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COLHEITA AMARGA - ARTIGO DA BLOOMBERG SOBRE O CUTRALE

01/06/2006
O brasileiro Jos? Luis Cutrale, que controla um ter?o do mercado global de laranja de US$ 3 bilh?es, est? se fortalecendo na Fl?rida. Promotores, l?deres sindicais e pol?ticos est?o no seu encal?o. Simpl?cio Amorim j? apanhou 800 kg de laranja em um pomar no sudeste brasileiro ?s 14h, sete horas ap?s o in?cio de sua jornada de trabalho. Sua cal?a jeans, rasgada nos joelhos e imunda e sua camiseta rasgada est?o encharcadas depois de passar o dia subindo e descendo uma escada para apanhar as frutas sob uma chuva torrencial e o calor tropical escaldante. Amorim, de 55 anos, trabalha para suprir as f?bricas de propriedade de Jos? Luis Cutrale, o indiv?duo que possui a maior participa??o no mercado de US$ 3 bilh?es anuais de suco de laranja. O imp?rio da fam?lia Cutrale produz praticamente um de cada tr?s copos de suco de laranja do planeta. Ap?s as autoridades brasileiras terem descoberto que Cutrale pagava sal?rios injustos e negava benef?cios aos trabalhadores, ele eliminou concorrentes na Fl?rida, vendendo suco abaixo do pre?o de mercado, de acordo com o Departamento de Com?rcio americano. Cutrale chegou ao topo violando regras de exporta??o americanas, desrespeitando a legisla??o trabalhista brasileira, fazendo conluios para estabelecer pre?os e exportando essas pr?ticas para a Fl?rida, segundo organiza?es, promotores brasileiros, ?rg?os antitruste e o governo dos EUA. ?N?s temos lutado contra o Cutrale h? 10 anos e nossa paci?ncia acabou?, afirma Ricardo Garcia, um dos seis promotores brasileiros que entraram com a?es trabalhistas contra o Cutrale desde 1996. ?Eles utilizaram todas as artimanhas poss?veis para ganhar dinheiro ignorando as leis trabalhistas. Faz parte de sua cultura. Eles n?o t?m escr?pulos?. Em 24 de janeiro, a pol?cia, armada, fez uma batida nos escrit?rios do Cutrale em Araraquara, no estado de S?o Paulo, como parte de uma investiga??o do governo sobre a combina??o de pre?os no mercado de laranja. A pol?cia confiscou nove caixas cheias de arquivos nesta opera??o. Foi mais um passo em uma investiga??o que j? dura sete anos, do Minist?rio das Finan?as, segundo a qual a empresa Cutrale e outras ind?strias processadoras de suco de laranja t?m conspirado para manter baixos os pre?os das laranjas compradas por elas para suprir suas f?bricas. Cutrale se recusaou a comentar a investiga??o. Ademerval Garcia, presidente da Associa??o Brasileira de Exportadores de Citrus (Abecitrus), negou as acusa?es contra as ind?strias processadoras. Os produtores de laranja da Fl?rida, que t?m o apoio do governador Jeb Bush, irm?o do presidente George W. Bush, afirmam que Cutrale e tr?s outras empresas processadoras de suco est?o tentando elimin?-los do mercado. ?N?o d? para competir com eles?, declarou Ron Edwards, executivo da empresa Vero Beach, da Fl?rida, uma das cinco maiores produtoras de laranja daquele estado. ?A m?o-de-obra ? o grande trunfo do Brasil na competi??o?. Do pomar de It?polis, a 350 km de S?o Paulo, Amorim presume que ir? apanhar laranjas suficientes para encher a sacola encharcada pendurada em seu ombro esquerdo 40 vezes. A 25 centavos por caixa de 30 kg, Amorim espera ganhar R$ 10,00 por 10 horas de trabalho. ?N?o d? para pagar as contas?, ele diz. O pagamento do dia de trabalho de Amorim equivale ao que um apanhador na Fl?rida ganha em 30 minutos de trabalho. Isso d? ? Sucoc?trico Cutrale Ltda., a companhia privada de Cutrale um rendimento annual de praticamente US$ 1 bilh?o. O suco de laranja congelado concentrado foi a quarta commodity que apresentou maiores ganhos em 2005, com um aumento de quase 50%. O pre?o do suco ? o mais alto dos ?ltimos sete anos, a US$ 1,26 por libra em 3 de fevereiro. Avelino da Cunha, presidente da uni?o que representa 4.000 trabalhadores rurais da regi?o de It?polis, um dos maiores p?los citr?colas do Brasil, afirma que Cutrale est? lucrando ?s custas de milhares de trabalhadores que labutam em condi?es desumanas sem receber os sal?rios e benef?cios previstos na lei. ?H? dois mundos nesse setor, o mundo High-tech que existe dentro das ind?strias e o terceiro mundo de mis?ria do campo?, segundo Avelino da Cunha. A interven??o policial ocorrida em janeiro foi consequ?ncia de uma d?cada de embates com organiza?es, ?rg?os reguladores e representantes dos governos brasileiro e americano. Em 1996, promotores tiveram o primeiro ?xito em a?es trabalhistas contra a empresa Cutrale por falta de pagamento de horas extras e outros benef?cios obrigat?rios. Naquele mesmo ano, segundo organiza?es americanas, Cutrale levou sua pr?tica de reduzir o pagamento de trabalhadores aos EUA, quando comprou da Coca-Cola Co., duas f?bricas do refrigerante Minute Maid localizadas nas proximidades de Orlando, Fl?rida. Logo ap?s assumir o controle das f?bricas, Cutrale solicitou que 300 funcion?rios de uma das unidades pedissem demiss?o de seus empregos e em seguida fossem contratados novamente, a maioria deles por sal?rios 40% mais baixos. Em janeiro de 2000, os funcion?rios da mesma f?brica fizeram sua primeira greve em 30 anos, reclamando de dejetos de ratos e pombas em correias de transporte e baratas nas proximidades dos tanques de suco. A empresa Cutrale Citrus Juices USA - subsidi?ria americana da Sucoc?tricos Cutrale Ltda. - tamb?m enfrentou pelo menos cinco ordens de retirada de produtos do mercado, exigidas pela US Food and Drug Administration, uma delas por ter sido encontrado mofo em amostras de um lote do refrigerante Minute Maid, em 2001. O US Occupational Safety & Health Administration, entidade que fiscaliza quest?es de seguran?a e sa?de nas empresas nos EUA citou as f?bricas do Cutrale pelo menos 24 vezes por viola?es ?s?rias? desde que o Cutrale assumiu a dire??o das mesmas. ?Eu nunca conheci uma empresa t?o contra os trabalhadores quanto a Cutrale?, declarou Ken Wood, presidente de um grupo que representa os trabalhadores dessas f?bricas. O presidente da Cutrale Citrus Juices USA, Hugh Thompson, n?o quis comentar a respeito desses fatos, mesmo ap?s repetidas liga?es telef?nicas. Em Dezembro de 2004, a Justi?a brasileira ordenou que Cutrale fizesse as corre?es necess?rias em rela??o ?s pr?ticas da empresa, no que diz respeito aos trabalhadores, ap?s concluir que a empresa havia remunerado inadequadamente seus trabalhadores de campo e n?o os havia concedido benef?cios obrigat?rios por lei durante quase uma d?cada. E em janeiro, o Departamento de Com?rcio dos EUA imp?s uma tarifa de 19% ? Cutrale por vender suco a pre?os abaixo do mercado, o que resultou em perdas aos citricultores da Fl?rida. Esta foi a segunda tarifa atribu?da ao suco brasileiro desde 1987. Em uma entrevista concedida em Maio, Cutrale negou a venda de suco abaixo do pre?o de custo na Fl?rida e declarou respeitar qualquer tarifa imposta pelos EUA ou por outros pa?ses. ?Sabemos que estamos praticando nos EUA um pre?o mais alto do que em qualquer outro mercado?, declarou. ?N? temos nenhuma vantagem competitiva?. Cutrale recusou diversas outras solicita?es para conceder novas entrevistas desde ent?o. Cutrale, em documentos processuais, alega que sua empresa n?o ? respons?vel pelo pagamento de benef?cios aos colhedores de laranja pois estes n?o s?o funcion?rios da companhia e a planta??o de laranjas n?o faz parte de seu neg?cio principal. Em 1? de fevereiro, dois representantes da Cutrale iniciaram negocia?es com Garcia, associa?es e citricultores sobre colocar os colhedores de laranja na folha de pagamento da empresa. Cutrale liderou a expans?o que tornou o Brasil o maior produtor de suco de laranja do mundo. As exporta?es de suco de laranja concentrado congelado praticamente triplicaram desde 1980 para quase 1,4 milh?es de toneladas m?tricas em 2005, segundo a Abecitrus. O setor citr?cola se inicia com os citricultores. Cutrale compra 70% das laranjas processadas deles. O restante vem de produ??o pr?pria. O trabalho mais duro ? feito pelos colhedores de laranja, que em alguns casos trabalham diretamente para os fazendeiros e em outros para cooperativas ou associa?es que s?o contratadas pelos produtores. A empresa de Cutrale lucra transformando a laranja em suco concentrado e vendendo no mercado nacional e ? principalmente ? internacional. A sede da Sucoc?trico Cutrale Ltda. ? protegida por cercas de a?o duplas e port?es no meio de pomares de laranja. Oito executivos vivem em casas constru?das pela empresa dentro da pr?pria sede, que tem forma de cora??o e ? protegida por guardas armados. Cutrale raramente aparece em p?blico e seus meios de transporte mais utilizados s?o um helic?ptero e um jato particulares. A Sucoc?trico Cutrale fez de Araraquara a cidade da companhia, com um aroma de laranja permanente no ar devido ? f?brica de um quil?metro de comprimento. Durante as safras, caminh?es vindos de centenas de fazendas descarregam laranjas na f?brica, 24 horas por dia, onde elas sa? processadas e transformadas em suco concentrado congelado. Este produto ? transportado ao porto de Santos. L?, ? colocado em compartimentos refrigerados de navios e transportado para Newark, New Jersey (EUA), Rotterdam (Holanda) e Toyohashi (Jap?o). Cutrale vende aproximadamente 835 milh?es de gal?es de suco concentrado por ano. Isso representa um faturamento anual de US$ 840 milh?es, baseado na estimativa de pre?os do ano passado feita pelo Departamento de Agricultura dos EUA. Cutrale permanece lucrando enquanto seus concorrentes na Fl?rida lutam para reverter as perdas causadas por furac?es, doen?as e tr?s anos de pre?os em queda, afirma Marty McKenna, presidente do Florida Citrus Mutual, associa??o que representa 10.400 citricultores americanos. As tarifas impostas em janeiro s?o apenas um pequeno al?vio para as perdas provocadas pelos competidores brasileiros, segundo McKenna, cuja associa??o liderou as reclama?es contra a Cutrale ao Departamento de Com?rcio americano. A tarifa de 19% pode ser suspensa em 3 anos. ?H? uma desconfort?vel incerteza quando pensamos no futuro. As coisas podem estar bem agora, mas pensando a longo prazo ? dif?cil nos empolgar?, declarou McKenna. Marty McKenna sabe o que significa competir com Cutrale. Ele afirma que desde 2004 foi for?ado a vender mais de 15% (40,5 hectares) da propriedade de sua fam?lia em Polk County, no cintur?o citr?cola da Fl?rida, devido aos preju?zos acumulados. Isso ocorreu no per?odo em que Cutrale estava vendendo suco a pre?os predat?rios no mercado americano, na avalia??o do Departamento de Com?rcio dos EUA. ?N?s est?vamos com o mercado saturado na mesma ?poca e os brasileiros come?aram a trazer grandes quantidades de produto? alega McKenna, que trabalha na empresa de laranja de sua fam?lia h? 27 anos. Ele possui agora 520 acres de pomares e diz que a competi??o com os produtores brasileiros torna a expans?o de sua produ??o muito arriscada. McKenna paga aos colhedores de sua propriedade ? a maioria imigrantes mexicanos ? aproximadamente US$ 100,00 por dia, o equivalente ao pagamento de 12 di?rias de um colhedor brasileiro. O departamento de Com?rcio come?ou a amenizar o preju?zo dos produtores da Fl?rida em Agosto do ano passado, com uma manobra legal que fez com que o pre?o futuro do suco de laranja subisse em dezembro para US$ 1,30 por libra na Bolsa de Nova York ? o maior pre?o em sete anos ? ap?s o estrago causado pelos furac?es nos pomares da Fl?rida. Segundo Tom Spreen, do departamento de Alimentos e Recursos Econ?micos da Universidade da Fl?rida, a magnitude de Cutrale, lhe d? poder para influenciar os pre?os. Spreen foi conselheiro econ?mico dos produtores de laranja da Fl?rida durante a a??o que culminou com a cria??o da barreira tarif?ria ao suco brasileiro. O Brasil produz aproximadamente 1,6 bilh?es de gal?es de suco de laranja concentrado congelado por ano. 99% desta produ??o ? exportada para os EUA, Europa e ?sia, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA. Os citricultores da Fl?rida afirmam produzir 1,34 bilh?es de gal?es de suco concentrado e exportar 6% do total. ?O tamanho e escopo deles ? muito maior do que o da Fl?rida? segundo Bill Seabrook, analista financeiro da empresa A.G. Edwards & Sons Inc., de Orlando, Fl?rida. ?Cutrale est? sendo pressionado a reduzir custos ? medida que a concorr?ncia se expande? afirma Tom Spreen. A empresa Citrovita Agroindustrial Ltda., a 3? maior ind?stria de suco de laranja do Brasil, aumentou sua produ??o com a aquisi??o de f?bricas e pomares. Aproximadamente 18% do suco concentrado brasileiro que ser? produzido este ano ser? exportado aos EUA, prev? o Departamento de Agricultura americano. No Brasil, Cutrale reduziu seus custos terceirizando o servi?o de colheita de 70% das frutas processadas. Antes de 1995, Cutrale empregava os colhedores que supriam suas f?bricas, segundo o promotor Ricardo Garcia, e a empresa era respons?vel pelos sal?rios e benef?cios, como plano de sa?de e f?rias remuneradas. Em 1995, os colhedores concordaram em formar cooperativas, saindo assim da folha de pagamento do Cutrale. Hoje em dia, s?o os citricultores que pagam pela colheita de sua laranja. ?N?s somos respons?veis pelo pagamento dos sal?rios e benef?cios dos colhedores e o pre?o pago pela caixa de laranja pelas ind?strias n?o compensa?, afirma Domingos Odair Contreira, citricultor da regi?o de It?polis. Segundo Ricardo Garcia, a terceiriza??o da colheita permitiu que Cutrale n?o pagasse horas extras e outros benef?cios e a empresa ? alvo de 106 a?es ? n?mero recorde - de trabalhadores e associa?es, que alegam viola?es da legisla??o trabalhista por parte da ind?stria. Essas a?es ainda est?o tramitando, afirma Garcia. Desde 1996, promotores brasileiros processaram Cutrale quatro vezes por quest?es trabalhistas. Em dezembro de 2004, eles ganharam os processos e Cutrale foi obrigado a aceitar a legisla??o trabalhista. Em 1? de fevereiro, representantes da empresa afirmaram ao promotor que Cutrale seguiria as ordens do ju?z, contratando os colhedores que trabalhavam em seus pomares. ?N?s queremos estabelecer uma rela??o direta com os empregados. O que queremos, no momento, ? saber o que os promotores querem e atend?-los, pois n?o queremos mais briga com eles?. No entanto, Ricardo Garcia tem suas d?vidas, uma vez que a ordem judicial foi expedida h? mais de um ano e at? agora, nada foi feito. Na reuni?o feita em 1? de fevereiro, Garcia alegou que a proposta feita por Cutrale n?o acata totalmente a ordem do ju?z, de contratar diretamente n?o apenas os colhedores que trabalham em seus pomares, mas todos os colhedores que trabalham em pomares que fornecem laranja para a ind?stria. ?Ele procurou todas as brechas poss?veis para escapar do cumprimento da lei?. Cutrale passou os ?ltimos dois anos se expandindo. Ele comprou uma f?brica e pomares da Cargill Inc., a maior companhia agr?cola dos EUA, em julho de 2004. O valor da transa??o n?o foi revelado. O setor de exporta??o de suco no Brasil est? dividido entre quatro empresas: Cutrale; Fischer S.A. Agoind?stria - a segunda maior; Citrovita; e uma unidade da framcesa Louis Dreyfus & Cie. N?o h? dados confi?veis a respeito do tamanho de cada uma delas, uma vez que todas s?o empresas privadas e n?o divulgam suas informa?es financeiras. Citricultores afirmam que os processadores t?m lucrado mais do que os produtores na expans?o. As ind?strias utilizam seu poder de compra para manter baixos os pre?os pagos pela laranja, segundo Joaquim Dragone, que gerencia um pomar de 650 hectares em uma propriedade na regi?o de Araraquara. Ele alega que a empresa Cutrale n?o tem concorrentes. Uma vez feito um contrato de venda de laranja entre um produtor e uma ind?stria, ? dif?cil passar a fornecer para outra empresa pois as ind?strias evitam contratar fornecedores de suas concorrentes, alega Dragone. ?N?o ? um mercado livre. As ind?strias cuidam umas das outras. ? uma commodity, mas est? concentrada nas m?os de uma ?nica pessoa?, ele diz. Cutrale lucra mesmo tendo que enviar o suco concentrado em navios do porte de cargueiros de petr?leo aos EUA, pois os custos com m?o-de-obra no Brasil s?o apenas uma fra??o do custo nos EUA, segundo Tom Spreen, da Universidade da Fl?rida. Mesmo com a barreira tarif?ria de 29% imposta pelos EUA para proteger os citricultores da Fl?rida, Cutrale continua lucrando com o mercado americano. Numa reclama??o feita em 2004 ao Departamendo de Com?rcio americano, produtores da Fl?rida alegaram que as ind?stria de suco brasileiras haviam deprimido o pre?o do suco durante v?rios anos. Eles afirmaram que os pre?os mais baixos trouxeram preju?zos a produtores e ind?strias americanas. A Comiss?o de Com?rcio Internacional, uma ag?ncia independente do governo dos EUA que investiga viola?es ?s regras de importa?es e exporta?es, decidiu, em 08 de fevereiro, manter a barreira tarif?ria, julgando que as empresas produtoras de suco do Brasil causaram preju?zos econ?micos aos produtores da Fl?rida. Cutrale n?o estaria onde est? sem a ajuda dos processadores de suco da Fl?rida, que s?o seus rivais agora. O neg?cio de exporta?es de suco no Brasil teve in?cio em 1962, quando uma geada dizimou os pomares da Fl?rida. As ind?strias processadoras americanas ficaram desesperadas na busca por laranjas e conclu?ram que o Brasil, com sua abund?ncia de terra e baixo risco de geadas, seria um ?timo local para expandir a produ??o, segundo Tom Spreen. O pai de Jos? Luis Cutrale foi um produtor que se aproveitou da procura das ind?strias americanas por laranjas para substituir a produ??o destru?da na Fl?rida nos anos 60. Nessa ?poca, o pai de Cutrale administrava os pomares plantados por seu pai, um imigrante italiano, nos arredores de Araraquara. Em 1963, o Brasil exportou suco concentrado pela primeira vez, enviando 5.000 toneladas m?tricas para os EUA. Na metade da d?cada de 60, Jos? Cutrale havia se transformado em um exportador sem concorrentes. Ele faleceu em 2004. A citricultura brasileira era superada pela americana at? a d?cada de 80, quando geadas novamente dizimaram os pomares da Fl?rida, o que proporcionou a chance de crescimento da Sucoc?trico Cutrale e das demais ind?strias do Brasil. Jos? Luis Cutrale come?ou a trabalhar com seu pai aos 15 anos e hoje em dia, passa grande parte de seu tempo visitando clientes nos EUA, Europa e ?sia com o jato da companhia. ?Eu parei de estudar para trabalhar no setor citr?cola e continuo at? hoje?, Cutrale disse em sua entrevista em maio. ?Comecei nos pomares, colhendo laranjas?. Seus dois filhos s?o executivos da empresa. A revista Veja, a maior do Brasil, estimou que a fortuna da fam?lia Cutrale deveria ser de US$ 5 bilh?es em maio de 2003. O prefeito de Araraquara, Edinho Silva, alega que a fam?lia n?o ostenta sua riqueza e evita publicidade. Aproximadamente tr?s anos atr?s, Cutrale concordou em fornecer suco de laranja para 15.000 crian?as em um programa escolar, com uma condi??o, afirma Edinho. Cutrale exigia que a doa??o fosse confidencial. Cutrale tamb?m tem demostrado que entende de pol?tica. Em abril de 2002, ele solicitou que Edinho Silva conseguisse um almo?o num restaurante de S?o Paulo com o ent?o candidato ? presid?ncia da rep?blica, Lu?s In?cio Lula da Silva. Durante o almo?o, Cutrale concordou em oferecer a Lula assessoria sobre como impulsionar o crescimento econ?mico com exporta?es. ?Cutrale aparentou estar verdadeiramente interessado e apoiou Lula quando ningu?m mais do setor o fazia? afirmou o prefeito. Depois deste encontro, Cutrale acompanhou Lula em uma visita a Araraquara. Avelino da Cunha, presidente da uni?o de trabalhadores rurais de It?polis, afirma que Lula recusou se encontrar com ele e outras l?deres de entidades ligadas aos trabalhadores durante suas visitas ? regi?o. ?Quando Lula estava em campanha para conseguir votos, ele sempre se encontrava conosco em suas visitas ? regi?o. Agora ele s? quer se encontrar com Cutrale? afirma Avelino. Na Fl?rida, os l?deres de entidades ligadas aos trabalhadores tamb?m reclamam da falta de interesse de Cutrale. Quando Cutrale entrou no mercado da Fl?rida, a f?brica da Minute Maid em Auburndale tinha um recorde de 30 anos sem nenhuma greve. A outra f?brica, em Leesburg n?o possu?a uma uni?o de trabalhadores. Cutrale logo deu in?cio a uma campanha de redu??o de sal?rios e benef?cios na f?brica de Auburndale. Uma funcion?ria do departamento de recursos humanos da empresa, Sandra Martini, alegou em uma a??o trabalhista em julho de 2005 que os executivos da Cutrale a ordenaram que contratasse trabalhadores tempor?rios para preencher vagas reservadas aos membros da uni?o de trabalhadores. Esses novos funcion?rios deveriam investigar se os trabalhadores efetivos tinham um hist?rico de solicitar benef?cios por desemprego ou invalidez. Esse tipo de pesquisa ? ilegal, segundo a legisla??o trabalhista americana. O advogado de Cutrale, Wayne Helsby, afirma que est? aguardando documentos para responder ?s acusa?es. A a??o ainda est? tramitando na justi?a. Essas t?ticas espelham o que Cutrale fez no Brasil, segundo Avelino da Cunha. Uma equipe de inspetores ? contratada para detectar poss?veis viola?es nos pomares, tais como evitar a lei que exige que os colhedores recebam, ao menos, o sal?rio m?nimo de R$ 300,00, caso n?o tenham colhido laranjas suficientes para receber esta quantia. Entidades estimam que 40% dos 60.000 colhedores de laranja do estado de S?o Paulo ganhem menos que o sal?rio m?nimo e que metade destes trabalhadores n?o ganham os benef?cios exigidos por lei. Simpl?cio Amorim, o trabalhador de 55 anos que colhia laranjas sob forte chuva, alega ser mal-remunerado. ?O trabalho ? bom e ? o ?nico que consigo arranjar. Eu apenas gostaria de ser pago por ele?, ele declarou ao jornalista. Para conseguir sustentar a fam?lia, Simpl?cio, que estudou at? a terceira s?rie e nasceu em Alagoas, trabalha junto com a esposa, Marlene da Silva e o filho Jos? da Silva Amorim. Simpl?cio, cujo rosto queimado de sol e enrugado e as costas arqueadas s?o sinais claros de 15 anos trabalhando nos pomares, acordou ?s 4:30 da manh? com sua esposa para pegar um ?nibus de 30 anos utilizado para transportar os colhedores at? o campo. ?s 7 da manh?, eles est?o trabalhando em tr?s fileiras de ?rvores de 5 metros de altura, infestadas de moscas e encharcadas pela chuva. Eles passam o dia subindo e descendo de escadas de a?o para colher as frutas, apanhadas rapidamente e jogadas em sacolas. Ao meio-dia, eles se sentam sob uma ?rvore e comem sobras de arroz, feij?o preto e tomam caf?, trazidos de sua casa. O filho do casal, a algumas fileira de dist?ncia, diz que espera ainda colher 35 sacolas ? tarde. No entanto, no ritmo em que est?o, o casal n?o conseguir? apanhar laranjas suficientes para receber o valor m?nimo di?rio de R$ 12,50. Simpl?cio espera que o empregador pague a diferen?a exigida pela lei. ?Tenho f? de que ele ir? pagar?, ele diz. Em outro pomar, a 30 km de dist?ncia, Catarina Barbosa Martins est? curvada pelo peso de 10 kg de laranjas. Aos 56 anos, ela alega n?o ter mais for?as para colher mais de 25 sacolas por dia. Segunda ela, vem recebendo R$ 150,00 por m?s, metade do sal?rio m?nimo. Em setembro, inspetores de campo acionaram a empresa de colheita para a qual Catarina trabalha, exigindo o pagamento da diferen?a. ?Eu trabalho o dia todo nestes pomares, subindo e descendo essas escadas, para tentar sustentar meus dois filhos?, ela diz. Enquanto o imp?rio de Cutrale cresce, os trabalhadores que o constr?em s?o deixados para tr?s. Assim como os citricultores da Fl?rida. Marty McKenna, o citricultor americano que teve que vender 100 acres de sua propriedade nos ?ltimos dois anos, afirma ter perdido sua f?. Segundo ele, Cutrale ? dif?cil de ser vencido. (Cr?dito: Michael Smith - Bloomberg News)

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