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Indústria paulista de suco investe em outros Estados
08 de dezembro | 2006
Fernando Lopes
Garantir e elevar o recebimento de laranja para maximizar os ganhos decorrentes da disparada das cotações internacionais do suco. Na cadeia citrícola brasileira, esse é o principal desafio das grandes indústrias exportadoras da bebida.
Para cumpri-lo, as gigantes Cutrale, Citrosuco, Citrovita e Dreyfus já começaram a investir em Estados com pouca ou nenhuma tradição no ramo, historicamente concentrado em São Paulo, ao mesmo tempo em que acompanham o desenvolvimento do segmento em países como China, Índia, Costa Rica e México, à espera de oportunidades de negócios em novas fronteiras. “No país, a diversificação ocorre sobretudo na Bahia, Sergipe, Santa Catarina e Paraná. A indústria está deixando de ser paulista para se tornar nacional”, afirma Ademerval Garcia, presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Cítricos (Abecitrus).
Exemplo dessa tendência é o Grupo Fischer, que controla a Citrosuco – segunda maior exportadora de suco de laranja do país, atrás da Cutrale. Em outubro, como informou o Valor, a empresa acertou por três anos a compra da produção de 1,7 mil citricultores ligados à Coopercentral Aurora, cooperativa de Santa Catarina que saiu da atividade, para começar a processar laranja e fabricar suco também no Estado do Sul.
Garcia não revela planos individuais das empresas – até porque atualmente apenas a Cutrale segue associada à Abecitrus -, mas diz que as quatro grandes vêm acelerando seus trabalhos de prospecção fora do interior de São Paulo. Uma das opções que se mostram mais promissoras, conforme o dirigente, é o Vale do São Francisco, cuja fruticultura irrigada mudou para melhor o cenário para manga e uva e tem potencial para abrigar expressivo parque citrícola.
A migração das indústrias para outras regiões do país está relacionada à própria mudança do eixo de produção em São Paulo. Pressionados pelo avanço de doenças como morte súbita e greening nos tradicionais pomares do norte do Estado, empresas e produtores passaram a investir no centro-sul paulista, cujo clima mais seco contém a disseminação dos males, mas também exige aportes em irrigação.
Somados a outros custos sanitários derivados da mesma preocupação, as vantagens comparativas de São Paulo se diluíram, o que passou a estimular os investimentos em outros Estados. Nessa migração – que envolve transferência de tecnologia -, começa a ganhar força, na relação entre empresas e produtores, o modelo de integração difundido nas cadeias de carne de frango e suíno. Nele, as indústrias financiam os citricultores, garantem a compra da produção e tentam evitar, assim, problemas judiciais envolvendo contratos de fornecimento e autoridades antitruste.
Um suposto cartel entre as indústrias está sendo investigado desde 1999 a pedido de produtores paulistas, e o aprofundamento dessa investigação, neste ano, azedou de vez as relações na cadeia produtiva. Um acordo para o encerramento do processo chegou a ser alinhavado com as autoridades, mas o Cade decidiu vetá-lo.
Esses problemas na oferta são particularmente lamentados pelas indústrias porque há quase duas décadas as cotações do suco não estão tão altas no exterior. Em maio de 2004, a tonelada do suco saía por cerca de US$ 800, e hoje o valor se aproxima de US$ 3 mil. Com a Flórida – principal concorrente paulista – golpeada pelos furacões de 2004 e 2005, é consenso que o Brasil poderia aproveitar melhor a lacuna. Mas, com estoques apertados, os embarques do país somaram 1,08 milhão de toneladas de janeiro a outubro de 2006, 10% menos que no mesmo período do ano passado. Como os preços estão em alta, a receita aumentou 27,5%, para US$ 1,2 bilhão.