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Laranja em crise
08 de julho | 2013
Citricultores brasileiros enfrentam grandes prejuízos desde o ano passado e situação pode levar tempo para se reverter
Em Goiás, os citricultores estão desmotivados. Tradicionais produtores como o deputado federal Roberto Balestra, que entregou os pomares de laranja na Fazenda Limeira, em Inhumas, à sua filha Teresa Balestra, estão contando nos dedos que o ano passe logo. A expectativa é a de que, a partir de 2014, haja um equilíbrio melhor entre a oferta e a demanda da fruta.
Para a Citrus BR, a produção de laranja nesta safra será de 268,3 milhões de caixas contra 385,3 milhões de caixas da safra de 2012 e de 428 milhões de caixas na de 2011, no cinturão citrícola de São Paulo e do Triângulo Mineiro. Segundo os citricultores, os baixos preços pagos inviabilizam a produção. “Nós deixamos de colher laranja agora que irá fazer falta daqui a três anos. E nós não temos produtores que consigam aguentar até lá”, afirma a pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Margarete Boteon, bastante respeitada no segmento por suas opiniões.
Diante desse cenário, os produtores descapitalizados deixam gradual e rapidamente a atividade. O nível de endividamento é alto. Caso os preços não apresentem uma melhora, a expectativa é a de que os produtores venderão parte de seus patrimônios para pagar as dívidas. No último ano, 2.225 mil propriedades abandonaram o setor apenas em São Paulo, segundo dados da Coordenadoria de Defesa Agropecuária do Estado (CDA), órgão vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Migraram para a cana-de-açúcar ou grãos, como soja e milho.
Pelos dados estatísticos recentes, dentre as propriedades que deixaram a citricultura, “a maioria tem propriedades de pequeno e médio portes, com até cem mil plantas”. Margarete Boteon observa que no processo de erradicação dos laranjais se incluiu também limas e tangerinas.
Conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) a exportação brasileira de suco em junho recuou 19,77% em relação ao mesmo mês do ano passado. A exportação nacional de suco de laranja movimentou US$ 154,3 milhões em junho deste ano, queda de 12,13% ante os US$ 175,6 milhões faturados no mesmo mês de 2012 e de 14,7% ante os US$ 180,9 milhões de maio de 2013.
O preço médio por tonelada exportada de suco em junho, de US$ 1.119,90 foi 19,77% menor que os US$1.395,90 por tonelada de junho do ano passado e 5,79% inferior aos US$ 1.188,70 por tonelada de maio.
DIFICULDADES
No mercado de laranja in natura, produtores relatam dificuldades em realizar os trabalhos de campo devido às chuvas dos últimos dias em São Paulo. O interesse dos compradores, todavia, se mantém baixo e a quantidade ofertada se torna relativamente alta. A laranja pera teve média de R$ 6,51/caixa de 40,8 quilos, na árvore, na semana passada, recuo de 3,7% em comparação à média anterior.
A citricultura nacional alcançou ao longo do tempo posição de destaque graças à competência de toda a cadeia produtiva, conforme a Associação Brasileira de Citricultores, com sede em São Paulo. O patrimônio da estrutura formada ao longo dos anos soma hoje mais de US$ 2,2 bilhões só nos pomares. São Paulo está presente em mais de 300 municípios e é significativa também na Bahia, Goiás, Pará, Paraná, Minas Gerais e Sergipe.
O segmento movimenta US$ 10 bilhões por ano, gera 400 mil empregos diretos e 1,2 milhão de empregos indiretos, estando entre primeiros itens da pauta exportações “made in Brazil” com faturamento na ordem de US$ 1,4 bilhão por ano, pelos dados da Associtrus.
POSSÍVEIS OPÇÕES
Para fugir da situação adversa, a economista Margarete Boteon prega a busca de opções para a indústria. Em sua opinião, exposta ao lado de Fernando Perez Capello, Fernanda Geraldini Gomes e Mayra Monteiro Viana em publicação do Cepea, os desafios do citricultor brasileiro são muitos e, mais do que problemas conjunturais, como estoques e preços, “há graves problemas estruturais, em função da forte concentração das indústrias e da falta de mercado interno para o suco”.
Margarete Boteon e seus colegas acreditam que a situação tende a melhorar com a retomada das exportações para os EUA, que estão com pouco suco para abastecer o seu mercado interno, a consequente diminuição dos estoques, a valorização do dólar frente ao real, e a menor oferta de fruta nos próximos anos, em função da diminuição da produção tanto em SP quanto na Flórida.
O problema é o citricultor sobreviver até lá. “Não tenho dúvida de que se conseguirmos virar a esquina vamos voltar a ter uma citricultura que remunere novamente o citricultor”, afirmou, otimista, Maurício Mendes, CEO da consultoria Informa Economics FNP.
Mudanças
Os especialistas concordam em um ponto: vai haver mudanças no perfil do citricultor e no pacote tecnológico da citricultura. Devem se manter na atividade citricultores que produzem mais do que 100 mil caixas por hectare, que têm acesso a um maior nível de tecnologia e que sejam produtivos, colhendo, pelo menos, mil caixas por hectare. “Produtividade é a chave do negócio”, resumiu o consultor Leandro Aparecido Fukuda, da FarmAtac e do Gtacc, em recente reunião na 35ª Semana da Citricultura, recém-ocorrida no Centro de Citricultura do Institituto Agronômico de Campinas em Cordeirópolis (SP).
A preocupação generalizada é a de que a saída de inúmeras fazendas da atividade causa impacto não apenas ao negócio e ao patrimônio dos citricultores, há, ainda, os efeitos sociais e econômicos na região onde estão, em particular nos municípios que dependem muito da atividade agrícola e têm como principal cultura a laranja. É o caso da cana-de-açúcar na região de Santa Helena de Goiás, que expulsa os agricultores e criadores de suas terras.
O arrendamento para usinas de cana-de-açúcar é a opção da maioria dos produtores que erradicaram seus pomares, mas o efeito multiplicador da laranja para o município é “muito maior do que o gerado pela cana, especialmente para os municípios onde não há usinas”, expõem os especialistas da Esalq/Cepea.
E concluem o raciocínio: “O número de funcionários fixos nas propriedades com laranja (por hectare) supera em muito o de uma propriedade de cana-de-açúcar. Além disso, fertilizantes, defensivos e mudas de citros são adquiridos na própria região, o que permite fortalecer o comércio no município”.
Fonte: arquivo.dm.com.br