Laranja azeda

13/12/2009


Volto hoje à década de 80, uma das mais prósperas na vida para os citricultores paulistas. Nevava muito na Flórida, nos Estados Unidos, e a quebra da produção jogou as cotações do suco congelado nacional para as alturas. Nessa mesma época partiam de Limeira para a América do Norte, com alguma frequência, inúmeros empreendedores, todos curiosos em conhecer os avanços tecnológicos in loco e ao mesmo tempo quantificar a safra dos nossos concorrentes. A explosão financeira foi de tamanho impacto que pouco tempo depois, no porto de Santos, a Citrosuco inaugurou imensos reservatórios para comercializar seus produtos, a partir daí, a granel, resfriados. Era o início de uma nova rota econômica fazendo prosperar ainda mais a indústria de transformação e, do ponto de vista imobiliário e do comércio de bens duráveis, Limeira conheceu anos de progresso e exposição nacional. O que não estava previsto é que essa capitalização fora desproporcional, ainda que os citricultores da época continuassem a soltar rojões até de madrugada. As indústrias de suco se tornaram mais fortes ainda, transformaram-se em enormes cartéis na década seguinte, explorando de maneira vil pequenos e médios produtores. O governo federal jamais tomou conhecimento disso. Deputados federais, cujas campanhas eram cobertas por essa gente, tanto no caixa oficial como no paralelo, nunca defenderam outros interesses que não fossem legitimar a desigual convivência entre exploradores e explorados. Mas, se existe uma característica interessante entre os citricultores, essa é a obstinação. O pensamento na melhora da próxima safra sempre os acompanhou e o resultado disso, no começo do terceiro milênio, foi esse: quem não vendeu suas terras às companhias de moagem arrendou-as para o cultivo da cana. Os sobreviventes, hoje, pagam para produzir. As pragas aumentaram, o dólar estacionou e os preços despencaram. Pois não é que de repente o acaso acaba de pregar uma peça enorme nos exploradores? As últimas informações dão conta que as vendas do suco de laranja despencaram quase 18% no mercado internacional e não em razão dos preços, mas devido à concorrência com outros produtos como águas aromatizadas, chás, refrigerantes alternativos e outras invenções gaseificadas. Eles vacilaram. Em outras palavras, as indústrias estão em maus lençóis. Se não fosse trágica essa história seria cômica, e dava até para dizer um “bem feito!” no final. A recuperação será lenta, se acontecer, e gostaria de viver para ver o que eles farão dessa vez. Boa sorte!

Roberto Lucato

Fonte: Gazeta de Limeira - 11/12/2009