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Editorial
Citricultura em risco
19 de outubro | 2016
Por
Flávio Viegas
Presidente da Associtrus
Nos próximos dias o Fundecitrus deverá publicar uma reestimativa da safra de laranja no Estado de São Paulo, onde se concentra a maior parte da citricultura brasileira e que influencia toda a citricultura brasileira.
A publicação de uma estimativa de safra foi um avanço e uma conquista dos citricultores depois de décadas de manipulação das informações por parte das processadoras. Muitas informações ainda precisam ser compartilhadas como os volumes e preços do suco de laranja NFC e FCOJ a granel e de comercialização ao consumidor, nos diversos mercados.
Na estimativa publicada em maio de 2016, a produção estimada foi de 245,74 milhões de caixas de 40,8 kg, uma quebra de 18,26% em relação ao fechamento da safra anterior.
Este nível de produção havia sido superado no início da década de 1990; o fator mais preocupante é a queda da produtividade por árvore que era da ordem de 2,2 cx.na época mas vem caindo de ano a ano e atinge nesta previsão 1,4 caixas por árvore. Embora grande parte da quebra de produção seja decorrente das altas temperaturas em setembro do ano passado, a queda contínua de produtividade está ligada a outros fatores, sendo o principal os baixos preços recebidos pelos citricultores, como temos demonstrado em artigos anteriores. A falta de concorrência e a verticalização da produção permitem que as indústrias controlem os preços, que vêm sendo mantidos em níveis inaceitavelmente baixos e totalmente descolados dos fundamentos do mercado.
A queda da produção vem reduzindo o estoque no Brasil que era de 509 mil t no início da safra 2012-13, tendo atingido no início da safra atual 161 mil t e deve terminar a safra com 123 mil t, segundo levantamentos do USDA. Esse nível de estoque, que corresponde a menos de 50% do estoque necessário para a manutenção do fluxo das exportações de suco de laranja do Brasil, vai limitar as exportações ao volume produzido na safra atual de 885 mil t, uma redução de 26,2% em relação à média dos últimos 10 anos, que foi da ordem de 1200t/ano.
Apesar disto, os preços atuais apenas cobrem os custos de produção, que estão na faixa de R$ 18 a R$20/ caixa de 40,8 kg, menos de US$ 6/cx., menos da metade do preço recebido pelos citricultores da Flórida. Os custos de logística, comercialização e vendas, acrescidos dos custos administrativos e financeiros, que poderiam explicar esta diferença, não atingem US$1/caixa.
A única explicação para o baixo nível de preço pago pela indústria é o poder de mercado decorrente da concentração e da verticalização. No relatório do Fundecitrus pode-se verificar que 158 das propriedades concentram praticamente 50% do parque citrícola levantado, sendo essas propriedades, em sua maioria, das próprias indústrias.
Enquanto a citricultura brasileira vem sendo dizimada pelo oligopólio investigado desde 1999 por cartel, nos EUA o estado da Flórida incentiva o replantio dos pomares de laranja com US$ 250.000,00 por produtor, incentivo que se soma aos incentivos federais e municipais já existentes.