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Associtrus reforça ações para combater a crise fabricada pelas indústrias de suco

27 de junho | 2013

Trabalho da associação não é a causa da crise e sim uma resposta às suas consequências. “A maior crise da citricultura foi criada sob o pretexto de queda da demanda mundial do suco de laranja. Porém o fato é que a oferta vem caindo mais do que a demanda, tanto que a Coca-Cola acaba de investir US$ 2 bilhões no plantio de novos pomares de laranjas em parceria com a Cutrale e a Peace Rivers”.

As indústrias de suco de laranja dão sequencia à sua arte de abastecer a imprensa com informações irreais a respeito do mercado de suco internacional e dos estoques, que mudam de acordo com os interesses das próprias indústrias em manipular os mercados em que atuam.

O estoque inicial de julho de 2012 divulgado pela CitrusBr era de 555 mil t, enquanto o USDA apontava inicialmente para um número de 240 mil t, posteriormente corrigido para 440 mil t, após as industrias terem retificados informações anteriormente repassadas ao USDA; mesmo após a correção, restou uma diferença superior a 26%. É importante frisar que números do USDA são fornecidos pela indústria. O governo teria auditado os estoques, porém os resultados não foram divulgados.

Matéria publicada pelo jornal O Estado de São Paulo em sua editoria de Economia e com o título “Exportadores de suco de laranja se voltam para o Brasil” comprova o poder econômico e de informação que as processadoras de suco detêm. Segundo texto, a queda no consumo de suco de laranja deve-se às mudanças de hábitos dos norte-americanos que tiraram o suco pronto do cardápio.

A Associtrus informa que há dois mercados de suco: o mercado norte-americano, abastecido pela Florida; e os demais mercados, abastecido pelo Brasil. “A contração de demanda se dá no mercado americano, onde apesar dos altos estoques, ao contrário do Brasil, os citricultores tem tido suas safras comercializadas e preços ascendentes”, frisa o presidente da Associtrus, Flávio Viegas.

O mais estranho é que, apesar da “crise” apresentada pelas indústrias, o mercado mundial de sucos, no qual o suco de laranja ocupa cerca de 40%,, que atingiu em 2010 um valor de US$ 95 bilhões, cresceu 32% em relação a 2006, segundo fonte Mintel. “Houve um crescimento de 180% no valor das exportações brasileiras de suco de laranja, entre as safras 2001/2002 e 2011/2012, enquanto os volumes exportados decresceram apenas 9% no mesmo período”, observa Viegas chamando a atenção também para os últimos investimentos de US$ 2 bilhões da Coca-Cola em parceria com a Cutrale e a Peace Rivers no plantio de 25 mil hectares de novos pomares na Flórida. “Se não há consumo, porque a Coca-Cola e a própria Cutrale investiriam bilhões em novos pomares?”.

Informações desencontradas – Para confundir ainda mais a cabeça do produtor, do governo e da própria imprensa, as indústrias de suco, representadas pela CitrusBr, se organizam para “ajudar” o país a superar a crise de consumo mundial de suco de laranja, criando uma empresa que levará às prateleiras dos supermercados brasileiros o suco tipo exportação, feito com 100% de laranja. A empresa reunirá produtores e indústrias para divulgar a marca, tarefa até então atribuída ao Consecitrus, modelo sugerido há dez anos pela Associtrus e que agora passou a ser utilizado pela indústria na tentativa desesperada de ver a operação de fusão entre Citrovista e Citrosuco ser aprovada pelo Cade, bem como terem amenizadas as penas dos processos de cartel à que respondem no órgão, há pelo menos dez anos.

Segundo a CitrsuBr, o negócio deve entrar em operação ainda neste ano e a previsão é de que consuma R$ 9,7 bilhões em investimentos até 2020. “O investimento no mercado interno é importantíssimo mas isto não tem nenhuma vinculação com a criação do verdadeiro Consecitrus”, declara Viegas.

O Consecitrus – O Consecitrus das indústrias reunirá a CitrusBrasil, representando as indústrias do setor, e, do lado dos produtores, a Sociedade Rural Brasileira, a Alicitros, que congrega produtores de laranja de Limeira, no interior de São Paulo, e a cooperativa Cocamar, do Paraná, que conta com produtores de laranja do Norte e Nordeste do Estado. A indústria tentou excluir do processo, as duas maiores entidades representativas dos produtores independentes: Associtrus (Associação Brasileira de Citricultores) e Faesp (Federação de Agricultura do Estado de São Paulo) em função das mesmas não concordarem com a imposição das indústrias de se criar um mecanismo onde apenas os interesses das próprias indústrias são levados em conta em detrimento do real objetivo do Consecitrus que é reestabelecer o equilíbrio no setor. .

O Consecitrus proposto pela Associtrus terá representantes empenhados no restabelecimento da concorrência, redução da verticalização, no reequilíbrio das relações entre produtores e indústria, na transparência das informações, na participação dos produtores, proporcionalmente aos custos e riscos por eles incorridos na renda do setor, combate ao subfaturamento, evasão fiscal e cambial, entre outras ações necessárias para garantir a competitividade do setor e a criação e distribuição de empregos e renda, que estão sendo destruídos pelo modelo de citricultura que vem sendo imposto pela indústria. “O Consecitrus representa uma oportunidade, mas também um risco, se for controlado pela indústria como ocorreu com o Fundecitrus, do qual a Associtrus foi co-fundadora e depois foi substituída por produtores amigos da indústria, que pensam como ela e aprovam a política excludente praticada pelo cartel nos últimos 20 anos. Eles acreditam que serão por ela beneficiados quando restarem no setor as indústrias e seus 200 amigos, como nos antecipou um expoente da indústria em 2003. Na mesma ocasião as indústrias revelavam o plano de excluir do setor 92,5% dos citricultores então rotulados de “ineficientes” em editorial da Abecitrus de agosto de 2003, assinado pelo seu presidente Ademerval Garcia”, finaliza Flávio Viegas.

Ações – A atuação verticalizada e cartelizada das indústrias de suco tem sido danosa aos produtores rurais. Basta analisar os dados de preços de venda de suco declarados pelas empresas FOB Santos (Secex) e FOT Roterdã (Foodnews) para verificar o que ocorre. O faturamento declarado cresceu da safra 2000/01 para a 2012/13 179% passando de um faturamento de 878 milhões de dólares com volume exportado de 1,2 milhões de toneladas de suco para a safra 2012/13 com faturamento de 2,45 bilhões e volume exportado de 1,15 milhões de toneladas (equivalentes FCOJ ou caixas processadas). “Se tomarmos período menor para minimizar efeitos de inflação e analisarmos da safra 2005 para frente observamos que saímos de um valor (declarado pelas próprias empresas) de faturamento de 1,11 bilhões para 2,45 bilhões dólares. Crescimento de 120% no faturamento declarado ao governo com mesmo volume exportado”, observa Frauzo Ruiz Sanches, presidente do Sindicato Rural de Ibitinga e Tabatinga.

Como num mercado onde o preço do suco e de seus subprodutos vêm batendo recordes consecutivos e constantes há pelo menos cinco safras, o setor processador paga preços tão baixos aos produtores? E como na safra passada as indústrias se recusaram a comprar as frutas dos produtores independes justamente no período de maior preço da história?

Dados alarmantes – Segundo a Coordenadoria de Defesa Agropecuária do Estado de São Paulo (CDA) – tendo como base os dados do relatório do greening – saíram da atividade 2.225 propriedades o que corresponde a quase 2.000 produtores em apenas um ano (2011-2012). Ainda segundo dados do IEA (Instituto de Economia Agrícola) e da CDA, no ano de 1995, as empresas tinham 10 milhões de caixas próprias. Na última safra, segundo dados da CitrusBr, esse valor chegou a 120 milhões de caixas próprias (crescimento de 1200% em 17 anos). “A falta de informação e confiança é muito grande. Como exemplo tivemos as diferenças de estoques de suco do ano passado entre USDA e CitrusBr e, agora, a estimativa de safra, que mesmo com os ajustes metodológicos ainda não explica a diferença. Outro fator que nos chama a atenção é que as mesmas industrias que compram mais de 90% da produção nacional para suco também compram 70% da produção na Flórida e lá pagaram entre US$ 10,00 e US$ 14,00 por caixa na safra passada e, na safra em curso, estão pagando US$ 12,00. Como conseguem pagar esses valores na principal região que sofreu queda de consumo? Nem todos os impostos e proteções impostas ao suco brasileiro justificam tamanha discrepância de valores”, observa Frauzo frisando que “não queremos nenhuma operação “caça às bruxas” contra as industrias, mas o que está sendo feito com milhares de produtores, suas famílias e funcionários é algo que nunca foi visto na história deste país, por isso não podemos ficar calados. Os números gritam”.