- Sexta-Feira 10 de Maio de 2024
  acesse abaixo +
   Notícias +


Louis Dreyfus avalia mudanças nos negócios de suco de laranja

16/10/2014

Por Fernando Lopes | De São Paulo
16/10/2014 às 05h00

Os negócios da Louis Dreyfus Commodities ao longo da cadeia produtiva de suco de laranja passam por um novo processo de reestruturação. Terceira maior exportadora global da commodity, a multinacional francesa concentra no Brasil as atividades nessa frente, que têm sido foco de prejuízos e apresenta possibilidades restritas de melhora significativa no curto e médio prazos.

Ainda que a empresa tenha preferido não conceder entrevista sobre as mudanças em curso ou em estudo, fontes do segmento ouvidas pelo Valorafirmam que delas poderá resultar uma transformação radical. Conforme essas fontes, ganha fôlego a possibilidade de a Dreyfus abandonar por completo sua produção própria de laranja e ampliar ainda mais as apostas na comercialização de suco. Até agora, a companhia supre sua demanda por matéria-prima para a fabricação da bebida por meio de produção própria, contratos plurianuais com citricultores independentes e no mercado spot.

Tanto a produção própria, que ocupa mais de 30 mil hectares em fazendas localizadas sobretudo no interior de São Paulo - Estado que reúne o maior parque citrícola do planeta -, quanto a industrialização, dividida entre quatro unidades, são geridas pela Louis Dreyfus Commodities Agroindustrial S.A., controlada pela Louis Dreyfus Commodities Brasil S.A. E os resultados da subsidiária, cujo objeto social também inclui operações de importação e exportação e participações em outras sociedades, tem sido negativos.

Conforme balanço publicado no "Diário Oficial do Estado de São Paulo", a LDC Agroindustrial encerrou 2013 com prejuízo líquido de R$ 95,6 milhões e não conseguiu reverter a perda de 2012, que havia sido de R$ 114,7 milhões. Na mesma comparação, sua receita líquida cresceu R$ 100 milhões e alcançou R$ 1,2 bilhão. Nesse contexto, a controladora aprovou, no início deste mês, um aporte de R$ 100,6 milhões na subsidiária, mas não informou como os recursos serão utilizados.

Fontes do segmento afirmam que, quando Margarita Louis-Dreyfus esteve no Brasil, no fim do ano, não escondeu seu descontentamento com os resultados dos negócios na cadeia de suco de laranja. O foco da viúva de Robert Louis-Dreyfus, que atualmente participa ativamente das decisões estratégicas da múlti, estava na sucessão do comando da companhia no Brasil e nos prejuízos bilionários da Biosev (braço sucroalcooleiro do grupo com ações na BM&FBovespa). Mas nem por isso Margarita deixou de tentar entender melhor os motivos de resultados tão azedos no segmento de suco.

Margarita já sabia que a queda da demanda internacional por suco de laranja desde o início da década passada, puxada por expressivas retrações do consumo em mercados maduros como os Estados Unidos, estava dificultando a vida das grandes companhias exportadoras radicadas no Brasil. Mas, ainda assim, promoveu mudanças na gestão desses negócios - que envolveram inclusive a troca de executivos - e pediu providências capazes de melhorar os resultados da subsidiária.

O Valor apurou que, nesse sentido, consultores foram contatados para avaliar o valor das terras hoje ocupadas por seus cerca de 15 milhões de pés de laranja. Fontes atentas aos passos da empresa afirmam que uma eventual venda desses ativos não só serviria como fonte de recursos extras como pouparia gastos e preocupações em uma atividade que é considerada o ponto fraco da atuação da Louis Dreyfus na cadeia de suco. E, como projeta oferta abundante da fruta nos próximos anos, sem produção própria a múlti ficaria mais à vontade para expandir sua presença nesse mercado como trading, área na qual tem predicados reconhecidos até pelos rivais.

As mesmas fontes ressalvam que esse é um caminho que está sendo avaliado com carinho, mas que é sempre difícil entender os rumos da companhia no mercado de suco. Apesar de não ter concedido entrevista, a Louis Dreyfus Commodities informou, quando procurada pelo Valor, que "mantém seu compromisso com a citricultura brasileira e continuará atuando na indústria de sucos cítricos no país". E não foram poucas, nos últimos anos, as especulações de que a múlti poderia vender todo o negócio de laranja e suco. Quando a americana Cargill vendeu seus negócios no ramo no Brasil para Cutrale e Citrosuco, em 2004, para muitos a Dreyfus seria a próxima a pegar o mesmo bonde.

"A venda dos negócios da Cargill para Cutrale e Citrosuco é mais um sinal de que é preciso maior coordenação entre os produtores de laranja, seja em cooperativas, pools ou associação. E põe Citrovita e Dreyfus em xeque", afirmou ao Valor, na ocasião, Marcos Fava Neves, professor da FEA/USP e autor e organizador de diversos trabalhos acadêmicos e livros sobre a citricultura. Por esse e outros motivos, a Citrovita, controlada pelo grupo Votorantim, se uniu à Citrosuco, do grupo Fischer, em fusão anunciada em 2010.

Também começou a ser gestado em 2009 o Consecitrus, conselho idealizado para servir de ambiente para negociações entre citricultores e indústrias que fez sua primeira reunião formal na semana passada, tendo como pano de fundo a quarta safra seguida de laranja de margens apertadas ou negativas para os produtores independentes da fruta. E a Louis Dreyfus continua em xeque.

A bem da verdade, mesmo Cutrale e Citrosuco, empresas de capital nacional que lideram as exportações brasileiras e mundiais de suco de laranja - os embarques nacionais somaram 147 mil toneladas e renderam US$ 180 milhões em setembro, conforme a Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic) -, estão buscando formas de rentabilizar melhor suas operações. A Citrosuco, por exemplo, reduziu drasticamente suas compras no mercado spot paulista na atual temporada (2014/15).

Já a Cutrale partiu para a diversificação. A empresa ganhou espaço como trading de soja e, em parceria com o Grupo Safra, atualmente faz uma conturbada investida para adquirir a americana Chiquita, uma das maiores empresas globais de bananas (ver Cutrale e Safra elevam oferta pela Chiquita). (Colaborou Fabiana Batista, de São Paulo)

© 2000 – 2014. Todos os direitos reservados ao Valor Econômico S.A. . Verifique nossos Termos de Uso em www.valor.com.br . Este material não pode ser publicado, reescrito, redistribuído ou transmitido por broadcast sem autorização do Valor Econômico.

Leia mais em: www.valor.com.br


<<Voltar << Anterior


Indique esta notícia
Seu nome:
Seu e-mail:
Nome Amigo:
E-mail Amigo:
 
  publicidade +
 

Associtrus - Todos os direitos reservados ©2023

Desenvolvido pela Williarts Internet
Acessos do dia: 1309
Total: 3.937.125