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Editorial
Quebra na safra de laranja e seu impacto no mercado de sucos
13 de agosto | 2018
A quebra de 35% na produção na Flórida, que abastece o maior mercado mundial de suco de laranja, os EUA, e uma quebra de 28% no Brasil, maior produtor e exportador mundial de suco de laranja, terá um grande impacto neste mercado. Cerca de 134 milhões de caixas deixarão de ser produzidas; a produção da Flórida, que na safra na safra 2003-04 foi de 242 milhões de caixas, terá na safra 2018-19 menos de 50 milhões de caixas, atingindo sua menor marca nos últimos 35 anos. A safra de São Paulo estimada em 228,29 milhões de caixas terá uma produção 10% inferior à média das últimas dez safras.
Ao que tudo indica, a quebra na produção do Brasil é decorrente de fatores climáticos, consequência da grande produção da safra anterior e, em menor escala, do avanço do greening e do cancro cítrico. No caso da Flórida a situação é bem mais grave: devido ao avanço descontrolado do greening, não há perspectivas de recuperação da produção nos próximos anos.
O USDA estima que a produção de suco em São Paulo ficará em 932 mil teq ( toneladas equivalentes a suco convertido em concentrado 66°Brix); adicionando-se à produção o estoque no Brasil da ordem de 160 mil t, teremos uma disponibilidade de 1192 mil t para atender a demanda. As exportações estão estimadas em 1107 mil t e a demanda no mercado interno de 40 mil t, o que reduziria os estoques no Brasil a 45 mil t em julho de 2019. Como a necessidade de estoque de passagem do Brasil é estimada em 300 mil t para manter o sistema logístico e a manutenção da qualidade, vemos que a relação entre oferta e demanda está extremamente justa e qualquer perda de produção ou de rendimento industrial poderá ter forte impacto no mercado.
O clima seco, que prevaleceu até o final de julho, atrasou o desenvolvimento das frutas que se apresentavam de tamanho reduzido e murchas. Espera-se que as chuvas deste início de agosto reduzam o impacto da seca e a quebra na safra.
Se a estimativa do USDA se confirmar, as exportações do Brasil estarão limitadas a 1107 mil t na safra 2018-19 ante 1151 mil t da safra 2017-18 o que representa uma redução de 44 mil t ou 3,74% na oferta, ante um aumento potencial da demanda dos EUA decorrente da quebra de produção da Flórida na safra 2018-19 de cerca de 98 mil teq 66°Brix.
A produção somada dos dois maiores produtores de laranja e de suco de laranja vem-se caracterizando por uma crescente volatilidade e redução. Estima-se que a produção apresentou uma tendência de queda de cerca de 3% aa e uma volatilidade de cerca de 20% entre safras na última década.
Os produtores norte-americanos têm sido atendidos por medidas protecionistas através do imposto de importação sobre o suco de laranja, incentivos governamentais e politicas das empresas no sentido de incentivar a produção com preços remuneradores. Na última década, o preço médio recebido pelos citricultores da Flórida foi de cerca de US$13,8.
No Brasil, os citricultores não contam com nenhuma política em seu favor; ao contrário, estão sujeitos ao oligopólio que controla o setor há décadas e vem-se apropriando da renda dos citricultores.
O preço médio recebido pelos citricultores de São Paulo foi de cerca US$5. Nada justifica o diferencial de preços entre as duas citriculturas, uma vez que o custo para levar o suco do Brasil para a Flórida é da ordem de US$1,2 por caixa mais o imposto de importação de US$ 1,73.
O poder econômico e político das empresas e a falta de organização dos citricultores explica o abandono dos produtores pelo governo.