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Suco: China e Índia expandem produção de laranjas

26 de setembro | 2006

Dois dos maiores países do mundo estão plantando laranjas para desenvolver uma indústria de suco: China e Índia. Dos seis maiores paises do globo – China, Canadá, Rússia, Estados Unidos, Brasil e Índia – dois são os maiores produtores mundiais (Brasil e Estados Unidos), dois não têm clima para essa cultura (Rússia e Canadá) e dois (Índia e China) estão investindo seriamente na criação de uma indústria competitiva de suco de laranja. A China já é, segundo a FAO, o maior produtor mundial de citros, embora só responda por 3% da produção mundial de laranjas. Mas, há 20 anos, respondia por 1% de um bolo muito menor. No período de 20 anos a China plantou macieiras, colheu as maçãs e se tornou o maior produtor mundial de suco de maçã, dobrando o tamanho do mercado mundial graças a preços baixos e notável agressividade comercial, praticamente aniquilando a concorrência das indústrias européias e americanas. Pode, portanto, fazer o mesmo com laranjas, que são originárias da China e cujo nome científico é Citrus sinensis. O plano oficial do governo é produzir, até 2020, o equivalente a 1,5 milhão de toneladas de suco concentrado, mais do que o Brasil produz hoje, embora a demanda doméstica prevista absorva esse volume e ainda mantenha a China, segundo eles, como importadora de 500 mil toneladas anuais do produto, do qual hoje compra menos de 100 mil. O mecanismo que está permitindo a esses países a implantação dessa cultura é o mesmo adotado pelo Brasil, nos anos 1960. Incentivo à produção rural por meio de um sistema de compra de fruta pelas indústrias com alta previsibilidade e divisão de riscos e ganhos, coroado com intenso trabalho das indústrias para criar, manter e desenvolver mercados. O Brasil criou o mercado Europeu e o Asiático para suco de laranja, a partir das barreiras comerciais impostas pelos Estados Unidos, que eram, na década de 1980, o único mercado do mundo e hoje representam pouco mais de 12% das nossas vendas. Mas há um outro fator muito relevante que está presente na Índia e na China e esteve presente no início do desenvolvimento da citricultura no Brasil. Uma ação de governo no sentido de unificar e impulsionar essas atividades. Ação essa que durou de 1961, a fundação da primeira indústria, a 1984, quando o governo deixou de intervir no setor e estabeleceu condições mínimas de negociação que eram revistas a cada ano pelos representantes das indústrias e dos citricultores e que davam previsibilidade aos agentes da cadeia produtiva. Em 1995, esse mecanismo foi extinto por determinação das autoridades que cuidam dos assuntos da concorrência, e o setor ficou sem regulamentação oficial ou privada, enfrentando os 10 piores anos de sua existência. Acusações de cartel promovidas por citricultores sem representatividade da classe e um governo sem os cuidados necessários ao analisar processos envolvendo grande número de empregos e divisas, causaram a ruptura do sistema, que dura até hoje. Não se prega a volta do intervencionismo do Estado, mas uma ação dos órgãos próprios do ministério da Agricultura visando dotar o setor dos mecanismos e da paz necessários ao seu desenvolvimento. Ignorar isto, neste momento, significa abrir os flancos à concorrência externa agressiva e competente e que vai inserir a laranja entre outros bens dos quais o Brasil já foi o maior produtor e hoje importa e protege com barreiras e subsídios, como a borracha, o café e o cacau. As mesmas barreiras e subsídios que tanto condenamos na OMC como apanágio da Europa e Estados Unidos. O setor precisa de paz e compete ao governo promovê-la, nos limites da lei, interessado que é num setor cujo PIB ultrapassa US$ 7 bilhões, gera exportações de mais de US$ 1,5 bilhão, mantém mais de 400 mil empregos e é, em muitos casos, a atividade mais relevante de 320 municípios paulistas e 11 de Minas Gerais. Se não se dispõe a isto, que pelo menos reveja sua postura de atribuir à indústria processadora as dificuldades do campo, no mínimo porque fomento agrícola, custo Brasil e cotação cambial não são assuntos que as indústrias possam resolver, vítimas elas próprias dos mesmos males. ÿs indústrias processadoras cabe adquirir matéria-prima no campo, pagar por ela, processá-la e criar mercados para o suco nos mercados internacionais.

Autor: Notícias CG
Crédito: 25/9/2006