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A armadilha da desigualdade após a crise de 2008

12/03/2012
Grupos de renda média e baixa sofrem com dívidas

Kemal Dervis,

Domingo, 11 de Março de 2012, 03h09

Aumentam as evidências de que a desigualdade da renda cresce em muitos países e o problema está chamando insistentemente a atenção de acadêmicos e responsáveis pela elaboração de políticas públicas. Nos EUA, por exemplo, a parcela da renda do 1% mais rico da população mais que dobrou desde o fim dos anos 70, de 8% do Produto Interno Bruto (PIB) para mais de 20% recentemente, nível não alcançado desde os anos 20.

Embora haja motivos éticos e sociais para nos preocuparmos com a desigualdade, eles não têm muito a ver com a política macroeconômica em si. Mas essa relação foi constatada na primeira parte do século 20: o capitalismo, afirmavam alguns, tende a causar uma debilidade crônica da demanda efetiva em razão da crescente concentração da renda, levando a um "excesso de poupança", pois os muito ricos poupam muito. Isso incentivou as "guerras comerciais", à medida que os países procuravam encontrar uma demanda maior no exterior.

Do fim dos anos 30 em diante, porém, esse argumento se enfraqueceu, porque as economias de mercado do Ocidente cresceram rapidamente no período que sucedeu a 2.ª Guerra e a distribuição da renda se tornou mais equitativa. Embora ocorressem os ciclos econômicos, não havia nenhuma tendência perceptível de enfraquecimento crônico da demanda. Os juros de curto prazo, diriam macroeconomistas, sempre poderiam ser reduzidos o suficiente para gerar taxas razoáveis de emprego e demanda.

Contudo, com o incremento da desigualdade, voltam a ser levantados argumentos que relacionam a concentração da renda a problemas macroeconômicos. Raghuram Rajan, da Universidade de Chicago, ex-chefe da equipe de economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI), conta uma história plausível em seu livro Fault Lines, sobre a relação entre a desigualdade da renda e a crise financeira de 2008. Rajan afirma que a enorme concentração da renda no topo da sociedade americana produziu políticas que visam encorajar empréstimos insustentáveis por grupos de renda média e baixa, por meio de subsídios e garantias de empréstimos no setor da habitação e uma política monetária flexível. Também houve uma explosão do endividamento com os cartões de crédito. Esses grupos protegeram o crescimento do consumo ao qual se acostumaram endividando-se cada vez mais.

Indiretamente, os muito ricos, alguns dos quais fora dos EUA, emprestavam a outros grupos de renda, tendo como intermediário o setor financeiro, que, para, tanto lançava mão de métodos agressivos. Esse processo insustentável quebrou em 2008.

Joseph Stiglitz, em seu livro Freefall, e Robert Reich, em Aftershock, contaram histórias semelhantes, enquanto os economistas Michael Kumhof e Romain Rancière descobriram uma versão matemática formal da possível relação entre a concentração da renda e a crise financeira. Embora os modelos subjacentes sejam diferentes, as versões keynesianas enfatizam que, se os super-ricos economizam muito, a concentração cada vez maior da renda pode levar a um excesso crônico de poupança planejada, em comparação aos investimentos.

A política macroeconômica pode tentar contrabalançar essa situação por meio de gastos deficitários e juros muito baixos. Ou um câmbio subvalorizado pode ajudar a exportar, na falta de demanda interna. Mas se a parcela de renda mais alta continuar subindo, o problema permanecerá crônico. E, a certa altura, quando a dívida pública se tornar grande demais para permitir constantes gastos deficitários ou quando os juros se aproximarem do limite inferior a zero, o sistema não terá mais soluções.

Essa história tem uma dimensão surpreendente. Acaso o problema dos EUA não terá sido uma poupança escassa, em vez de excessiva? O persistente déficit da conta corrente do país não refletirá um consumo excessivo, em vez de uma fraca demanda efetiva?

Expansão. Os recentes trabalhos de Rajan, Stiglitz, Kumhof e Rancière - e outros - explicam esse aparente paradoxo: os que se encontram no topo financiaram a demanda de todos os outros, o que permitiu elevados níveis de emprego e consideráveis déficits da conta corrente. Quando a quebra ocorreu em 2008, uma maciça expansão fiscal e monetária impediu que o consumo dos americanos entrasse em colapso. Mas será que isso solucionou o problema subjacente? Embora a dinâmica que levou a um aumento da concentração de renda não tenha mudado, tomar dinheiro emprestado deixou de ser fácil e, nesse sentido, é improvável outro ciclo de expansão e crise. Mas isso provoca outra dificuldade. Quando indagada sobre o motivo pelo qual não investe mais, a maior parte das empresas alega a insuficiência da demanda. Mas como é possível que a demanda interna seja forte se a renda continua indo para o topo? É improvável que a demanda do consumo de bens de luxo resolva o problema. Além disso, os juros não podem se tornar negativos em termos nominais e o aumento da dívida pública poderá afetar cada vez mais a política fiscal.

Se a dinâmica que alimenta a concentração de renda não pode ser revertida, os super-ricos poupam uma grande parcela de sua renda, os bens de luxo não podem alimentar uma demanda suficiente, os de renda mais baixa não podem mais tomar dinheiro emprestado, as políticas monetária e fiscal alcançaram seu limite e o desemprego não pode ser exportado, a economia pode estagnar.

A recuperação da atividade econômica nos EUA no início de 2012 ainda depende da política monetária extraordinariamente expansionista e déficits fiscais insustentáveis. Se a concentração de renda pudesse ser reduzida assim como foi reduzido o déficit fiscal, a demanda poderia ser financiada por rendas privadas abundantes e sustentáveis. A dívida pública poderia ser reduzida sem medo de recessão, pois a demanda privada seria mais forte. Os investimentos aumentariam tendo em vista a melhoria das perspectivas da demanda.

Essa linha de raciocínio é particularmente relevante para os EUA, considerando a dimensão da concentração da renda e os desafios fiscais que se encontram pela frente. Mas a tendência geral de aumento da parcela das rendas no topo é global e as dificuldades que isso poderá criar para a política macroeconômica não devem mais ser ignoradas. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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