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”O Brasil chegou à maturidade”

02 de janeiro | 2008


Reportagem do jornal Los Angeles Times diz que depois de várias crises, a economia brasileira decolou



Chris Kraul, SÃO JOSÉ DOS CAMPOS



Durante anos, a piada no Brasil foi que a economia do País era a economia do futuro. A sombria conclusão, obviamente, era que o futuro nunca chega.

Finalmente, contudo, o futuro parece ser agora. Basta observarmos o Hangar F220 da Embraer, em São José dos Campos, no interior de São Paulo, onde a ambiciosa fabricante de aeronaves comerciais dá os retoques finais em uma dúzia de aviões a ser entregues a companhias ao redor do mundo, entre elas Northwest, Air Canadá, Tame (Equador) e Virgin Austrália.

Ou visitem a construtora Odebrecht, em Salvador. A companhia administra projetos de obras públicas internacionais no valor de bilhões de dólares, incluindo sua segunda ponte de US$ 1 bilhão sobre o Rio Orinoco, na Venezuela, e uma parte da expansão do Canal do Panamá.

E há a Petrobrás, a companhia petrolífera semi-estatal, cujos engenheiros têm lançado projetos de perfuração em águas profundas em lugares como Angola, Colômbia e Golfo do México. Em novembro, a empresa anunciou o que pode ser a maior descoberta de uma reserva petrolífera no mundo em 25 anos, no campo de Tupi, diante da costa brasileira. Se o projeto tiver sucesso, Tupi poderá colocar o Brasil no grupo dos grandes exportadores de petróleo.

Depois de vários ciclos de prosperidade e depressão nas últimas décadas, o Brasil vive o melhor crescimento econômico sustentado desde os anos 70. A sensação é a de que o País dobrou a esquina no caminho rumo à estabilidade. E a ascensão de companhias como Embraer, Odebrecht e Petrobrás é um fator importante na nova saúde fiscal do Brasil.

“A economia brasileira está provavelmente no seu melhor momento em 25 anos”, disse Paulo Levy, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), citando quatro anos de bom crescimento econômico.

As exportações de bens manufaturados e serviços deram equilíbrio à economia brasileira e ajudaram as reservas estrangeiras a atingir US$ 167 bilhões, o dobro da quantia de setembro de 2006. O País abateu sua dívida, baixou as taxas de juros e restringiu os gastos. O crescimento econômico será de 5,3% em 2007 – menor que os 5,7% do Hemisfério Sul, mas uma façanha para um país que, nos dez anos anteriores, teve uma expansão anual média de apenas 2,5%.

Os investidores estrangeiros perceberam isso, como mostra a alta de 43,65% do índice da Bovespa em 2007, o quinto ano de crescimento. É um ganho porcentual maior que o de Rússia, Chile ou Coréia do Sul, embora o crescimento do PIB do Brasil em 2007 vá ficar atrás do desses países. As companhias brasileiras promoveram um recorde de 100 ofertas públicas iniciais, o quíntuplo do ano anterior. Do dinheiro levantado, 70% vieram de estrangeiros.

“Isso é bom para as empresas brasileiras, pois é uma fonte de financiamento mais barato”, afirmou Reginaldo Takara, diretor do escritório em São Paulo da agência de classificação de crédito Standard & Poor?s. “Agora elas têm parceiros em vez de credores.”

A melhor impressão do investidor sobre o Brasil também é evidente nos US$ 30 bilhões que os estrangeiros canalizaram para companhias brasileiras no chamado investimento estrangeiro direto em 2007, um aumento de 60% em relação ao ano anterior. A enxurrada de dinheiro estrangeiro ajudou a duplicar o valor do real em relação ao dólar em quatro anos.

Outro grande impulso é a alta dos preços das commodities nos últimos anos. O Brasil é o maior exportador mundial de frango, café, açúcar, soja, carne e suco de laranja.

Grande parte do capital estrangeiro vem hoje de investidores que esperam que a dívida do país receba nos próximos anos o grau de investimento na classificação de grandes firmas, como a S&P, disse Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e hoje um executivo da companhia de serviços financeiros Rio Bravo, de São Paulo.

“Se as experiências de Rússia, Chile e México servem de exemplo, uma melhora na classificação impulsionará os preços das ações, os múltiplos preço-lucro e os ganhos”, afirmou Franco. “É isso que os investidores esperam.”

Fonte: O Estado de São Paulo – 2 de Janeiro de 2008

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