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O mercado e o Consecitrus – Entrevista com Flávio Viegas
14 de junho | 2013
Em sua palestra na 35ª Semana da Citricultura, em Cordeirópolis, dia 6 de junho, na sessão Economia II, o presidente da Associtrus, Flávio Viegas, abordou temas que há anos incomodam os produtores brasileiros e que, infelizmente, continuam sem respostas: há mercado para o suco brasileiro? Até que ponto as informações disponíveis são confiáveis? Existe crise de fato ou ela foi apenas fabricada? O Consecitrus é uma solução? Em entrevista ao Informativo Associtrus, Viegas avalia sua participação na Semana mais tradicional da citricultura brasileira.
Associtrus – Como avalia a participação da Associtrus na 35ª Semana da Citricultura? Viegas – A Associtrus é conhecida por seu forte posicionamento a favor da classe produtiva e por seus argumentos que, na visão da indústria, são sempre uma pedra no caminho, o que gera sempre discussão. Durante a palestra apresentamos dados consistentes sobre o real crescimento do mercado mundial de suco que atingiu em 2010 um valor de US$ 95 bilhões. Um crescimento de 32% em relação a 2006, segundo fonte Mintel. A redução da oferta proporcionou um crescimento de 180% no valor das exportações brasileiras de suco de laranja, entre as safras 2001/2002 e 2011/2012, enquanto os volumes exportados decresceram apenas 9% no mesmo período. A tendência, segundo dados da Coca-Cola, é de que a urbanização e o consequente aumento de renda nos países emergentes impulsione o mercado de néctar e refrescos à base de suco. A própria engarrafadora, em parceria com a Cutrale, investiu US$ 2 bilhões para apoiar o plantio de 25 mil hectares de novos pomares de laranja, na Flórida (EUA) e declarou que a indústria de citros é fundamental na construção de suas marcas de suco. Será que a Coca-Cola investiria no plantio de pomares se não houvesse mercado para o suco de laranja? O mercado de suco de laranja deve crescer 3% até 2030/31. O Brasil precisa crescer 1,9% para manter a sua liderança no mercado.
Associtrus – Faltam políticas públicas para proteger o produtor independente do avanço da verticalização da produção nacional de citros?
Viegas – Falta uma série de coisas mas, o principal, é a organização dos produtores brasileiros. Na Flórida, por exemplo, há um Departamento de Citricultura que se assemelha à uma Câmara Setorial, que possui um executivo responsável pela união de toda a cadeia citrícola da Flórida. Lá, a participação de membros de todos os setores é obrigatória, bem como a contribuição para que este Depto. realize todo o trabalho necessário para o setor como um todo. Para se ter uma ideia, hoje são investidos cerca de US$ 40 milhões só em marketing. A organização do produtor aliado ao envolvimento do Estado nesta questão é que dá esta força à citricultura da Flórida.
Associtrus – No cenário atual, o senhor acredita que a organização dos produtores seria capaz de reverter o quadro em que se encontra o setor produtivo da citricultura brasileira?
Viegas – A organização é o primeiro passo para mudar significativamente o quadro, afinal, pelo que percebemos, os governos estaduais e federal, não se envolvem mais intensamente com a questão da laranja, por conta da pressão econômica exercida pelas indústrias no próprio governo. Como não há pressão por parte do produtor, as indústrias ficam com o caminho livre e bloqueiam qualquer ação de proteção ao produtor. O governo tem tomado apenas medidas paliativas para minimizar o impacto e aceita as alegações não verdadeiras da indústria de que todo o problema é gerado por uma crise de mercado.
Associtrus – Quais as expectativas para a safra 2013/2014, principalmente, depois da divulgação divergente das estimativas de safra da CitrusBr e da Conab?
Viegas – Se a projeção da indústria, que é 30% menor que a da Conab, se confirmar, haverá importantes mudanças no setor com relação aos estoques mas, infelizmente, não acredito que se refletirá nos preços pagos pela caixa ao produtor. Quanto às divergências das estimativas, as atribuo há alguns fatores que já existiam no passado como a não atualização do parque citrícola, já que aparentemente houve uma grande erradicação no ano passado que ainda não foi contabilizada nas estimativas do IEA/Conab. Além disso, ainda não há uma estrutura adequada dos órgãos oficiais para fazer uma boa estimativa. O levantamento do IEA (Instituto de Economia Agrícola) engloba todas as variedades de laranja e muitas delas não participam do mercado de suco, daí as divergências. Mas, apesar de tudo, a estimativa do governo é imprescindível, porque não podemos ficar reféns só dos dados das indústrias.
Associtrus – E quanto aos contratos para a atual safra? A indústria já tem manifestado interesse pela fruta dos produtores independentes?
Viegas – Os preços deverão permanecer em níveis semelhantes aos da safra passada, ou seja, a indústria tem feito poucos contratos a preços baixos, entre R$ 6 e R$ 7. A Concentração e a verticalização permitem que as industrias imponham seu poder econômico e de mercado.
Associtrus – E o Consecitrus?
Viegas – Precisamos avaliar seus riscos e oportunidades em função do modelo a ser adotado. Como se sabe, há duas propostas em andamento: a da indústria interessada apenas em cumprir com as exigências do Cade e estabelecer um teto ao preço da laranja; e a da Associtrus, que propõe o restabelecimento do equilíbrio nas relações entre produtores e indústrias através da transparência nas informações, de um contrato equilibrado que assegure remuneração compatível com os custos e riscos da atividade e do restabelecimento da concorrência com a reversão da verticalização. O Consecitrus está no Cade, por isso, se o produtor conseguir se organizar, é uma oportunidade real para que seja construído o verdadeiro Consecitrus, afinal o Cade vai arbitrar esta questão e não permitirá abusos de nenhuma das partes. Em uma negociação você tem o que você conquista, não o que você merece.
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Fonte: Associtrus