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Geada na Califórnia é Ouro para os Citricultores da Flórida

24 de janeiro | 2007

Por Kevin Bouffard
The Ledger 17/1/07

Lakeland ? No ano passado, os citricultores da Flórida temiam não ter mercado para suas laranjas e tangerinas no mercado de fruta fresca, por causa de uma quarentena imposta em função do cancro cítrico. Agora, uma devastadora geada que destruiu cerca de 75% da safra de citros na Califórnia abriu novos mercados para a laranja fresca para os citricultores da Flórida, transformando, talvez, uma safra que já era lucrativa em uma safra de lucros fenomenais.

As autoridades que cuidam dos citros na Califórnia estimam que as perdas superem US$ 1 bilhão. ?Nós, agora, esperamos um grande aumento na demanda para nossas laranjas e tangerinas?, diz Dennis Broadaway, o executivo-chefe da Haines Citrus Growers Association, que opera o segundo maior packing house da Flórida. ?Nós temos ainda muita fruta para ser colhida. Devemos ter fruta suficiente para abastecer o mercado de fruta fresca?.

Tom Spreen, um dos mais importantes economistas de citros, compartilha com o otimismo de Broadaway. ? Vejo um grande aumento no preço para o produtor da laranja de mesa?, diz Spreen, o presidente do Departamento de Alimento e Recursos Econômicos da Universidade da Flórida, em Gainesville. Mercado de fruta fresca constitui-se na menor parte do setor de citros do Estado da Flórida, mas ele é mais rentável que o mercado de fruta destinada à produção de suco.

O setor de fruta de mesa da Flórida foi abalado o ano passado, quando o Departamento de Citros dos EUA impôs uma quarentena, que abrangeria todo o Estado da Flórida, por causa do cancro cítrico e proibiu o embarque desse estado para dez outros estados e territórios produtores de citros, o que provocou a perda de mais de 5% dos tradicionais clientes do setor. A cada ano, mais de 95% da produção de laranja da Flórida vai para a produção de suco, assim como 60% da produção de grapefruit do estado. Nesta safra, o USDA projeta uma produção de 140 milhões de caixas de laranja e 26 milhões de caixas de grapefruit.

A citricultura na Califórnia é menor. Estima-se que a produção da safra 2006-2007 seria de 44,5 milhões de caixas antes da geada e praticamente toda a produção vai para o mercado de fruta fresca. Todos os outros estados norte-americanos produzirão apenas cerca de 2 milhões de caixas de laranja nessa safra. Assim, os compradores de fruta de mesa não têm outra escolha a não ser voltar-se para a Flórida.

Por causa da pequena safra da Flórida reduzida por duas estações de furacões, os preços das laranjas, tanto para a produção de suco quanto para o mercado de fruta fresca eram, até agora, na safra 2006-2007 os melhores das últimas décadas.

Os packing houses da Flórida receberam até o dia 7 de janeiro, 17 a 20% mais laranjas para o mercado de fruta fresca do que na safra passada, de acordo com o mais recente relatório do Citrus Administrative Comitee, uma agência federal que controla o mercado de fruta fresca do estado.

Spreen previu que a geada na Califórnia vai elevar os preços da laranja de mesa pelo menos em 15%.

?Isso não representa um mau preço?, disse Richard Kinny, o executivo-chefe da Flórida Citrus Packers, em Lakeland, que é o grupo que comercializa a produção de fruta de mesa do estado. ?Isso vai-nos ajudar a aumentar nossas margens de lucro.?

Se a geada na Califórnia tem algum efeito sobre o processamento de suco, ele ocorrerá quando os processadores e packing houses começarem a competir pelas laranjas tardias (valência) que serão colhidas a partir de março. ? No momento em que a geada atingiu a Califórnia, os produtores haviam colhido entre 25 e 30 % das laranjas mais precoces (navel)? disse Juke Chadwell, o gerente do Citrus Administrative Comitee, em Lakeland.

?Uma vez que as valências da Califórnia estavam ainda na árvore quando a geada atingiu o estado, eles provavelmente tiveram as maiores perdas?, diz Spreen. Antes da geada, o USDA estimava a safra de valência da Califórnia em 13 milhões de caixas. ?Os processadores da Flórida estavam oferecendo cerca de US$ 13,5 na árvore para a laranja valência antes da geada?, disse ele, ? e, assim mesmo, poucos produtores estavam vendendo?.

O preço da fruta na árvore representa o preço que os produtores recebem dos packing houses depois de deduzidos os custos de colheita, transporte e embalagem. Ficam a cargo dos produtores os custos de manutenção do pomar e outras despesas de produção.

Estatísticas preliminares do USDA indicam que na safra 2005-2006, os produtores receberam US$ 6,47 por caixa na árvore pelas valências para suco e US$ 5,00 por caixa para as valências de mesa. Os processadores pagam mais pelas valências porque elas são usadas no suco não-concentrado, a forma mais comercializada de suco de laranja atualmente.

?Assim, processadores e packing houses poderiam confrontar-se numa disputa em cima da safra de valência da Flórida, estimada em apenas 65 milhões de caixas nesta safra?, diz Spreen. ? Isto vai elevar ainda mais os preços ao consumidor do suco de laranja NFC e da laranja valência no mercado de fruta fresca?, diz ele.

?Vai ser um ano bastante caro para o consumidor?, diz Spreen. A boa notícia para os processadores e packing houses da Flórida é que o preço da fruta na árvore não vai dobrar. Broadaway e Spreen concordam, mas isso é apenas porque eles começaram em um nível muito alto esta safra.

?Mesmo com mais laranjas da Flórida indo para o mercado de fruta de mesa em vez do mercado de suco, isso não afetará significativamente a produção de suco?, diz Spreen. Isso pode significar cerca de 1 milhão de caixas de laranja desviadas para o mercado de fruta fresca. ?Um milhão não é muita fruta em relação ao que é processado. São apenas alguns milhões de galões?, diz Spreen.

As laranjas destinadas à produção de suco não podem ser desviadas prontamente para o mercado de fruta fresca, porque ele exige uma fruta de melhor aparência. Isto requer maiores cuidados no início da safra, o que os produtores de fruta para o mercado de suco não fazem por causa dos custos envolvidos.

?Embora a Califórnia produza cerca de um quinto da produção de grapefruit da Flórida, a geada também ajudará os produtores de grapefruit da Flórida, que viram seus preços despencarem nessa safra devido à queda do mercado de suco de grapefruit?, diz Spreen.

?Os consumidores, não encontrando laranjas ou tangerinas frescas, ou não querendo pagar seu preço, poderão recorrer ao grapefruit como alternativa?, dizem Kinney e Spreen. Broadaway, Kinney e Spreen baseiam suas previsões otimistas na história recente: a Califórnia sofreu outra devastadora geada em dezembro de 98 e a produção de laranja caiu para 36 milhões, uma redução de 48% em relação à safra anterior. ?O preço da laranja da Flórida mais do que dobrou na safra 98-99, atingindo US$ 9,40 por caixa?, diz Spreen. Isto, comparado com US$ 4,20 por caixa na árvore, na safra anterior.