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Citros: guerra entre indústria e produtor ameaça Fundecitrus

29 de novembro | 2005

Ribeirão Preto – A guerra entre a indústria brasileira processadora de suco de laranja e citricultores ameaça o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), uma das principais instituições de pesquisa do setor no mundo. A indústria decidiu que não irá mais assumir um déficit de R$ 8 milhões no orçamento anual de R$ 42 milhões do Fundecitrus e que irá passar ao produtor a gestão do centro de pesquisa, hoje a cargo do presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Citros (Abecitrus), Ademerval Garcia.

“O Fundecitrus trabalha para a plantação de árvores e não para a produção de suco de laranja. A indústria quer continuar colaborando, mas só pela quantidade de árvores que ela possui”, afirmou Garcia.

O orçamento do Fundecitrus deveria ser formado pela contribuição de R$ 0,18 por caixa processada pela indústria, metade do valor a cargo do produtor e metade das empresas. O rombo nas contas do Fundecitrus viria, segundo a indústria, de aproximadamente 60 milhões de caixas cujos produtores não autorizam a cobrança da ajuda ao Fundecitrus. “A indústria tem de pagar a conta dela e também do produtor, já que o compromisso da indústria é recolher no processamento”, afirmou Garcia.

Além de passar a gestão aos produtores, a indústria sugere que seja cobrada a taxa para manter o Fundecitrus também dos citricultores cujas frutas vão o mercado interno, para exportação de frutas frescas e ainda dos viveiristas. “Atualmente, são produzidas 18 milhões de mudas por ano que são beneficiadas pelos estudos do Fundecitrus, mas cujos viveiristas não contribuem”, explicou Garcia.

Além da questão financeira, a indústria sempre é cobrada pelos citricultores para que tenha mais transparência na divulgação dos números de produção nas unidades, já que o total processado definiria o orçamento do Fundecitrus. “A indústria entende que não é possível, por questões estratégicas, em um mercado que tem quatro empresas, abrir números de processamento. Por isso, a indústria vai continuar a contribuir com suas árvores, mas passará a gestão aos produtores”, reafirmou o presidente do Fundecitrus e da Abecitrus.

No próximo dia 13 de dezembro, em uma reunião do conselho da entidade, o assunto será o principal item da pauta. Além de sugerir que os produtores elejam o novo presidente do Fundecitrus, as empresas processadores admitem que o conselho gestor tenha paridade entre as partes, pois hoje é formado por seis representantes da indústria e quatro dos citricultores.

O presidente da Associação Brasileira e Citricultores (Associtrus) e da Câmara Setorial da Citricultura, Flávio Viegas, considerou positivo o fato de os produtores assumirem a gestão do Fundecitrus, apesar de duvidar que isso venha a ocorrer. “Se a indústria abrir cadeiras para nós no Fundecitrus e nos passar a gestão da entidade, seria excelente. Poderíamos assim abrir a caixa-preta que é a instituição, cujas informações só privilegiam as processadoras”, afirmou Viegas.

O presidente da Associtrus disse ainda que indústria, ao não divulgar os dados de produção, pode recolher a contribuição por menos caixas de laranja, processar mais e deixar de contribuir para o Fundecitrus. “Nós fomos informado que, em uma das safras passadas, a indústria processou 330 milhões de caixas e recolheu a contribuição de apenas 233 milhões. Com isso, só o produtor contribuiu”, concluiu Viegas, que admite ser um dos citricultores que não recolhe a contribuição ao Fundecitrus por considerar que a indústria não é transparente na divulgação dos dados.


(Crédito: Gustavo Porto – Agência Estado)