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Desafios da citricultura na Flórida
29 de novembro | 2005
Urbanização e doenças criam um futuro incerto para a citricultura.
Lakeland – Quando o estudante Jason Johnson se formar na faculdade, mês que vem, no curso de produção de citrus, há grandes chances que ele vá procurar emprego na área de paisagismo, ao invés do setor citrícola, que movimenta US$ 9 bilhões. Faz mais sentido, economicamente.
“Eu e meu colega de quarto decidimos que vamos parar de cultivar pés de laranja e começar a cultivar casas” diz Johnson, um aluno de 26 anos do Florida Southern College, na cidade de Lakeland, Flórida. “Eu amo a indústria citrícola. Ela faz parte de mim. Mas, ao mesmo tempo, você vê a urbanização despontando, mais casas sendo construídas e o que você faz? Coloca plantas ao redor delas.”
A urbanização, os furacões e os problemas fitossanitários estão transformando a indústria que produz os pomares que são a marca registrada da Flórida, deixando um futuro menos promissor para as próximas gerações de citricultores, gerentes de produção e comerciantes de citros. Ninguém prevê o fim da atividade, mas nos últimos dois anos houve uma queda significativa no setor, aliada ao crescimento da produção de hortaliças, que agora ocupa um espaço territorial maior que a tradicional citricultura no estado.
Estima-se que o furacão Wilma tenha destruído 17% da safra deste ano, um ano após três outros furacões terem reduzido a produção de citros no estado em 42% em relação à safra anterior. Para agravar a situação, os furacões espalham o cancro cítrico, uma doença causada por bactérias que não atinge os seres humanos, mas pode ocasionar a perda de frutos e folhas nas árvores. Outra doença ainda mais grave, o greening, surgiu este ano em áreas de produção de citros da Flórida que já vinham enfrentando problemas de desenvolvimento com a migração de uma parte significativa de sua população para o norte do estado.
O condado de Polk lidera os condados produtores de citros no estado, com 95.505 acres de pomares comerciais em 2004 e foi o segundo colocado em produção de citros na safra 2004-2005 com 28,4 milhões de caixas colhidas.
Os desafios atuais ameaçam excluir do Mercado mais empresas familiares, deixando as empresas maiores. Outra mudança que pode ocorrer é uma diminuição no ciclo de renovação dos pomares. Com as novas doenças que vêm assolando o setor, as plantas que antes duravam décadas terão uma vida útil de aproximadamente 15 anos.
Ao mesmo tempo em que a área plantada vem diminuindo progressivamente na Flórida desde os anos 90, a quantidade de frutas produzidas vem aumentando devido a um adensamento nas plantações desde as geadas dos anos 80.
A Flórida é responsável pela produção de mais de um quarto do total de grapefruit consumido mundialmente e por 35-40% do volume de suco de laranja. O maior produtor de suco de laranja é o Brasil.
No entanto, o valor da citricultura da Flórida foi abalada pelos furacões do ano passado, decaindo para US$ 742,2 milhões, o valor mais baixo dos últimos 20 anos.
Os pomares da costa sudeste e do centro do estado estão desaparecendo, enquanto os terrenos estão ficando mais caros e mais atrativos às construtoras, ocasionando uma mudança geográfica dos pomares para o canto sudoeste da Flórida, onde o solo úmido é mais barato e menos requisitado.
“A costa leste da Flórida está mudando rumo ao desenvolvimento”, segundo Dan Gunter, diretor-executivo do Departamento de citricultura da Flórida, a agência que cuida do comércio e das pesquisas na citricultura.
O valor da terra onde estão localizados os pomares na parte central da Flórida era de US$ 6.409 por acre em 2004, segundo um estudo do professor John Reynolds da Universidade da Flórida. Em contrapartida, o valor da terra ocupada por alguma atividade agrícola que seria loteada ou vendida para empresas variava entre US$ 36.250 e US$ 62.500 por acre, dependendo de sua proximidade em relação aos grandes centros.
Por esse motivo, muitos citricultores com duas ou mais gerações de tradição no setor estão vendendo suas terras, que estão sendo transformadas em empresas, indústrias ou condomínios residenciais.
Em algumas partes,as incertezas do setor são sentidas em maior intensidade do que em outras. No departamento de Ciências de Citricultura e Horticultura do Florida Southern College, que é a única faculdade dos EUA a oferecer o curso de Produção de Citros, a pressão é enorme.
Nos anos 80, o programa tinha entre 20 e 25 formandos a cada ano. Este número caiu para 15 a 20 em meados dos anos 90 e, este ano, apenas cinco alunos se formarão no curso. A falta de alunos obrigou a faculdade a eliminar o curso de marketing em citros.
Apesar de acreditar que a citricultura não irá acabar, professores e alunos do Florida Southern têm observado o crescimento espantoso das áreas residenciais em locais onde havia fazendas produtoras de citros inicialmente.
O diretor do Instituto de Citros da instituição, G. Timothy Hurney Jr., afirma que os alunos são treinados a aplicar seus conhecimentos em outras áreas da agricultura, a fim de ampliar suas possibilidades de conseguir emprego.
“É difícil lidar com um setor que está tendo dificuldades”, declarou Hurner. “Cancro, greening, o crescimento da urbanização. Tudo está acontecendo ao mesmo tempo. Assim é fácil fazer previsões pessimistas para o setor”.
A indústria, no entanto, ainda consegue algumas vitórias. A safra pequena impulsionou uma alta nos preços do suco de laranja que atingiu os mais altos patamares dos últimos sete anos. No início do ano, o Departamento de Comércio dos EUA aprovou um pedido dos citricultores da Flórida que exigia uma tarifa de até 60% para a importação do suco de laranja brasileiro, que segundo eles, estava sendo comercializado a preços excessivamente baixos, impossibilitando a competitividade.
O aluno do curso de Produção de Citros do Florida Southern College, Justin Pettit, declarou ter procurado uma empresa de paisagismo para garantir um emprego após a graduação.
Segundo ele, “todos estão preocupados no momento. Ninguém sabe o que vai acontecer no futuro e algumas pessoas não entendem por que eu estou fazendo esse curso”.
(Crédito: Mike Schneider – The Associated Press)