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Cana avança em Itápolis: maior pólo citrícola da região

19 de dezembro | 2005

O setor canavieiro avançou 93%, nos últimos cinco anos, na área plantada na zona rural de Itápolis, o maior pólo citrícola da região. O dado é do Sindicato Rural de Itápolis (SRI), que credita este aumento da cana sobre a laranja à crise pela qual os produtores de cítricos estão passando, causada pela incidência de doenças e pragas, pelo alto custo de produção e pela baixa remuneração.

“Todos estes fatores estão impulsionando a migração da citricultura para o setor sucroalcooleiro”, justifica o presidente do SRI, Valdir Buttarello.

Atualmente, a cidade tem o maior Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário do País, com um valor adicionado de R$ 654.180,00 mil. “A marca alcançada pela cidade está ligada diretamente à citricultura. Devido ao atual momento do setor, a tendência é que os próximos resultados do PIB sejam bem diferentes”, alerta.

É em Itápolis que a Cutrale, maior exportadora mundial de suco concentrado, centraliza seu projeto de produção mais ambicioso, com investimentos de US$ 50 milhões. O projeto, porém, ainda não avançou, segundo os sindicalistas.

O sindicato calcula que Itápolis tenha cerca de 1,8 mil propriedades rurais, a maioria com menos de cem alqueires, sendo mais de 92% delas ocupadas por pomares de laranja. “São mais de 1,3 mil proprietários rurais e 1,2 mil são citricultores”, acrescenta Buttarello, para enfatizar a importância da cultura para a economia da cidade.

Segundo o sindicalista, que também é citricultor, nos próximos dois anos, pelo menos 200 proprietários devem partir para a cana-de-açúcar.

“A laranja sempre foi a cultura de ouro, mas agora a realidade é triste. A cana-de-açúcar, que até então não era considerada uma produção vantajosa, está dando mais dinheiro”, argumenta. O sindicalista diz que não tem os cálculos do quanto hoje a cana é mais rentável que a laranja, mas salienta que a mudança de cultura está sendo a única maneira encontrada pelos produtores rurais para continuarem a sobreviver dos proventos da terra.

“Outra alternativa mais triste e mais prejudicial é abandonar tudo e se aposentar, mas quem tem terra quer viver dela”, lamenta.

Este ano, o sindicato buscou algumas alternativas de investimentos, que ainda estão em fase de teste como, por exemplo, a extração de óleo de girassol, para produção do biodisel. “A saída da citricultura está sendo encarada como uma realidade, por isso, temos que buscar alternativas”, afirma Buttarello.

Para simbolizar as dificuldades enfrentadas pelos produtores rurais, na próxima terça-feira, o sindicato fará o enterro da citricultura.

Os agricultores farão uma passeata até a Prefeitura para pedir apoio da indústria e do Governo Federal. “Queríamos que eles olhassem com mais carinho para uma cultura tão importante que rende tantas divisas para o País, mas que não é bem distribuída”, concluí o sindicalista.

Mapa admite vantagem do setor canavieiro em relação à laranja

O secretário de Política Agrícola, do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), Ivan Wedekin, que esteve na última semana, na Unesp em Jaboticabal reunido com os membros da Câmara Setorial da Citricultura, admitiu que a citricultura enfrenta hoje problemas sanitários e a competição com outras culturas que estão rendendo mais, como a cana-de-açúcar. “Na região, o setor canavieiro está muito forte e está querendo espaço. Todo e qualquer pomar que não está produzindo bem, é visto como oportunidade”, afirmou Wedekin.

Segundo o presidente do Sindicato Rural de Itápolis, Valdir Buttarello, muitas usinas estão observando as dificuldades da citricultura e pressionando os produtores a migrarem de cultura.
As dificuldades do setor citrícola não são recentes. A Associação dos Citricultores (Associtrus) editou em abril um manifesto da citricultura pedindo mais atenção e cobrando da indústria preços mais justos pela caixa de 40,8 quilos, que atualmente é vendida por uma média de US$ 3. Para contornar a crise, também desde o início do ano, produtores e indústria discutem a elaboração um contrato padrão, mas até agora, não houve consenso (Fernanda Manécolo)

Cenário do maior PIB agrícola do País *

* Em 2000, Itápolis tinha aproximadamente 2 mil hectares de cana-de-açúcar
* Atualmente este número está próximo de 30 mil hectares
* Até 2007, a estimativa é que 100 mil hectares de Itápolis estejam tomados pela cana
* Itápolis tem 1.800 mil propriedades rurais e a maioria tem menos de 50 alqueires
* São aproximadamente 1.300 produtores na cidade, dos quais, 1.200 são citricultores
* Cerca de 200 produtores devem migrar para a cana-de-açúcar nos próximos dois anos
* Dados do Sindicato Rural de Itápolis

(Crédito: Fernanda Manécolo – Tribuna Impressa de Araraquara)