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Produtor sem contrato recebe o dobro pela caixa da laranja.
16 de novembro | 2007
A quebra da safra de laranja em São Paulo, provocada pela estiagem de três meses nos pomares, já reflete nos preços da caixa (40,8 quilos) que bateram esta semana R$ 11,55, alta de 16,7% em relação aos valores médios negociados em outubro, segundo o indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP). O valor já equivale ao dobro do recebido pela maior parte dos citricultores do Estado, que tem contratos pré-fixados de US$ 3 a US$ 3,5 com as indústrias de suco. O atual câmbio, de R$ 1,74, faz com que a receita média por caixa do citricultor seja de R$ 6,10, o equivalente a metade do custo de produção, segundo Antônio Egídio Crestana, presidente da Câmara de Citros da Federação da Agricultura de São Paulo (Faesp).
A diferença – que se acentua na medida em que o dólar se desvaloriza – está provocando rompimentos de contrato unilaterais por parte do produtor e também pedidos na Justiça de renegociação de valores com as indústrias. “Eu vendo a R$ 6 e o meu vizinho, que está no mercado spot, está comercializando a R$ 12. Os produtores ficam tentados a romper contrato. Mas a nossa orientação é para tentar renegociar os valores”, diz Crestana que, apesar da orientação, informa que já há notícias de citricultores que nesta safra quebraram acordo.
Contratos de compra de caixa a valores entre US$ 3 e US$ 3,5 por caixa vigoram entre indústria e citricultor há cerca de três anos, segundo Flávio Viegas, presidente da Associação Brasileira dos Citricultores (Associtrus). “Há alguns acordos que valem por mais duas safras”, completa. Nesta queda de braço, segundo ele, a indústria se mantém irredutível. “Elas precisam entender que esses preços vão inviabilizar a continuidade da produção”, completa o dirigente da Associtrus. Há dois dias a reportagem tentar falar com a Associação Brasileira dos Exportadores de Cítricos (Abecitrus), mas não obteve retorno. Segundo cálculos da Faesp, o custo de produção está hoje em R$ 11 por caixa – operacional mais reposição de pomares. “Não incluímos aí custo da terra, nem depreciação”, lembra Crestana.
Segundo estimativa da consultoria FNP, apenas de 20% a 25% da laranja comercializada no Brasil são negociadas no mercado spot. “Apesar de o preço da fruta ter tido uma alta significativa, não traz muita receita ao produtor, pois trata-se de uma parcela pequena de beneficiados”, diz Maurício Mendes, presidente da FNP. Para Crestana, da Faesp, o volume de laranja negociada no spot é ainda menor, e representa de 5% a 7% da produção da fruta.
Uma das razões da alta de preços em novembro, segundo Mendes, é a produção menor que o esperado por conta da estiagem prolongada e da incidência de algumas doenças nos pomares. A estimativa era de que a produção brasileira de laranja – da qual o estado de São Paulo responde por mais de 90% – atingisse de 348 milhões a 350 milhões de caixas. O percentual de perda ainda não é consenso no mercado. Segundo a FNP, esse recuo na safra é de 5% a 10%. Nos cálculos da mesa de citricultura da Faesp, o percentual fica entre 15% e 20%. Além disso, segundo Mendes, o retorno das chuvas normalizou a oferta. “Se o tempo continuasse seco, a colheita teria que ser acelerada”.
Fonte: Gazeta Mercantil