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Com maior espaço no varejo brasileiro, suco de laranja estimula novas apostas

28 de outubro | 2014

Por Fernando Lopes | De São Paulo

Pequenas e médias empresas aproveitam a ociosidade de fábricas das grandes indústrias (foto) para processar a fruta Decrescente desde o início da década passada no mercado internacional, a demanda por suco de laranja integral, sem adição de água ou açúcar, continua a dar sinais de que tem potencial para crescer no Brasil. Apesar de ainda enfrentar na arraigada “cultura do espremedor” e nos preços mais elevados que o de bebidas concorrentes fortes barreiras no país, o suco de laranja pronto para beber, sob o apelo da praticidade, lentamente conquista consumidores em grandes capitais e no interior de São Paulo, Estado que abriga o maior parque citrícola do planeta.

De olho nesse potencial, a Cooperativa dos Agropecuários Solidários de Itápolis (Coagrosol), um dos municípios que lideram a produção paulista de laranjas, é o mais recente exemplo de um grupo de porte ainda pequeno que começou a explorar esse mercado ou passou a direcionar uma parte maior da oferta de suco integral ao varejo doméstico. Na semana passada, lançou a marca Direto da Fruta em um supermercado da rede gaúcha Zaffari na capital de São Paulo e já espera que as vendas no país superem as exportações pela primeira vez desde sua fundação, em 2000.

Reginaldo Vicentim, vice-presidente da Coagrosol, lembra que, quando seu pai e outros 34 produtores criaram a cooperativa, o foco era única e exclusivamente o mercado externo. Nos últimos anos, em virtude da lei que obriga prefeituras a adquirirem parte de suas compras de alimentos de agricultores familiares, o mercado interno começou a ganhar importância. E agora, com vendas no varejo, o front doméstico conquistou um status mais estratégico.

Atualmente, a Coagrosol produz 40 mil litros de suco de laranja por mês e seu faturamento está estimado em R$ 21 milhões em 2014 – cerca de 50% do total já proveniente das vendas no país, ancoradas nas prefeituras. Segundo Vicentim, os 350 cooperados que hoje fazem parte do grupo, que colhem 600 mil caixas de 40,8 quilos de laranja em uma área de atuação que envolve uma dezena de municípios, já têm condições de ampliar o fornecimento de frutas para a produção de 1 milhão de litros de suco de laranja por mês se houver demanda.
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Desde o início das atividades, as frutas colhidas pelos citricultores do grupo são processadas em equipamentos de terceiros, inclusive das grandes indústrias – Cutrale, Citrosuco e Louis Dreyfus Commodities, que dominam os embarques brasileiros e globais de suco de laranja. “Temos que apostar no mercado interno, que ainda é pouco explorado. Não é fácil, porque a cooperativa é pequena, mas temos um produto de qualidade e podemos crescer”, afirma Vicentim.

Paulo Celso Biasioli, que no passado foi executivo de grandes indústrias e hoje é sócio da Crop Consultoria, lembra que entre as dificuldades enfrentadas por players de pequeno porte nessa área estão a carga tributária, os custos elevados de embalagens e transporte e a própria instabilidade do sabor da bebida produzida, que pode variar conforme a época do ano. “O problema da qualidade é inevitável. Para contorná-lo, é preciso investir em estocagem. O problema é que, muitas vezes, esse custo é transferido ao produto final, que fica caro ao consumidor”.

Conforme o consultor, há capacidade disponível em fábricas de suco instaladas em São Paulo e em outros Estados para fomentar muitas outras iniciativas como a da Coagrosol. Em seus cálculos, as extratoras já instaladas podem esmagar mais de 400 milhões de caixas de laranja por ano. A CitrusBR, entidade que representa Cutrale, Citrosuco e Dreyfus, estima que, no total (incluindo empresas não associadas), menos de 260 milhões de caixas serão processadas nesta safra 2014/15 em São Paulo e no sul de Minas Gerais, que respondem por mais de 90% da produção nacional de suco. O volume previsto inicialmente era maior, mas houve perdas por causa da estiagem.

Estima-se que o processamento para a produção de suco integral pronto para beber destinado ao mercado interno absorverá apenas 2 milhões de caixas, suficientes para a fabricação de cerca de 16 milhões de litros. Fontes do segmento projetam que, com desoneração, embalagens adequadas e melhor estrutura de distribuição, as vendas no país poderão representar, no futuro, 20% da produção total. E há outros players, além da Coagrosol, interessados em que esse crescimento se confirme.

Com sede em Jarinu, na região de Campinas, a Natural One, é um deles. Liderada pelo empresário Ricardo Ermírio de Moraes, filho de Ermírio Pereira de Moraes e ex-executivo da Citrosuco, a empresa é mais diversificada, com um leque mais amplo de bebidas e sucos de outros sabores, mas também tem feito uma forte investida para elevar as vendas de suco de laranja 100% no varejo doméstico. Um dos diferenciais do produto da marca é a embalagem. Diferentemente da Direto da Fruta, da Coagrosol, ou mesmo de marcas tradicionais como Fazenda, que usam embalagens cartonadas, ou Xandô, vendidas em garrafas de plástico, a Natural One aposta no pet asséptico, em tamanhos diferenciados – há uma versão de 4 litros, por exemplo.

E, de acordo com o consultor Paulo Biasioli, que também é diretor-executivo da Associação de Citricultores da Região de Limeira (Alicitros), há iniciativas que ganham corpo em Bebedouro, também no interior paulista, e em municípios do Paraná, no Rio Grande do Sul e na Bahia, entre outros.