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Citricultores e indústrias de suco precisam se entender

12 de outubro | 2005

Em fevereiro deste ano a Tribuna publicou editorial mostrando a necessidade de citricultores e indústrias de suco se unirem para superar os desafios enfrentados pelo setor e para afirmar a liderança brasileira no mercado mundial de suco de laranja. Agora, após novos desdobramentos, este objetivo se tornou ainda mais importante.
Conforme já destacamos, manter liderança mundial no longo prazo é muito trabalhoso. O setor citrícola brasileiro luta permanentemente por novos mercados e contra barreiras tarifárias, subsídios e outras políticas de proteção agrícola. Para completar, novos desafios e oportunidades que surgiram nos últimos meses tornam a união de forças ainda mais relevante e urgente.

Um novo desafio que o setor citrícola brasileiro enfrenta é a greening, praga que avança em ritmo acelerado e já atinge 80 municípios. A greening mata árvore e frutos, torna os pomares inviáveis comercialmente e não tem cura – é preciso erradicar a planta assim que o caso é diagnosticado. Já foram eliminadas cerca de 258 mil árvores em São Paulo e mais de 300 mil aguardam erradicação. O controle da praga é dificultado pela baixa remuneração da laranja hoje. Os defensivos agrícolas utilizados no seu combate são caros e inviáveis para muitos citricultores. Muitos deles também esperam meses antes de arrancar as árvores doentes, para aproveitar o que ainda produzem.

Mas outra questão desafia ainda mais o crescimento e a manutenção do setor citrícola brasileiro: a expansão da cana-de-açúcar. A cana é a bola da vez. Subsídios ao açúcar de beterraba europeu caem a cada dia. Os preços internacionais do açúcar, historicamente altos, tendem a continuar subindo, remunerando melhor a indústria canavieira. Já o álcool é a grande aposta da agricultura brasileira. Fenômenos naturais, como os furacões, vêm comprovando a tese do aquecimento global e reforçam a necessidade de uma fonte de energia menos poluente que o petróleo. Também, o sucesso de vendas dos autos bicombustíveis é uma realidade de mercado. É quase certo que haverá falta de álcool no mundo, sendo o Brasil provavelmente o único país com capacidade para abrir fronteiras e suprir a demanda mundial excedente do produto. O grande interesse de empresas de agronegócios em adquirir usinas na região reflete estas novas oportunidades de mercado.

Pomares de laranja improdutivos já estão perdendo espaço para a cana na região. De acordo com o Escritório de Desenvolvimento Regional (EDR) Agrícola de Araraquara, nos últimos sete anos a cana-de-açúcar cresceu 66%, enquanto a laranja praticamente estagnou, crescendo apenas 9%. O estudo revela que a área de canaviais já é 100% maior que a cultivada com laranja. Segundo o engenheiro agrônomo da EDR Carlos Cavasin Júnior, em comparação com a laranja, a cana vem remunerando melhor o produtor desde os anos 80.

Por outro lado, novas oportunidades de mercado se abrem internacionalmente para o setor citrícola brasileiro. No ano passado, os furacões que atingiram a Flórida espalharam o cancro cítrico para praticamente todos os pomares. Estima-se que mais de 7 milhões de árvores devam ser erradicadas por causa do cancro. Com efeito, segundo o Departamento de Agricultura americano, desde 2000 houve diminuição de cerca de 20% dos pomares ocasionada pelas pragas e por outras razões, como especulação imobiliária e falta de mão-de-obra. Com isso, a citricultura norte-americana já diminuiu sua produção, abrindo novas oportunidades para o suco de laranja brasileiro.

Diante desse cenário – em que o setor citrícola brasileiro tende a ter uma produção menor, mas ao mesmo tempo oportunidades de mercado maiores –, produtores e indústrias deveriam estar trabalhando por um objetivo comum: uma sólida parceria de longo prazo. Porém, o que se vê é exatamente o oposto: continuam mais focados em disputas do que em entendimentos. Recentemente, a aprovação pelo Cade da aquisição dos ativos de suco da Cargill por Citrosuco e Cutrale levou a uma troca de acusações dentro do setor que azedou ainda mais as relações. O presidente da Abecitrus, Ademerval Garcia, chamou a Associtrus de “inimigo dentro de casa”. O presidente da Associtrus, Flávio Viegas, rebateu as críticas acusando a Abecitrus e o setor industrial de “esconderem dados de processamento e de estoques”.

O “bate-boca” só piora uma situação que já não é favorável. O que realmente interessa, hoje, é que citricultores e indústrias achem um denominador comum, que permita que a indústria obtenha segurança no suprimento da fruta e o produtor, margem adequada com a venda da mesma. Para isso, o setor citrícola precisa começar colocando em prática uma parametrização para os contratos de fornecimento de laranja, seguindo o exemplo do setor de açúcar e álcool, no qual os preços dos contratos são calculados pelos índices do Consecana. Também é vital o reforço da parceria por meio do Fundecitrus, para descobrir novas formas de combate às devastadoras pragas.

O setor precisa superar os desafios e aproveitar as oportunidades de mercado, em uma relação “ganha-ganha” para ambas as partes, aparentemente antagônicas, mas que na realidade são elos de uma mesma corrente de riqueza.

(Crédito – Tribuna Impressa de Araraquara)