja in natura. Isso leva tempo - algo que o produtor não tem mais", diz.

Outro estudioso do mercado, Marcos Fava Neves, da Faculdade de Economia e Administração (FEA-USP), e coordenador do estudo Retrato da citricultura brasileira, vê com mais otimismo o futuro dos pequenos e relaciona seu sucesso à produtividade. "Produtores menores têm mais dificuldade, por serem menos capitalizados e terem menos acesso a crédito, mas conheço propriedades pequenas altamente eficientes."

Além disso, Neves crê que a partir do momento que o Consecitrus, um conselho formado por todo o setor, passar a funcionar, a questão dos preços deve ser equalizada, o que vai melhorar o ambiente comercial da citricultura, há anos conturbado.

Para os citricultores, porém, o processo de evasão dos pequenos é provocado pela forma de atuação da indústria. Eles questionam principalmente o fato de cerca de 40% dos pomares paulistas serem das indústrias, o que permite a autossuficiência na produção e a política de preços baixos. "A indústria pensa: vou pagar menos. Quem quiser, vende", acusa o citricultor Oscar Müller, que produz laranja há 30 anos em Casa Branca.

Colheita. Ele conta que, mesmo com contrato firmado com a indústria, tem dificuldades para obter autorização de colheita. "No ano em que podemos ganhar um pouco ela deixa a laranja cair no chão; colhe a dela e não quer a do produtor", acusa.

O presidente da CitrusBR (Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos), Christian Lohbauer, não concorda. Segundo ele, a indústria detém, sim, um amplo pomar, mas não tem mais condições de ampliar plantios a ponto de chegar à autossuficiência. "Embora 40% da laranja processada seja da indústria, o custo da terra torna inviável a ampliação de plantios", diz. Lohbauer reitera, por isso, que a indústria continuará a depender da laranja dos produtores.

Em relação à viabilidade de os pequenos continuarem a fornecer para a indústria, ele reconhece que são poucos os que conseguem ser produtivos o suficiente. "A citricultura tornou-se complexa nas últimas décadas. Hoje não é só plantar e vender. É preciso ter orientação para negócios, estar de olho nos preços, estimativas de safra, custos de controle de doenças. Além de definir quanto da produção vai ser vendida via contrato, quanto via spot, etc."

Segundo ele, para o produtor que está na atividade há décadas é difícil se adaptar à nova realidade, de margens apertadas. "Para o produtor que vinha ganhando dinheiro há 20 anos e que passou a ter dificuldades a situação é complicada, porque reposicionar o pomar custa caro. E ele nem sempre tem condições ou quer investir nisso."

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