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O Ministro da Fazenda não Compreende o Setor Sucroenergético
08 de maio | 2014
Marcos Fava Neves (24/04/2014)
Desperto para uma quinta-feira cheia de atividades, como quase todos os brasileiros da produção que lerão este texto. Tomo o café assistindo notícias da TV, que pela manhã concentram o show de horrores de ônibus queimados, caixas estourados, tiros dados e acertados, invasões, corruptos indiciados e outros brindes. Simultaneamente leio os jornais, começando pelo esporte, depois cultura, economia e termino na política, onde volta o show de horrores. Recorto algo para processar melhor e refletir, normalmente opiniões. Ainda gosto da leitura no papel.
Mas hoje travei na página B10 do Estadão, na matéria “Governo descarta aumentar 2,5% de etanol na gasolina”. Esta medida foi defendida na Carta de Campo Grande, com políticas públicas e privadas ao setor. Bem planejada, só traria benefícios econômicos, ambientais e sociais à sociedade, seja à Petrobras, à balança comercial, emissões de carbono, geração de empregos e à cadeia produtiva. Especialistas de universidades declararam não acreditar que carros antigos sofram com esta pequena adição.
Destacada na matéria, a frase do Ministro da Fazenda: “Sempre é possível aumentar, mas neste momento não estamos cogitando. Hoje a mistura é de 25% e nós agora estamos num período em que o etanol aumenta sua produção. Estamos começando a safra e vai reduzir o preço do etanol e também dos combustíveis”.
Primeiro, um pouco de humor… não é o etanol que aumenta a sua produção. Etanol não decide. Lembrei daquela frase clássica das mocinhas de Congonhas: “a aeronave que fará o voo estimou seu pouso” … ou “devido ao pouso tardio da aeronave, seu voo está atrasado” … Aeronave e etanol ganharam capacidade de decisão!
O Ministro talvez não perceba o dano feito à Petrobrás com esta política populista de preços de combustíveis e ao país na energia elétrica. Se muitos que entendem dizem que os combustíveis e a energia precisam subir, como ele diz que devem cair? Se cair o preço do etanol hidratado, este produto volta a dar prejuízo aos industriais e produtores, como nos últimos anos, e com isto endivida e sucateia mais ainda o setor.
Não se investe, tem menos açúcar, etanol e eletricidade, prejudica a balança comercial, abastecimento, inflação, aumenta a poluição, enfim… O Ministro também não viu que a seca deve quebrar parte da produção de cana, complicando o quadro.
Dane-se o setor de cana e o Brasil como potência bioenergética. O importante é cumprir a meta de inflação, às custas do produtor de cana, do industrial de cana e dos acionistas da Petrobrás para não prejudicar a eleição. 2015… dane-se.
Aí vem a Presidente da Petrobrás, na sabatina, dizer que faltam investimentos no setor de cana, que este é o problema, e que o preço da gasolina está adequado. O Ministro quer que os preços do etanol caiam e voltem a dar prejuízo, e a Presidente da Petrobrás diz que faltam investimentos na cana… Difícil entender a “graça” do raciocínio deste pessoal.
Mais saudável é não ver notícias pela manhã. Ai nosso dia rende mais e entramos no mundo encantado da gestão atual, onde tudo está lindo, tudo dá lucro, tudo dá certo, e onde os sonhos se tornam realidade. Mundo que só existe na cabeça deles, da imensa parte do Brasil bolsista que não lê, e em Orlando.
Marcos Fava Neves é professor titular de planejamento estratégico e cadeias alimentares da FEA-RP/USP). Autor de 25 livros publicados em oito países. Foi professor visitante da Purdue University (Indiana, EUA) em 2013.