A receita conjunta dos 20 principais produtos do campo nacional alcançará R$ 119,7 bilhões em 2008, 2,6% acima do montante previsto para 2007. As projeções de que a produção brasileira de grãos será em geral maior e mais valorizada na safra 2007/2008 deverão garantir a continuidade da recuperação da renda agrícola (da porteira para dentro) no País em 2008.
Levantamento concluído por José Garcia Gasques, coordenador de planejamento estratégico do Ministério da Agricultura, sinaliza que a receita conjunta dos 20 principais produtos do campo nacional alcançará R$ 119,7 bilhões em 2008, 2,6% acima do montante previsto para 2007 (R$ 116,7 bilhões, 11,6% superior ao do ano anterior).
É a primeira estimativa de renda agrícola do governo para o próximo ano. Foi finalizada a partir da publicação, em 8 de novembro, do primeiro prognóstico do IBGE para a safra de grãos que está sendo plantada – que indicou colheita de 137,1 milhões de toneladas em 2008, 2,9% mais que neste ano. O valor envolve apenas produção agrícola. Os demais elos das cadeias não são objeto do trabalho.
Os números de Gasques reforçam pelo menos duas tendências apontadas nos últimos meses. A primeira delas é que, se o clima não atrapalhar demais, será o segundo ano seguido de elevação da renda. Depois de subir entre 2000 e 2003, quando atingiu recorde histórico (R$ 128,8 bilhões) – em grande medida graças à guinada cambial de 1999, que estimulou as exportações -, a receita registrou quedas em 2004, 2005 e 2006, em razão de uma crise de liquidez e endividamento dos produtores de grãos, sobretudo soja.
A segunda é que a alta será mesmo puxada pela retomada dos grãos, já que a evolução da renda da cana, contínua entre 2005 e 2007, será interrompida. Estrela global em 2007, o etanol, no Brasil produzido a partir da cana, encara um período de crescimento da oferta e demanda internacional contida, ainda que no país o consumo deva continuar aquecido.
Para a soja, que não deixou de ser o carro-chefe do campo brasileiro mesmo com a crise recente, Gasques estima renda agrícola de R$ 28,2 bilhões em 2008, 1,4% mais que neste ano (R$ 27,8 bilhões, 17,8% mais que em 2006). É o maior valor desde 2004, mas ainda longe do recorde de 2003 (R$ 40,6 bilhões). As cotações da soja estão em picos históricos na Bolsa de Chicago (principal referência internacional para os preços do grão), e a colheita nacional deverá ser 1,8% maior em 2008 do que foi em 2007, conforme o IBGE. Segundo o ministério, no Mato Grosso, maior celeiro de soja do país, o produto deverá render R$ 6,7 bilhões em 2007, 6,3% mais que no ano passado.
Nos cálculos de Gasques, a receita da cana deverá estacionar, mas a matéria-prima para açúcar e álcool continuará perdendo apenas para a soja. A renda projetada para 2008 é de R$ 21 bilhões, 1,7% menor que a deste ano (R$ 21,4 bilhões, 11,5% mais que em 2006). Em São Paulo, locomotiva sucroalcooleira do País, a cana deverá gerar R$ 12 bilhões em 2007, 8,6% mais que no ano passado.
A receita do milho que só perde para soja e para a cana, tende a avançar pelo terceiro ano consecutivo, ainda embalada pela onda do etanol feito de milho nos EUA. O Ministério da Agricultura prevê R$ 16,5 bilhões para o grão no próximo ano, valor 2,5% superior ao estimado para 2007 (R$ 16,1 bilhões, 34,2% mais que em 2006).
Na quarta posição do ranking de renda de Gasques, a laranja deverá amargar mais um ano de queda, ainda que o mercado continue atraente apesar do recuo dos preços internacionais. O montante previsto para 2008 é de R$ 6,6 bilhões, 12% menor que o deste ano (R$ 7,5 bilhões, 10,7% abaixo de 2006). Em São Paulo, que abriga o maior parque citrícola do planeta, a receita deverá diminuir 16,4% em 2007, para R$ 5,1 bilhões.
Também se destaca no horizonte a projeção do ministério para a receita proporcionado pelo arroz. O valor previsto para 2008 é de R$ 6,2 bilhões, 10,7% superior ao deste ano (R$ 5,6 bilhões, mesmo patamar de 2006). A renda no Rio Grande do Sul, Estado que lidera o segmento, deverá atingir R$ 2,7 bilhões este ano, 3,6% menos que em 2006. |