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Aprenda com os lobos

15 de abril | 2007

O que pode acontecer quando “força” não é companhada de “caráter”

Conheci certa vez uma empresa em que a diretoria estava muito feliz com o gerente do departamento que trazia os melhores resultados. Passado algum tempo, ao visitar a empresa, fiquei sabendo que ele havia sido demitido. Fiquei surpreso, mas depois entendi, pois o motivo não tinha a ver com os resultados financeiros. Nisso ele era bom. Já sua conduta ética… Houve um choque com os valores da organização. E para as empresas já não interessa mais apenas “resultado”, e sim “resultado sustentável”. É uma questão de sobrevivência de longo prazo.
Sustentabilidade significa que o sucesso de hoje não compromete o sucesso de amanhã. Atitudes antiéticas vão contra esse princípio. Para entender a posição dos líderes diante dessa realidade, podemos olhar o que acontece com alguns animais. Você já reparou que um cachorrinho quando leva uma bronca do dono costuma deitar de barriga para cima, o que gera uma imediata simpatia pelo danadinho? Ele faz isso porque reconhece a força de seu “oponente” e simplesmente não quer brigar, pede paz, se rende. Pois é, essa é mais uma herança do ancestral do cãozinho — o lobo.

Quando dois lobos disputam a liderança de uma matilha partem para o confronto físico até que um deles, derrotado, deita de costas no chão. É aí que reside a beleza dessa história: o outro lobo interrompe o ataque, deixando o vencido em paz, pois a intenção não é ferir ou matar o oponente, mas, apenas, vencê-lo na disputa pelo poder. Mas, veja só, se o lobo vencedor continuar a atacar o vencido, ele será rechaçado pelos demais, podendo até ser atacado pela matilha que iria liderar. Sem ter compaixão pelo vencido, ele demonstra fraqueza de caráter. Tem de mostrar respeito pelo vencido. Uau, ponto para os lobos!

Entre os humanos, demonstrações de caráter às vezes não são cobradas dos líderes, desde que eles entreguem resultados para a empresa. Se os números estiverem bons é porque a liderança está funcionando — dizem por aí. Esse raciocínio não está “errado”, pois mesmo os liderados se sentem bem quando os resultados são bons. Mas, cuidado. Ultimamente, “resultado” é diferente de “resultado a qualquer custo”, pois este não garante o “resultado sustentável”. Isso é importante porque a matilha, cedo ou tarde, vai se amotinar e negar a autoridade do tal líder sem caráter. Aí os resultados começarão a minguar.

Um líder de verdade carrega consigo um certo espírito de nobreza, capaz de angariar o respeito até dos adversários. Assim constrói a tal sustentabilidade. Se não for deste modo, vamos acabar dando razão ao empirista Thomas Hobbes, que disse que neste mundo estamos todos contra todos e que o verdadeiro lobo do homem é o próprio homem. Não precisa ser assim e, por ironia, podemos aprender com o próprio lobo!

Eugenio Mussak é professor e consultor. E-mail: eugenio@ssdi.com.br
Revista VocêSA
Figura – Roberto Weigand