Notícias
Últimas Notícias
Erradicação por Cancro revolta Citricultores.
10 de março | 2008
Pequenos citricultores do interior de São Paulo fecharam com máquinas e tratores as principais ruas da cidade de São Francisco, a 606 km da capital, na manhã deste sábado. A manifestação foi para anunciar que, a partir de agora, os plantadores de laranja não deixarão mais que técnicos da Secretaria da Agricultura entrem nas propriedades para cortar pomares saudáveis que estão próximos de plantas infectadas pelo cancro cítrico.
Ao contrário de outros Estados – como Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Paraná, onde apenas a planta contaminada é retirada – em São Paulo plantas e até pomares inteiros são erradicados por estarem próximos da planta contaminada.
Uma resolução estadual determina que toda planta num raio de 30 metros de uma contaminada tem que ser cortada. Se houver três plantas contaminadas o pomar inteiro é cortado e queimado e a propriedade, interditada.
Na região de Jales, a 585 km da capital, onde há cerca de 6 mil pequenos produtores de laranja, centenas de pomares saudáveis, em plena produção, foram erradicados nos últimos meses, causando prejuízos milionários, que não são ressarcidos pelas autoridades.
“Tive um prejuízo de R$ 2 milhões. Eles erradicaram 12 mil plantas saudáveis, mas perdi a produção de outros 21 mil pés porque a propriedade foi interditada e não pude vender a laranja, que apodreceu nos pés. Como a plantação estava financiada, só consegui pagar a dívida porque vendi 30 dos 100 alqueires da minha propriedade”, contou o citricultor Norberto Ártico. Segundo ele, “o governo deveria fazer como no caso da febre aftosa, em que mata o gado, mas ressarci os pecuaristas dos prejuízos”.
Ameaças
“Este absurdo não vai mais acontecer, eles terão de nos prender e levar a todos para a cadeia, mas não vão entrar para cortar pés saudáveis”, afirmou Liberato Caldeira, presidente da Associação dos Municípios do Oeste Paulista (Amop), após encontro que reuniu 250 pequenos e micro-citricultores na Câmara Municipal de São Francisco.
“Nesta segunda-feira vamos enviar ofícios ao governo do Estado, à Secretaria da Agricultura e ao Fundecitrus anunciando que não vamos permitir esse extermínio de plantas saudáveis, que só acontece em São Paulo”, completou.
No documento, os citricultores voltam a pedir ao governo a revogação da resolução estadual que estabelece os critérios para controle do cancro nas propriedades, mas afirmam que esse controle só é feito nas propriedades pequenas. “Nas grandes, os técnicos não entram e o controle é feito pelos próprios fazendeiros, que retiram os pés contaminados às escondidas”, comentou Caldeira.
O coordenador estadual da Defesa Sanitária, Cláudio Alvarenga de Melo, disse o governo não quer o confronto, mas se os técnicos sanitários forem proibidos de fazer o trabalho, a Coordenadoria de Defesa Sanitária deverá recorrer à esfera judicial. “O Estado não pode se omitir nesta situação e vai deixar bem claro esse procedimento”, afirmou.
Segundo Melo, a Secretaria da Agricultura estuda, a pedido dos citricultores feito em 20 de fevereiro ao secretário da Agricultura João Sampaio, a possibilidade de rever a legislação sanitária sobre o controle dos focos do cancro.
“Uma comissão formada por técnicos estuda a viabilidade dos ajustes e possível alteração da legislação”, disse. Mas a comissão, segundo Melo, precisa de uma manifestação da Comissão Nacional de Erradicação de Cancro Cítrico, do Ministério da Agricultura.
Melo explicou que cada Estado adota uma estratégia para controle da praga, por isso, alguns decidiram extinguir apenas a planta contaminada, enquanto São Paulo opta por um controle mais rígido.
De acordo com Melo, o Estado costura um seguro agrícola para tentar indenizar os produtores de laranja. Segundo ele, a intenção é estabelecer prêmios subvencionados pelos governos estadual e federal para indenizar propriedades que sofrerem incidência da praga, numa tentativa de minimizar os prejuízos.
Chico Siqueira
Direto de São Francisco
Fonte: Redação Terra