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Doença e preço reduzem safra de laranja

30 de novembro | 2010

Na região de Ribeirão Preto, produção deste ano cai 17,5% em relação à de 2009; no Estado, queda é de 11,7%

Pés produtivos são arrancados devido a doenças; produção cai e espaço é ocupado pela cana-de-açúcar

VENCESLAU BORLINA FILHO
DE RIBEIRÃO PRETO

O que era um temor do setor citrícola se confirmou: a produção de laranja na região de Ribeirão Preto recuou 17,5% na atual safra em comparação à anterior. A região é o maior parque citrícola do Estado de São Paulo, com cerca de 30% da produção. Houve queda também no Estado, mas em proporção menor: 11,7%. Isso ocorreu, principalmente, por causa da erradicação de pés em produção devido ao surgimento de doenças como o “greening”.

Também influenciou a desistência de produtores, desestimulados com os baixos preços da fruta.

Nos seis EDRs (Escritórios de Desenvolvimento Rural) da região, o total de pés em produção foi de 66,83 milhões na safra 2009/10, ante 68,99 milhões da safra anterior. Os dados são do IEA (Instituto de Economia Agrícola), órgão da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento.

Essa diferença, de 2,15 milhões de pés, significa que, por dia, 5.902 pés de laranja deixaram de produzir na região. A queda foi de 17,5%, passando de 109,24 milhões de caixas de 40,8 quilos da safra anterior para 90,12 milhões na atual. No Estado, a produção caiu de 360,78 milhões de caixas para 318,63 milhões (11,7% a menos). São Paulo responde por cerca de 80% da produção nacional.

No EDR de Barretos, maior produtor do Estado por incluir Bebedouro, a queda foi de 3,48%. Só para ter uma ideia, na área quase 1 milhão de pés de laranja foi arrancado entre uma safra e outra.

Para a pesquisadora do IEA Priscila Fagundes, a redução ocorreu por causa da contaminação dos laranjais pelo “greening” e por outras doenças cítricas, como a tinta preta e a estrelinha. “Os problemas sanitários, associados aos problemas climáticos ocorridos na safra, geraram a redução na região.” Priscila afirmou que o aumento nos custos de produção também levou citricultores a desistir da atividade.

ESPAÇO PARA A CANA

Foi o que aconteceu com Otto Henrique Mahle Neto, 36, de Bebedouro. Seu avô, Otto Henrique Mahle, já foi considerado o maior produtor de laranjas do mundo, ao colher 1,5 milhão de caixas nas décadas de 1950 e 1960. Atualmente, a produção da família não ultrapassa 300 mil caixas.

“Reduzimos a produção por causa da instabilidade da laranja. O surgimento das doenças e a falta de controle, além do preço ruim, desestimularam nossa produção e resolvemos migrar para a cana-de-açúcar. Hoje, temos 60% de cana e o restante de laranja”, disse. Para o presidente da Associtrus (Associação Brasileira de Citricultura), Flávio Viegas, a desvalorização da laranja pela indústria é a principal causa da redução do plantio na região. “A indústria impõe um preço muito baixo, que, diante dos custos de produção, acaba inviabilizando a produção”, disse.

Como agravante, ele cita a presença das doenças nos pomares. “O governo tem de atuar contra tudo isso, para que a citricultura não sofra ainda mais prejuízos como os registrados atualmente”, afirmou Viegas.

O presidente do Sindicato Rural de Bebedouro, José Osvaldo Junqueira Franco, faz coro aos colegas: a ocorrência de doenças nos citrus e os baixos preços de mercado desestimulam os produtores.

Na cidade, segundo ele, a laranja deixou de ser a principal cultura para dar espaço à cana-de-açúcar. “Tínhamos 45 mil hectares de laranja em produção. Agora, esse número não passa de 17 mil hectares”, disse.