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Pressão nos EUA contra travas ao suco do Brasil.

25 de maio | 2007

A maior fabricante de suco de laranja dos Estados Unidos resolveu pressionar o governo americano para que as barreiras tarifárias que encarecem a importação de suco produzido no Brasil sejam removidas, em uma tentativa de vencer as dificuldades que as empresas americanas passaram a enfrentar nos últimos meses.

A produção de laranja dos EUA entrou em declínio há três anos e a indústria americana precisa importar cada vez mais suco de países como o Brasil para complementar sua produção e atender ao mercado interno, onde o produto brasileiro é misturado com o americano e distribuído com marcas locais.

No ano passado, a Comissão de Comércio Internacional dos EUA (ITC, na sigla em inglês) concluiu que a indústria brasileira estava prejudicando os produtores de laranja americanos ao exportar o suco com preços muito baixos. Por isso, a comissão mandou aplicar tarifas antidumping entre 9,73% e 60,29% sobre o suco brasileiro.

Há duas semanas, a Tropicana, fabricante de suco de laranja controlada pela Pepsi, pediu à comissão que reveja a decisão. A empresa argumenta que houve mudanças significativas no mercado desde o término da investigação que levou à adoção das tarifas. A ITC não tem prazo para se pronunciar sobre o pedido.

A produção americana de laranja ficou pequena para as necessidades das indústrias de suco por causa de uma sucessão de problemas. Os furacões que atingiram os EUA em 2004 e 2005 devastaram os pomares da Flórida, Estado que concentra a produção do país. Logo em seguida, o aparecimento de doenças obrigou os produtores a derrubar milhões de árvores.

Muitos decidiram deixar a atividade e venderam suas terras para empreendimentos imobiliários. O resultado foi um declínio acentuado da produção. As projeções mais recentes indicam que a Flórida produzirá 131 milhões de caixas de laranja neste ano, pouco mais da metade do que produziu na última safra antes dos furacões.

A redução da oferta fez dobrar os preços da laranja nos EUA. Os produtores da Flórida, autores do pedido que levou à adoção das sobretaxas aplicadas contra o Brasil, estão contentes. Mas os custos dos fabricantes de suco aumentaram muito, ao mesmo tempo em que eles se viram obrigados a recorrer a importações para suprir uma parcela maior de suas necessidades.

A decisão da ITC definiu uma tarifa diferente para cada indústria brasileira. A Cutrale, que é a maior produtora de suco do mundo e tem na Tropicana um de seus clientes, paga uma sobretaxa de 19,19% para entrar no mercado americano, o que reduz suas vantagens para competir com os produtores da Flórida.

Mas a demanda dos fabricantes americanos por suco importado cresceu tanto que os produtores brasileiros têm feito bons negócios apesar das sobretaxas. No primeiro trimestre deste ano, as importações dos EUA foram 54% maiores que no mesmo período no ano passado. O Departamento de Cítricos da Flórida estima que 28% do suco que os americanos vão beber neste ano virá de outros países.

Outra boa notícia para o Brasil é que a produção americana de laranjas não deve se recuperar tão cedo do tombo que levou. Geadas no início do ano prejudicaram os pomares da Califórnia, segundo maior Estado produtor dos EUA. Mesmo que os fazendeiros da Flórida voltem a plantar árvores agora, será preciso esperar anos para que elas dêem frutos.

Mas, nos últimos meses, apareceu um sinal preocupante. Outros países também estão sendo beneficiados pelos problemas da Flórida e a fatia do Brasil no mercado americano encolheu. No ano passado, o Brasil entregou 68% do suco importado pelos EUA. No primeiro trimestre deste ano, a participação diminuiu para 54%.

Os países que mais avançaram no mercado americano foram México, Costa Rica e Honduras. As exportações desses países para os EUA mais do que dobraram no primeiro trimestre. Eles têm uma vantagem que o Brasil não tem, acordos comerciais que lhes dão acesso preferencial ao mercado americano, sem o recolhimento de tarifas. Além das sobretaxas antidumping, o suco brasileiro concentrado paga tarifa de 7,85 centavos de dólar por litro para entrar nos EUA. Cálculos da embaixada do Brasil em Washington indicam que essa tarifa representou um acréscimo de 47,5% sobre os preços do suco brasileiro exportado em 2005.
Ricardo Balthazar
25/05/2007
Valor