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Pesquisa na citricultura revela concentração econômica do setor

20 de outubro | 2005

As áreas produtivas de laranja do cinturão citrícola comercial brasileiro, nos Estados de São Paulo e de Minais Gerais, estão cada vez mais concentradas nas mãos dos grandes citricultores, entre eles, as processadoras de sucos. A constatação é de um estudo feito pela Valio Inteligência Competitiva e divulgado este mês no site do Instituto de Economia Agrícola (IEA).
Segundo o estudo, existem hoje cerca de 9,9 mil produtores no Interior Paulista e Sul do Triângulo Mineiro. Analisando um total de 280 milhões de plantas existentes no cinturão, 28,1% são cultivadas pelos grandes, proprietários de mais de 500 mil pés de laranja, que representam 0,3% do total de citricultores em atividade. Também foi apontada a possibilidade da concentração aumentar para 30,5%, já na próxima safra – 2006/2007.

Os considerados pequenos, que mantêm áreas com menos de dez mil pés e que representam 71% do total de produtores, são responsáveis por apenas 13,4% dos pomares. O restante, considerado médio, não foi avaliado.

Na avaliação do presidente da Associação Brasileira dos Citricultores (Associtrus), Flávio Viegas, o estudo comprova a tese que a entidade defende há anos. “A concentração do setor está cada vez maior, porque o pequeno produtor não tem condições financeiras de se manter na atividade”, afirma.

O cenário da concentração na citricultura, ainda de acordo com a pesquisa, pode ser percebido também no tipo de contrato firmado entre produtores e indústrias de suco. Cerca de 20% dos assinados nesta safra são de longo prazo, de até 20 anos. A tendência é que os prazos sejam ainda maiores na próxima safra, se aproximando dos 25%, de acordo com a pesquisa. Com esses contratos, as processadoras buscam garantia do fornecimento da fruta.

“Só quem tem muita laranja pode garantir produto por tanto tempo. O setor citrícola é muito rotativo, temos problemas com preços e com pragas e o pequeno produtor é o mais atingido”, adverte Viegas.

Analisando também um raio de cem quilômetros das regiões citrícolas – especificamente em torno das cidades paulistas de Uchôa e Bebedouro, o estudo detectou que 863 citricultores deixaram a atividade entre 2004 e 2005.

A Valio Consultoria acredita que praticamente 90% destes produtores migraram para cana-de-açúcar, que apresenta resultados lucrativos logo no primeiro ano.

Replantio

Outra avaliação da pesquisa mostra que dos 62 produtores da região de São José do Rio Preto, cujos pomares passavam por reforma, apenas cinco pretendiam continuar na atividade. Quanto à manutenção na atividade, 100% dos grandes produtores se mostraram dispostos a replantar as áreas com laranja, enquanto entre os pequenos este índice não chega a 5%.
“Este número é preocupante e comprova que os pequenos estão desiludidos com a laranja, principalmente por causa da baixa remuneração. A tendência é que eles sigam outros rumos no agronegócio”, analisa Flávio Viegas. Segundo ele, até o final desta safra, em todo o Estado, mais de mil citricultores deverão deixar a atividade por falta de condições financeiras.

Produtividade

A pesquisa indica ainda que os municípios de Limeira, Casa Branca, Mogi Guaçu e Itápolis são os que concentram os mais altos valores de pés em produção. Itápolis, inclusive, é o maior município citrícola do Estado. Já Araraquara, São Carlos e as cidades menores da região, como Gavião Peixoto, Américo Brasilense, Rincão, Santa Lúcia e Nova Europa, aparecem em destaque com plantas mais novas.

O presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Cítricos (Abecitrus), Ademerval Garcia, representante das indústrias, não foi encontrado para comentar a pesquisa.

Crédito – Fernanda Manécolo – repórter de Economia do jornal Tribuna Impressa