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Editorial

Quanto mais as coisas mudam, mais tudo fica igual

20 de janeiro | 2015

Plus ça change, plus c´est la même chose.

O processamento da safra 2014-15 encerrou-se e caminhamos para uma nova safra.

Ainda não temos a estimativa oficial da próxima safra brasileira, mas as expectativas são negativas em razão do clima e dos baixos preços recebidos pelos produtores. A seca do ano passado e as altas temperaturas que vêm ocorrendo estão provocando abortamento de florações e queda de frutos, mesmo nos pomares irrigados.

O relatório do USDA publicado em 5/12/2014 estimava que aprodução brasileira de laranja seria de 400 milhões de caixas de 40,8 kg: uma redução de 13 milhões de caixas em relação à safra passada, se o clima se mantivesse favorável, o que não está ocorrendo até este momento. A estimativa considera uma produção de 285 milhões de caixas para a área comercial de São Paulo e o Triângulo mineiro, contra uma produção de 300 milhões de caixas na safra anterior. O relatório estima um processamento de 264 milhões de caixas, das quais240 milhões em São Paulo, e uma produção de 1010 mil toneladas equivalentes a 65º brix.

As exportações são estimadas em 1140 mil t. Teremos mais um ano de produção inferior às exportações, reduzindo o estoque, que era de 440 mil t em julho de 2012, para 107 mil t, valor muito inferior ao estoque técnico necessário de 350 mil t. Nas últimas quatro safras a produção brasileira ficou abaixo do exportado.

Apesar desses números, as processadoras continuam a pressionar os produtores, retardando as compras e sinalizando a continuidade dos baixos preços que vêm sendo praticados.

A argumentação para a manutenção da política comercial que já excluiu da citricultura paulista mais de 20 mil citricultores, destruiu 170 mil empregos diretos e produziu um enorme impacto econômico e social no interior do estado de São Paulo é a queda da demanda de suco de laranja no mercado norte-americano.

Esse argumento é falso, pois se a demanda norte-americana se reduziu em 36% desde a safra 2003-04, a produção da Flórida que abastece aquele mercado caiu 55% e o preço do suco ao consumidor subiu 42% no período. Como a produção da Flórida vem caindo(hoje sua produção está em 66% da demanda) e a necessidade de importação vem crescendo, tendo dobrado em relação a 2003-04 atingindo 334 mil t, aumentou a demanda de suco brasileiro. Estima-se que as exportações de NFC devam crescer 30% e de concentrado 6% na próxima safra.

Enquanto a perspectiva é de que o citricultor americano receba cerca de US$ 17 por caixa de laranja entregue na indústria, em São Paulo o produtor vem recebendo menos de US$ 4, sendo que os custos de produção em ambas as regiões são semelhantes, da ordem de US$ 10 por caixa.

Essa distorção decorre da excessiva concentração da indústria no Brasil- que vem sendo denunciada por cartel desde 1994-, da decorrente falta de concorrência e da verticalização. Hoje as processadoras já produzem mais de 50% da fruta que processam, o que lhes dá um enorme poder de mercado.

É preciso que o processo que se arrasta no CADE desde 1999 seja concluído e julgado para que se restabeleça a concorrência, revertaa verticalização e o poder de mercado, para que as distorções que estão destruindo este importante setor da economia brasileira sejam corrigidas e sirva de exemplo para outros carteis que se vem formando,encorajados pelos fabulosos ganhos que a cartelização vem propiciando aos seus participantes.

Flávio Viegas

Presidente da Associtrus