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Agricultores voltam à greve na Argentina

31 de março | 2008

Produtores acusam governo de Cristina Kirchner de ‘intransigente’ e retomam os piquetes e paralisações


Ariel Palacios


Menos de 24 horas depois de suspenderem uma greve de magnitude sem precedentes, as quatro associações do setor agropecuário da Argentina decidiram retornar à paralisação de suas atividades, perante o que denominaram de “intransigência” do governo da presidente Cristina Kirchner. Os produtores também anunciaram que retomarão os piquetes nas estradas para impedir o trânsito de caminhões que transportam produtos agrícolas. Segundo as lideranças, a greve será realizada até a quarta-feira. Nesse dia, as associações realizarão uma nova reunião para avaliar a eventual continuidade do protesto. Os produtores afirmam que continuam abertos a negociações com o governo.

O pivô do conflito entre os produtores e Cristina Kirchner são os aumentos aplicados recentemente sobre as retenções das exportações de produtos agrícolas (no caso da soja elevaram os impostos de 35% para 45%). Os produtores argumentam que os aumentos de impostos – e o estabelecimento de retenções móveis, que variam de acordo com o preço internacional dos produtos – eliminam a rentabilidade do setor.

Segundo eles, o governo Cristina está levando à falência dezenas de milhares de pequenos produtores. As lideranças do setor também acusam a presidente de usar as retenções para manter artificialmente o superávit fiscal, que neste ano poderá chegar a 4% do Produto Interno Bruto (PIB).

Esta é a primeira greve que o setor agropecuário realiza com a adesão das quatro grandes associações de produtores. Com esta paralisação, que em sua primeira etapa prolongou-se por 16 dias, os agricultores transformaram-se no primeiro setor econômico argentino realizar um desafio prolongado e unificado contra o poder do “casal presidencial”, tal como são denominados a presidente Cristina e seu marido e antecessor, Néstor Kirchner.

“A única forma de suspender a greve é que o governo volte atrás, por 90 dias, nos aumentos sobre as retenções”, afirmou Pablo Orzolini, vice-presidente da Federação Agrária. Mas os principais ministros afirmaram às lideranças agropecuárias que o governo recusa-se a eliminar os aumentos.

Na quinta-feira, Cristina deixou claro que não negociaria com os produtores agropecuários enquanto não suspendessem a greve. “Não negocio com um revólver apontado para a cabeça”, esbravejou. Na sexta-feira, os produtores cederam e concordaram em suspender temporariamente a greve em troca de iniciar rodadas de diálogo com o governo Cristina. Mas, na virada da sexta para a madrugada do sábado, as reuniões na Casa Rosada terminaram sem avanços. Os produtores pediram a suspensão por 90 dias dos aumentos das retenções, medida que o governo rejeitou enfaticamente.

O governo, após indicar que as retenções continuarão sendo aplicadas nos atuais níveis, propôs em troca um plano de subsídios e créditos ao setor agrícola. Os produtores consideraram as propostas “insuficientes” e ameaçaram voltar à greve.

O Chefe do Gabinete de Ministros, Alberto Fernández, respondeu às ameaças, recordando que o governo poderá utilizar a Lei de Abastecimento, para garantir a provisão de alimentos. Com essa lei, o governo tem poderes para ordenar a prisão de empresários e confiscar produtos. Diante do impasse, os produtores decidiram retomar o protesto.


FONTE: O Estado de S Paulo 30/3/08