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Para Associtrus, cartel “está pagando pra ver”
26 de janeiro | 2006
Entidade fez denúncia à SDE em 1999, e diz que mesmo assim fabricantes mantêm a prática
O presidente da Associação Brasileira dos Citricultores (Associtrus), Flávio Carvalho Pinto Viegas, afirmou ontem que a prática de cartel dos fabricantes de suco “é intencional”, ocorre seguidamente desde 1999 e as empresas denunciadas “estão pagando para ver”.
A associação foi uma das autoras da denúncia de formação de cartel contra as indústrias de suco, cuja investigação culminou com a operação para apreensão de documentos feita pela Polícia Federal.
“Essa prática é intencional e vem ocorrendo seguidamente desde 1999, quando fizemos a primeira denúncia”, afirmou Viegas. Ele lembrou de condenação ocorrida antes. “Em 1994, elas já foram condenadas por formação de cartel pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que optou por um acordo de cessação com um contrato de ajustes, mas elas criaram problemas adicionais e não cumpriram o acordo”, contou.
“Como as empresas continuaram com o cartel, decidimos em 1999 denunciá-las”, explicou Viegas. “Ainda tentamos dialogar para chegar a um acordo, mas elas disseram para a gente procurar nossos direitos.Procuramos, agora elas estão pagando pra ver.”
Segundo ele, a partir de 2005, com a venda da Cargill, negócio que criou uma concentração no setor, os citricultores reforçaram as denúncias à Secretaria de Direito Econômico (SDE). “Essas denúncias foram enriquecidas com outras de ex-funcionários demitidos de pequenas indústrias engolidas pelo oligopólio formado pelas grandes indústrias.”
De acordo com ele, as indústrias de sucos faziam reuniões nas quais eram traçadas as táticas de pressão sobre os citricultores. “Eram feitos contratos leoninos, unilaterais, que puniam sempre os citricultores.” Segundo ele, em muitos casos, os citricultores faziam uma carta pedindo às indústrias para pagar um preço menor pela caixa de laranja.
Viegas disse esperar que a investigação da PF force as empresas a parar de vez com a pressão sobre os citricultores. “Este cartel no preço fez com que 15 mil citricultores fossem expulsos da atividade desde 1999”, afirmou.
Cutrale condena operação
A Cutrale, de Araraquara, na região de Ribeirão Preto, considerou “agressiva, intimidatória e constrangedora, além de desnecessária”, a operação da Polícia Federal, terça-feira. Todos os funcionários do Centro Administrativo foram retirados do prédio por volta das 10 horas e não retornaram até o fim da tarde, quando terminou a operação. A PF apreendeu documentos e computadores que serão investigados pela Secretaria de Direito Econômico, do Ministério da Justiça. A investigação é de formação de cartel. Suspeita-se que várias empresas fizeram acerto de preços. A Cutrale negou que teria sido apreendida uma submetralhadora Uzi em suas dependências. Seus diretores teriam checado todo o material apreendido. A PF não se manifestou sobre a operação.
(Crédito: Chico Siqueira – O Estado de S. Paulo)