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Endividamento dos citricultores
26 de fevereiro | 2010
O endividamento dos citricultores é decorrência da atuação do cartel e da impunidade oferecida pelas nossas instituições aos ricos e poderosos e, por isso, precisamos exigir do governo uma renegociação da dívida, de modo a enquadrá-la dentro da capacidade de pagamento dos citricultores.
Isso somente será conseguido se houver uma ampla movimentação dos citricultores e um grande apoio político de prefeitos, vereadores, deputados, senadores e governadores, o que é factível embora não seja fácil, principalmente por falta de comprometimento de grande parte dos citricultores, que acham que vão beneficiar-se dos resultados do empenho de uma minoria. O fato é que, se não houver o engajamento da maioria dos citricultores, as chances de sucesso são ínfimas.
Embora estejamos engajados na busca de solução para o problema há muitos meses junto ao ministério da agricultura, do congresso, do Banco do Brasil, percebemos que o problema é político e só através de uma ação política muito bem organizada vamos poder avançar.
O evento de 26 de fevereiro de 2010, que reunirá citricultores de todo o país para debater o problema e as perspectivas para a citricultura brasileira, é mais uma etapa desse processo que precisa transformar-se numa mobilização permanente em defesa dos citricultores.
A renegociação da dívida deve ser vista com uma parte do problema, centrado na cartelização do setor industrial, que impôs preços e condições aviltantes aos produtores e disto decorreu uma brutal transferência de renda dos citricultores para a indústria, endividando-os e empobrecendo-os.
O registro do suco exportado abaixo do custo de produção foi usado como justificativa para a baixa remuneração dos citricultores, serviu como estratégia de concentração do setor e barreira de entrada para novos concorrentes, propiciou um acúmulo enorme de recursos no exterior, livres de impostos e que vêm entrando no país sob forma de empréstimos e são usados juntamente com os recursos expropriados dos citricultores na implantação dos pomares próprios da indústria, que utiliza sua produção própria para reduzir ainda mais o preço da laranja, num círculo vicioso infernal!
Estima-se que a indústria, que detinha menos de 5% do parque citrícola no início da década de 90, por ocasião do início do processo de cartelização, detém hoje cerca de 50% do atual parque citrícola, o que equivale ao plantio de cerca de 90 milhões de árvores e um investimento de cerca de US$ 4 bilhões. É importante notar que o parque citrícola paulista se manteve praticamente constante, o que significa que cerca de 90 milhões de árvores de citricultores independentes foram “transferidas” para a indústria nesse processo.
A esse investimento precisamos somar os investimentos na aquisição de concorrentes no Brasil como Cargill, Sucorrico , Kiki entre outros, e no exterior, onde adquiriram cerca de 50% da capacidade de processamento da Flórida, ampliações de fábricas, investimentos no sistema de armazenamento, transporte e distribuição de suco a granel, entre muitos outros.
As estimativas mais conservadoras indicam que os citricultores perderam, nos últimos 15 anos, mais de US$ 10 bilhões, em decorrência da baixa remuneração da laranja, sem incluir aí os custos indiretos da transferência da colheita e frete para os citricultores, os aumentos de custos financeiros decorrentes da mudança de forma de pagamento da laranja e do retardamento da colheita, que representaram ganhos para a indústria. A esses ganhos a indústria somou grande parte dos cerca de US$660 milhões anuais, que representam a média das diferenças entre os valores de registro do preço do suco nos portos brasileiros e o seu valor de mercado.
Embora muito do que foi descrito aqui já tenha sido abordado em outras oportunidades, é preciso que este tema seja relembrado exaustivamente, até que as autoridades se decidam por tomar as medidas necessárias para coibir a atuação criminosa desse cartel e mostrar que há meios para impedir a indústria de exportar nosso patrimônio e gerar o caos econômico e financeiro para os citricultores e os municípios citrícolas voltem a gerar e distribuir riqueza como nos anos 80.
O endividamento dos produtores não é decorrência da incompetência dos citricultores nem decorrência das forças de mercado, mas da atuação deliberada do cartel que visa, através dos baixos preços, a expulsar os pequenos e médios citricultores, expropriar seu patrimônio, para aumentar seu controle sobre o mercado de suco de laranja. O governo é co-responsável por esta situação, por não reprimir a ação ilegal. O produtor não pode ser condenado a pagar mais uma vez essa conta.
Crédito:Associtrus