Preço da laranja afeta difusão do greening dos citros

27/10/2011
Antonio Tubelis**

Os relatórios semestrais que o produtor de frutos cítricos é obrigado a entregar para a CDA (Coordenadoria de Defesa Agropecuária), da SAA (Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo), vão permitir esclarecer como ocorre a difusão do Greening dos Citros nas condições edafo-climáticas, de tecnologia de cultivo e de mercado, dentre outras, no Estado de São Paulo.

As informações fornecidas pelos produtores estão sendo armazenadas em computador e, quando forem analisadas, vão permitir saber como se dá a difusão da doença. No futuro, elas vão revelar o pôr que de as atuais práticas de controle da doença não estão produzindo os efeitos esperados (TUBELIS, 2009).

Como o armazenamento sistemático das informações é recente, é muito cedo para se chegar a alguma conclusão. Contudo, as primeiras informações sobre a citricultura paulista e sobre a epidemiologia do Greening no Estado de São Paulo já estão sendo divulgadas.

Com base nos relatórios enviados em 2010, o CDA/SAA constatou que havia 17.888 produtores, 19.152 propriedades e 239.244.729 plantas cítricas na citricultura paulista, no quarto trimestre de 2010 (MELO, 2011).

No que diz respeito à doença Greening dos Citros, verificou-se que 40,60% dos pomares estavam contaminados com a doença no primeiro trimestre de 2010. No segundo trimestre esse índice aumentou para 43,60%. Em continuidade, decresceu para 36,26% e 33,56%, respectivamente, no terceiro e no quarto trimestre de 2010 (MELO, 2011).


Figura 1. Pomares contaminados por Greening dos Citros no Estado de São Paulo, em 2010/11 (Fonte: CDA/SAA)


A contaminação de pomares por Greening apresentou tendência de alta entre o primeiro e o segundo trimestre, e tendência de baixa entre o segundo e o quarto trimestre, todos em 2010. O índice aumentou em +7,4% do primeiro para o segundo trimestre, diminuiu em -16,8% do segundo para o terceiro trimestre, e diminuiu em -7,4% do terceiro para o quarto trimestre.

Estas informações são muito importantes porque revelou, pela primeira vez, que a quantidade de pomares com Greening no Estado de São Paulo varia com a época do ano.

O autor deste artigo de divulgação é de opinião que a variação ocorrida é fruto de fatores como potencial de difusão da doença, práticas de controle da doença, manejo agronômico dos pomares, preço da caixa de laranja, e estímulos governamentais à produção, entre outros.

Como o bolso é o segundo ponto mais sensível do produtor, o preço da caixa de laranja deve ter contribuído sensivelmente para a variação da quantidade de pomares contaminados por Greening.

Em 2009 o preço pago pela indústria pela caixa de laranja era tão baixo que praticamente se igualava ao preço de colheita, mais carregamento e transporte da fruta para a indústria. O preço era tão baixo que equivalia ao produtor colocar praticamente de graça a sua produção no pátio da indústria de suco de laranja.

Revoltados com a situação, produtores em todas as regiões do Estado de São Paulo deixaram de colher seus pomares, os frutos se desprenderam dos ramos, caíram no chão e apodreceram no chão do pomar.

Essa situação perdurou até o primeiro semestre de 2010 e corresponde ao período de aumento na quantidade de pomares contaminados por Greening, mostrado na Figura 1.

De repente, em maio-junho de 2010, o preço da caixa de laranja apresentou forte alta e se aproximou do valor do custo de produção dos produtores independentes (ASSOCITRUS, 2010).

Este fato perdurou até o final da safra e corresponde ao período de queda no número de pomares com Greening ocorrido no terceiro e no quarto trimestre de 2010 (Figura 1).

O produtor de laranja aceitou de bom grado o preço praticado pela indústria e acreditou que iria se recuperar das dívidas acumuladas nos bancos. Contudo, no final de 2010, as indústrias de suco de laranja já noticiavam que não poderiam continuar pagando mais que R$11,00 pela caixa de laranja.

A anunciada queda de 22% no preço a ser pago pela caixa de laranja na safra de 2011/12 deve ter mexido de novo no bolso do citricultor. Prevendo a perda na receita, o produtor freou os investimentos na lavoura. Em conseqüência deste fato, o índice de pomares contaminados por Greening no Estado de São Paulo apresentou dois aumentos expressivos. A quantidade de pomares contaminados foi de 44,03% e de 48,06%, respectivamente, no primeiro e no segundo trimestres de 2011 (CDA/SAA, 2011).

Decorre do exposto que existe estreita correlação inversa entre o preço da caixa de laranja pago pela indústria e o número de pomares contaminados por Greening dos Citros no Estado de São Paulo.

Este fato revela que o preço da caixa de laranja pago pela indústria é uma variável que tem efeito direto na difusão do Greening dos Citros no Estado de São Paulo.

As informações publicadas pelo CDA/SAA também revelaram que a quantidade de pomares com Greening dos Citros aumentou entre 2010 e 2011. O aumento foi de 3,95%, do primeiro semestre de 2010 para o primeiro semestre de 2011.

Na hipótese de essa tendência de aumento no índice não apresentar alteração com o passar do tempo, todos os pomares do Estado de São Paulo estarão contaminados pela doença em 14 anos (até 2025), tornando mais difícil a sustentação econômica da Citricultura Paulista.

Por outro lado, o aumento na quantidade de pomares com Greening dos Citros no primeiro semestre de 2011 já era esperado, pois no início de 2011 deixou de existir um dos dois fatores que propiciaram queda na difusão do Greening dos Citros no 3º e no 4º trimestre de 2010 (TUBELIS, 2011).


BIBLIOGRAFIA
ASSOCITRUS. Planilha de custo de produção de laranja para indústria. Associtrus, Bebedouro, 2010. 5 p.
MELO, C.A. Números da citricultura no Estado de São Paulo. Disponível em http://www.centrodecitricultura.br. Acesso em julho de 2011.
TUBELIS, A. Greening dos Citros, prevenção e controle. Botucatu, 2009. 61 p.
TUBELIS, A. Queda na difusão do Greening dos Citros. Disponível em http://www.associtrus.com.br. Acesso em setembro de 2011.

** Consultor, Ex-Professor Titular da UNESP. www.pomarsadio.com