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Resposta do PENSA.
25 de julho | 2007
Um Debate na Citricultura Marcos Fava Neves Frederico Fonseca Lopes Evaristo Marzabal Neves Vinicius Gustavo Trombin 1 – Introdução e Objetivos Em junho de 2007 ocorreu o lançamento do livro “Caminhos para a Citricultura” pela renomada Editora Atlas. O livro tem como autores os Professores e Pesquisadores da FEA-RP/USP, Marcos Fava Neves (Coordenador do PENSA), Frederico Fonseca Lopes e Vinicius Gustavo Trombin; da ESALQ/USP, o Professor Evaristo Marzabal Neves; do IEA, o pesquisador Antonio Ambrosio Amaro, e contando também como autor e na época Presidente do Instituto ICONE e professor da FEA-USP, Marcos Sawaya Jank, conduzido em junho passado à presidência da ÚNICA (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo). Tem prefacio escrito pelo Dr. João Sampaio, Secretário de Agricultura de São Paulo. O PENSA, que coordenou as pesquisas que resultaram no livro, é em sua essência um grupo que tem a responsabilidade de estudar a dinâmica do sistema agroindustrial, fornecendo subsídios à tomada de decisão e ao planejamento estratégico de organizações privadas e públicas. Nossas publicações são fruto de estudos de investigação séria e procuram mostrar caminhos para capacitar os agentes econômicos visando, sobretudo, a inserção e/ou manutenção da competitividade do agronegócio brasileiro. O PENSA se especializou em planejamento, seja para empresas ou sistemas (cadeias produtivas). O livro foi lançado na tradicional Semana da Citricultura, dia da Economia Citrícola, em Cordeirópolis. Escrito de maneira simples, direta e didática, o livro procura, nos seus 11 capítulos distribuídos em 100 páginas, falar sobre as contribuições da citricultura ao Brasil e sua história de sucesso, mostrar aspectos conjunturais atuais e tendências para cada elo da cadeia produtiva, discutir as importantes mudanças geográficas que esta vem passando em São Paulo, as mudanças tecnológicas que levam aos diversos tipos de citricultura, problemas e ameaças a cadeia produtiva, custos de produção existentes nas diferentes tecnologias, e, ainda, como caminham os relacionamentos entre produtores e industriais, aspectos da defesa sanitária, propondo, em seu final, uma agenda ou caminhos para citricultores e para a cadeia produtiva como um todo, visando, desta forma, contribuir de forma gerencial e profissional a manutenção da hegemonia mundial. É uma agenda arrojada e nova, estimulada pelo Governo, mas liderada e decidida pelo setor privado. O livro teve aceitação em seu lançamento na Semana, suas idéias foram discutidas ao longo do dia, e em seu primeiro mês, já alcançou, segundo a Editora Atlas, uma vendagem de aproximadamente 1.400 exemplares, o que é destaque para um livro técnico. Apenas no dia do lançamento foram vendidas mais de 300 unidades no Centro de Citricultura. Empresas adquiriram para seus funcionários, público participante do evento, citricultores, entre outros. Apesar de propor uma agenda positiva visando manter a liderança mundial, o livro recebeu críticas posteriores de duas importantes organizações setoriais: Associtrus (uma das representantes dos produtores) e Abecitrus (representante da indústria). Este artigo tem o objetivo de discutir as críticas feitas pela Associtrus, em carta aberta publicada em seu site, o que em nossa opinião contribuirá para o debate no setor e ademais, poderá servir de texto para discussão de estratégias em sistemas agroindustriais, grupos de interesse, visões e propostas. Para que o leitor possa acompanhar o debate, toma-se a liberdade de reproduzir a carta publicada pela Associtrus para, em seguida, debater os pontos colocados. 2 – Os Comentários Recebidos da Associtrus (www.associtrus.com.br) 06/07/2007 – Carta aberta ao PENSA A Associtrus considera que a indústria esmagadora de laranja está usando de maneira irresponsável e maliciosa os dados de investimento e custo de produção de um pomar citrícola publicados em Caminhos para a Citricultura, da Editora Atlas. O estudo tenta demonstrar que cerca de 20 a 25% dos pomares, provavelmente os pomares da indústria, que foram implantados com o dinheiro dos citricultores excluídos, têm a chamada “tecnologia ouro” e teriam os custos que a indústria tem divulgado. Há sérias dúvidas em relação aos números, uma vez que esses pomares são de implantação recente e seu histórico não permite uma boa avaliação de seu custo real. As doenças que vêm surgindo nas últimas décadas têm imposto custos e riscos não adequadamente avaliados e contabilizados nas planilhas de custo. Além dos gastos adicionais na implantação dos pomares, as doenças têm exigido replantios precoces de pomares e, em muitos casos, mesmo antes do início de produção, há perda de árvores e seu conseqüente replantio, a taxas que superam 1% ao ano. A vida útil dos pomares decresceu significativamente e aumentou o custo através de uma depreciação mais acelerada. Muitos produtores que são usados como exemplo de produtividade não contabilizam os plantios fracassados. Fazer análise de custo e dar depoimentos sem considerar que as doenças e pragas fazem parte da realidade econômica da citricultura e não têm caráter transitório e sim endêmico é uma atitude no mínimo leviana, pois induz ao erro o empresário que se baseia nas informações de instituições renomadas para implantação de seus projetos. Nem a indústria, proprietária dos pomares, é fonte confiável para levantamento de custos de produção de laranjas, dado seu interesse em comprar a laranja ao menor preço. Para dar credibilidade ao trabalho do PENSA, seria necessário que alguns pontos fossem esclarecidos: 1. Qual a produtividade e custo econômico médio de produção de laranjas no estado de S. Paulo? Por que os custos da CONAB, do IEA, da FNP e até as informações da FAESP indicam custos tão maiores que os custos do PENSA? 2. Qual a área, número de pés, produtividade média ao longo da vida útil e a idade média dos pomares que adotam a “tecnologia ouro”? 3. Quantas vezes, nos últimos 15 anos, estas áreas, com “tecnologia ouro” foram replantadas? 4. Qual o vínculo entre os proprietários dos pomares de altíssima produção e a indústria esmagadora? 5. Qual o percentual de pomares irrigados em S. Paulo? Qual a área de citros que poderia ser irrigada? 6. Por que mais de 20 mil produtores foram excluídos do setor? Eram todos incompetentes? O preço praticado pela indústria, nos últimos 15 anos, permitia manter os pomares e renová-los? Lamentavelmente o trabalho em discussão foi elaborado por técnicos competentes, porém sem nenhuma vivência na produção e comercialização de citros; acreditamos que as falhas apontadas devem ser creditadas às fontes de informação. Isto, no entanto, não exime o PENSA da responsabilidade de aceitar que suas informações sejam usadas para prejudicar os citricultores que lutam para sobreviver num mercado manipulado por quatro empresas, sobre as quais pesa uma série de denúncias de fraudes, cartelização e outras ilegalidades. Gostaríamos de convocá-los a justificarem as discrepâncias entre esse estudo e a planilha da Associtrus; dessa forma talvez possamos encontrar os reais caminhos para a citricultura. 3 – Comentários dos Autores sobre as Considerações da Associtrus Agradecemos à oportunidade de apresentarmos nossos argumentos e que somos uma instituição ética, sabendo ouvir críticas e de ter um caminho aberto para respondê-las. Como felizmente vivemos em um país democrático, somos totalmente a favor da liberdade de expressão, contanto que esta seja usada com responsabilidade, como sempre procuramos fazer em nossos estudos e pesquisas. Para confirmarmos nosso compromisso com a construção de uma sociedade evoluída e embasada no diálogo respeitoso, e por acreditarmos que a Associtrus também se fundamenta nestes mesmos princípios, seguem os esclarecimentos das dúvidas que nos foram passadas, dividindo-os em duas seções: a primeira, algumas discussões acadêmicas sobre a determinação de custos na agricultura, e, na segunda, a tentativa de respostas às perguntas formuladas pela Associtrus. 3.1 – Comentários Gerais sobre Custos de Produção na Agricultura Nos bancos escolares da universidade, nas aulas de economia e administração rural e agroindustrial, fica claro de que o tópico “Custo de Produção” é polêmico gerando muita controvérsia. Por quê? Porque não se tem uma única estrutura de calculo de custo podendo-se admitir que “são tantos os que estudam custos na agricultura, são tantas estruturas que se originam”. Por quê? Por exemplo, para a produção de milho são estabelecidos os mais diferentes tipos de sistemas de produção, que, por conveniência acadêmica e facilidades explanatórias são agrupadas em sistemas tecnológicos intensivos em capital (predominam mais intensamente componentes de capital nos ativos fixos e variáveis), em transição (quando há um misto de processos exigentes em capital e mão-de-obra) e trabalho intensivo (quando a mão-de-obra tem forte participação no processo produtivo – principalmente na colheita – ou se usam ainda processos produtivos com boa participação da força de trabalho humano e animal, característicos para pequenas propriedades ou em regiões de topografia acidentada ou, ainda, no setor hortifrutícola). Outro fator importante é o clima que vai impor as características sazonais de produção e estabelecer o uso estacional dos fatores de produção, que não se distribui de forma uniforme ao longo do ano, diferente do setor mecânico, automatizado, repetitivo e rotineiro no cotidiano industrial. Assim, a estacionalidade da produção, operando com seres vivos que “nascem, crescem e amadurecem”, impõe períodos diversos para a produção, caracterizados pelo plantio, tratos culturais e colheita em períodos compatíveis com as estações do ano. Neste caso, é estacional o uso dos fatores de produção (terra, trabalho e formas de capital) requerendo uma gestão eficiente no manejo e controle da produção, e, principalmente na gestão de seus ativos fixos evitando o desperdício e sua capacidade ociosa que sendo administrados de forma ineficiente tornam onerosos seus custos fixos médios (deseconomias de escala). Com características tão peculiares e “sui generis” é extremamente difícil determinar ou apresentar custos ou planilhas padronizadas da agricultura sem que envolva critérios pessoais. Daí que se pode gerar estudo de caso ou mesmo se estabelecer parâmetros médios quando se tenta trabalhar com amostras para compor planilhas de identificação de determinado sistema de produção. No caso da citricultura, estudo recente conduzido no Centro Apta de Citricultura, comparando estruturas de custo de instituições renomadas e reconhecidas, verificou que os custos não se equalizam e dão resultados tão diversos, dependendo de seus componentes, dos critérios e pressuposições simplificadoras, período de composição dos preços e das variáveis consideradas, entre outros. Do ponto de vista teórico, os custos de produção podem se decompor em custos variáveis (referentes à apropriação dos ativos variáveis e que se decompõem e “desaparecem” quando de seu uso) e custos fixos (referentes ao uso de ativos fixos que dependendo de sua categoria, tem vida econômica que se espalha por diversos anos). A apropriação dos ativos fixos depende de sua forma de uso: estoque, se usado na analise de investimento em bens de produção e com definido horizonte temporal de vida econômica, ou, em forma de fluxo, se utilizado em um corte seccional, como convencionalmente se utiliza na determinação do custo de produção anual, onde os ativos fixos entram na forma de depreciação, juros sobre capital investido, etc. Como o conceito de “custo de oportunidade” (custo do fator de produção em seu MELHOR uso alternativo) é fundamental e importante na elaboração de qualquer calculo de custo, é preciso definir claramente se está estimando, temporalmente, custo variável, ou custo operacional (metodologia desenvolvida pelo Instituto de Economia Agrícola) ou, ainda, custo total de produção onde são considerados os custos de oportunidade de todos os fatores de produção utilizados. Daí ser extremamente difícil a determinação de custo de produção na agricultura. Importante é deixar claro as variáveis que são consideradas, o período correspondente à geração dos coeficientes técnicos, seus custos e serviços temporais, o custo de oportunidade do dinheiro e do capital (taxas de juros, impostos etc), o sistema de produção e as pressuposições básicas e simplificadoras do modelo escolhido. Assim, para as condições estabelecidas e para o horizonte temporal do levantamento efetuado, pode-se definir um custo dentro dos critérios estabelecidos (se estudo de caso ou valores médios baseados em amostra ao acaso ou intencional, o uso de estatísticas como médias, intervalos de confiança, moda ou mediana etc). Em qualquer circunstancia, jamais ignorar que “cada produtor, um sistema de produção; cada sistema de produção, um custo de produção”. 3.2- Especificamente sobre as Questões da Associtrus. 1. a) Qual a produtividade e custo econômico médio de produção de laranjas no estado de S. Paulo? 1. b) Por que os custos da CONAB, do IEA, da FNP e até as informações da FAESP indicam custos tão maiores que os custos do PENSA? R: 1. a) A produtividade média no estado de São Paulo é de 612,89 caixas de laranja por hectare (no ano de 2005 foram produzidas 352.108.578 caixas numa área de 574.510 ha – IBGE, 2005). A produtividade média do Cinturão Citrícola Paulista é de 612,81 (351.075.956 caixas produzidas numa área de 572.898 ha – IBGE, 2005). A “Tabela 4.1 – Principais Indicadores do Cinturão Citrícola Paulista”, na página 43, apresenta o valor de 612 caixas/hectare. O custo operacional médio depende de uma gama elevada de variáveis, definidas como não-controláveis, quasecontroláveis e controláveis. Consideram-se entre as variáveis não-controláveis o câmbio, a oferta e a demanda de laranja, posicionamento estratégico das indústrias, o custo da terra, a pressão de pragas e doenças, as condições climáticas e custo do capital. As variáveis “quase controláveis” referem-se aos aspectos relacionados ao pomar, tais como, stand das plantas, espaçamento, produtividade e precocidade da produção (face ao stand ou a utilização de irrigação), material genético, coeficientes técnicos (freqüência das atividades), quantidade de recursos utilizados (máquinas, insumos e mão de obra), tecnologia empregada na aplicação dos insumos, rendimentos obtidos para execução das atividades, tamanho da propriedade (escala e escopo), dimensionamento dos recursos (principalmente pessoas e máquinas) e vida útil do pomar. As variáveis controláveis referem-se principalmente à gestão eficaz da propriedade, eficácia na aquisição de insumos e na comercialização da safra e destino da produção (este último fator interfere diretamente no tratamento fitossanitário), entre outros. No capítulo 7 “Custos na Citricultura e Mitos” são apresentados custos operacionais de produção de citros para diversos cenários, variando desde pomares irrigado e não irrigados até diversos níveis de tecnologia adotados. Não necessariamente estes custos são os custos médios praticados no Cinturão Citrícola Paulista. Uma observação importante é que estes custos são definidos como operacionais e não custo econômico, como mencionado na pergunta. R: 1. b) Os custos da CONAB, Revista Laranja e FNP são totais, ou seja, consideram outros custos além dos operacionais como investimentos, custo de oportunidade, depreciação, entre outros. Se for comparado apenas o custo operacional incluindo a colheita, como apresentado no livro, em relação ao custo estimado por essas respeitosas instituições, observa-se uma aproximação na obtenção dos resultados. Segue análise comparativa: Revista Laranja – Básico – R$3.103 PENSA – Tecnologia Bronze – R$3.541 PENSA Produção – Não Irrigada – R$3.641 PENSA – Tecnologia Prata – R$4.147 CONAB – R$4.453 PENSA – Tecnologia Ouro – R$4.430 PENSA – Produção Irrigada – R$4.767 Revista Laranja Ampliado – R$4.851 FNP – R$6.025 Observações: – A produtividade, como citada, é uma variável de interferência fundamental no custo operacional de produção unitário como pode ser demonstrado no exemplo, a seguir: um custo de R$4.000/ha e uma produtividade de 1.000 cx/ha, resulta num custo operacional de R$ 4,00/cx,enquanto que um rendimento cultural de 500 cx/ha perfaz um custo operacional de R$8,00 por caixa. – O estudo foi realizado há mais de 6 meses, portanto não foi considerado o recente impacto do greening, tanto na elevação dos custos como na possível queda de produtividade. 2. Qual a área, número de pés, produtividade média ao longo da vida útil e a idade média dos pomares que adotam a “tecnologia ouro”? R: Estima-se que entre 20 a 25% da área cultivada no estado de São Paulo adota a Tecnologia Ouro (Quadro 5.2, página 59). A produtividade média esperada ao longo da vida útil (20 anos) é de 680 caixas por hectare (ou 1,66 caixas/planta) para pomares não irrigados e 990 caixas por hectare (ou 2,63 caixas/planta) para pomares irrigados. Os pomares atingem o pico de produtividade nos anos 7 e 8. Nesta fase, os pomares não irrigados chegam a produzir 850 caixas por hectare e os irrigados 1.035 cx/ha, conforme demonstrado no Gráfico 7.7, página 80. As pressuposições utilizadas para os cenários são: – 50% do cultivar Pêra (espaçamento 6,5 x 2,8 metros); – 40% do cultivar Valência/Natal (espaçamento de 6,8 x 3 metros) – 10% do cultivar Hamlim (7,2 x 3,2 metros.) – Média de 514 plantas /ha. Obs: Para composição do custo operacional unitário, foi utilizada a produtividade para o cenário irrigado, uma vez que na região sudoeste apresenta produtividade semelhante sem uso de irrigação, de 988 caixas/ha (ver Figura 4.3, página 44). 3. Quantas vezes, nos últimos 15 anos, estas áreas, com “Tecnologia Ouro” foram replantadas? R: Acredita-se que todo ano ocorre o replantio nestas áreas à medida que são erradicadas plantas doentes. A renovação dos pomares não deve ter ocorrido, uma vez que os pomares que adotam esta tecnologia foram implementados nos últimos 10 anos. 4. Qual o vínculo entre os proprietários dos pomares de altíssima produção e a indústria esmagadora? R: Geralmente, os pomares mais produtivos são da própria indústria esmagadora, de grupos que adotam altas tecnologias e também de produtores individuais com plantios mais recentes, seguindo novos formatos. Estes estão descritos no capítulo 5 do livro. 5. Qual o percentual de pomares irrigados em S. Paulo? Qual a área de citros que poderia ser irrigada? R: No estudo realizado pelo PENSA para quantificar e caracterizar a cadeia citrícola, em 2003, foi identificado uma área de 1.365.407 ha perfazendo uma participação de 10,23% do parque citrícola. Estima-se que essa participação atualmente seja próxima a 20% em razão de novos projetos de irrigação bem como pela redução de pomares com vida útil avançada e sem o uso de irrigação. 6. a) Por que mais de 20 mil produtores foram excluídos do setor? Eram todos incompetentes? R: De acordo com o livro, página 69, “De modo geral, a queda na rentabilidade observada na primeira metade desta década, em função do aumento do custo de produção, da dificuldade de reinvestimento na formação de novos pomares, da baixa utilização de tecnologia e de gestão, resultou em baixa produtividade e alta incidência de doenças, e foi motivo da saída de citricultores. Aqueles que continuam precisam reduzir custo de produção por meio de incremento tecnológico, face as margens menores”. Como em qualquer setor, inclusive em outras cadeias fora do agronegócio, tem se verificado o crescimento de concentração nas atividades. Na citricultura, por se tratar de uma commodity, as margens são reduzidas e a escala é um ponto importante para se alcançar a competitividade. Portanto, o motivo não é incompetência, e sim um movimento de concentração que se tem percebido em todo mundo numa economia de mercado. Nossa recomendação para reduzir os efeitos da concentração vem sendo dada há mais de 10 anos. Permitam-nos, caros leitores, fazer referências para maiores interessados: Capítulo 7 do livro Gestão de Negócios em Alimentos, editado em 2000, pela Pioneira Thomson Learning, que trata da Concentração e como combater seus efeitos (autores Marcos Fava Neves, Sergio Lazzarini e Fabio Chaddad). Capítulo 23 do livro Agronegócio do Brasil, Editado pela Saraiva em 2006, que trata dos impactos da saída da Cargill da citricultura, e o capítulo 24, que propõe uma agenda para o setor, e, a página 119 que é bem ilustrativa sobre esse tópico (autores Marcos Fava Neves, Décio Zylbersztajn e Evaristo Marzabal Neves) O livro “Estratégias para a Laranja no Brasil”, editado pela Atlas em 2005, com diversos autores, mostra uma radiografia da citricultura propondo uma serie de ações. Nossa obra mais recente, também com diversos autores, editada pela Atlas, chama-se “Agronegócio & Desenvolvimento Sustentável: Uma agenda para a liderança mundial na produção de alimentos e de energia”. Nela, ficam descritas e evidenciadas diversas ações para que o agronegócio possa crescer de maneira sustentável e com inclusão social. 6. b) O preço praticado pela indústria, nos últimos 15 anos, permitia manter os pomares e renová-los? R: Sim, basta refletirmos quantos citricultores e grupos permaneceram e expandiram na produção, mesmo após a queda do período de auto-gestão dos contratos e no mercado desregulamentado. 7 – Lamentavelmente o trabalho em discussão foi elaborado por técnicos competentes, porém sem nenhuma vivência na produção e comercialização de citros; acreditamos que as falhas apontadas devem ser creditadas às fontes de informação. R: Quanto à vivência na produção e comercialização de citros, vale destacar que um dos autores trabalhou como gestor de produção citrícola por mais de 12 anos em um importante grupo citrícola, consultor de importantes empresas e é citricultor. Outro autor tem na sua origem e essência familiar a comercialização de citros, e um terceiro autor é um dos proprietários de um dos pomares mais modernos do estado. Outros autores estão por muitos anos estudando e participando de eventos da citricultura, principalmente nas áreas de economia da produção (custos, analise de investimentos em bens de produção, modelos em situações de riscos) e em atividades acadêmicas que tem aproximações com a exposição de estudos de gestão e economia citrícolas. Portanto, o comentário feito refletiu falta de pesquisa mais aprofundada do autor da frase, que poderia inclusive ter começado pelos currículos dos autores, na pagina 109. 8 – Isto, no entanto, não exime o PENSA da responsabilidade de aceitar que suas informações sejam usadas para prejudicar os citricultores que lutam para sobreviver num mercado manipulado por quatro empresas, sobre as quais pesa uma série de denúncias de fraudes, cartelização e outras ilegalidades. Gostaríamos de convocá-los a justificarem as discrepâncias entre esse estudo e a planilha da Associtrus; dessa forma talvez possamos encontrar os reais caminhos para a citricultura. R: O PENSA é uma das fontes de informações e análises deste setor, a nosso ver, muito bem coberto por outros grupos de extrema capacidade, tais como CEPEA, GCONCI, GTACC, IEA, UFSCar, entre muitos outros. Muitas das informações utilizadas em nossos estudos são apoiadas e referenciadas nestas instituições renomadas e merecedoras de credito e confiança. Acreditamos que todos devam ser utilizados em análises e julgamentos sobre o setor. O PENSA realiza sistematicamente workshops e palestras onde a Associtrus está presente e nunca se furtou do debate com esta importante organização. O PENSA propôs a Associtrus organizar um workshop de citricultores em julho de 2006, em Bebedouro, na fase final de elaboração das pesquisas, mas por motivos de agenda de seus diretores, este evento não foi possível, o que foi prontamente compreendido por nós. Fica também nossa recomendação que a Associtrus possa ler a obra em sua integra, e não apenas o capítulo de custos de produção, pois em seus 11 capítulos o livro propõe ações interessantes e amplamente discutidas com o setor privado. Os capítulos 10 (Agenda para o Citricultor) e 11 (Agenda 2015 para o Sistema Agroindustrial Citrícola) são aqueles que concentram nossas sugestões para que a Citricultura Brasileira possa manter a hegemonia mundial. Seria muito importante que a Associtrus abraçasse os pontos lá colocados, ou parte deles, como os caminhos ao citricultor (páginas 90 e 91), caminhos para a coordenação e contratos (páginas 94 e 95), caminhos para a inovação, pesquisa e desenvolvimento (páginas 98 e 99), caminhos para marketing, logística e canais (páginas 100 e 101). A citricultura tem um plano, ele precisa de implementação. Como fazer? Alguns direcionamentos e sugestões estão colocados no texto e foram apresentados, debatidos e referenciados no dia da Economia Citrícola (14/06/07) em Cordeirópolis. Tomamos a liberdade de trazer um comentário feito pelo renomado pesquisador Quaggio, do IAC, ao final: “nós precisamos implementar isto tudo que foi dito”. Este plano e estas ações são conhecidas da Secretaria da Agricultura, que fez o prefácio da obra. Ao contrário da carta da Associtrus e de “repercussões” entre citricultores que preferem se manter no anonimato e que vem sendo colocadas no site da Associtrus, nosso texto é assinado por Marcos Fava Neves, Frederico Fonseca Lopes, Vinicius Gustavo Trombim e Evaristo Marzabal Neves. Em virtude de estar em férias e licença prêmio, Dr. Antonio A. Amaro não foi consultado para esta resposta, e, em virtude de seus compromissos nacionais e internacionais, agora na importante posição de presidente da ÚNICA, assumida mês passado, preferimos não procurar o Prof. Dr. Marcos Sawaya Jank. Obrigado pela atenção.