23/01/2012
Por Luiz Henrique Mendes | Valor

SÃO PAULO - A possível retenção dos embarques de suco brasileiro para os Estados Unidos podem acarretar perdas da ordem de US$ 100 milhões, segundo fontes ligadas às principais indústrias exportadoras de suco do Brasil.

No início desta tarde, a Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA, na sigla em inglês) divulgou os primeiros resultados dos testes que realiza com as cargas de suco de laranja importado desde a semana passada, quando o fungicida carbendazim, vetado nos EUA, foi encontrado em suco importado do Brasil.

Os resultados divulgados nesta sexta-feira, no entanto, não incluíram amostras de suco brasileiro, contrariando a expectativa inicial dos exportadores do Brasil, que já esperavam pelo anúncio da retenção de carregamentos.

Das 45 amostras coletadas pelo FDA, 19 já foram testadas e liberadas e 26 ainda aguardam pelos processos de avaliação e revisão. Segundo a agência americana, os lotes aprovados continham níveis seguros do fungicida (abaixo de 10 partes por bilhão). Segundo as mesmas fontes, as amostras cujos resultados não foram divulgados são em sua maioria de suco brasileiro.

As autoridades americanas teriam dúvidas quanto à metodologia a ser utilizada nos testes. Isso porque, nas amostras de suco congelado e concentrado (FCOJ), a quantidade detectada do fungicida fica acima do limite de segurança de 10 ppb (partes por bilhão), enquanto que nas amostras suco diluído (NFC), as análises não revelam presença significativa do agrotóxico.

A questão é que o FCOJ não será consumido na forma concentrada como se encontra, mas sim misturado em água, diluindo também a presença do fungicida, explicam as fontes. Com isso, os testes indicariam presença do fungicida abaixo dos limites de segurança.

Essa interpretação dos dados, no entanto, é vedada pela lei americana, que diz que os testes devem ser realizados na forma em que o produto se encontra. Por esse motivo, a indústria nacional acredita na retenção dos embarques de FCOJ brasileiro, que representa 50% do total exportado.

Com a postergação da decisão sobre o suco brasileiro, tanto os exportadores brasileiros quanto a própria indústria americana ganharam tempo. Os EUA não podem prescindir do suco brasileiro, disse uma fonte. Atualmente, o Brasil responde por 56% das importações americanas. Além disso, 80% do suco produzido nos EUA é misturado com suco brasileiro.

Maior produtor mundial da commodity, o Brasil exporta 15% sua produção para os EUA. Segundo estimativas de mercado, cerca de 30% dos embarques previstos para o ano safra 2011-12 já foram realizados. Desconsideradas as possíveis restrições americanas, as previsões indicam exportações entre 170 mil e 200 mil toneladas de FCOJ equivalente (volume que também inclui NFC e suco para outros fins).


(Luiz Henrique Mendes | Valor)